Após escolha do novo chefe da Casa Civil, Augusto Heleno deveria, em lapso de coerência, pedir demissão

 
O UCHO.INFO sempre afirma que no almoxarifado da política brasileira ao menos dois produtos jamais são encontrados: coerência e vergonha. Em 2018, durante convenção do PSL, o general da reserva Augusto Heleno, chefe do Gabinete da Segurança Institucional da Presidência (GSI) parodiou samba de Bezerra da Silva e cantarolou: “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”. Foi aplaudido pelos direitistas radicais que participavam do evento político-eleitoral.

Um dos militares-capacho que ocupam gabinetes no Palácio do Planalto e dedicam nauseante sabujice ao presidente da República, Heleno agora finge não ter disparado críticas ao Centrão, que manda e desmanda no governo sob o compromisso de não colocar em marcha um processo de impeachment.

Durante audiência na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, em maio passado, Augusto Heleno tentou sair pela tangente ao falar sobre a debochada investida contra o Centrão. “Sobre o Centrão, aquela brincadeira que eu fiz, foi numa convenção do PSL na época da campanha eleitoral. Naquela época, existia à disposição na mídia várias críticas ao Centrão. Não quer dizer que hoje exista Centrão, isso foi muito modificado ao longo do tempo”, disse o militar.

“Eu não tenho hoje essa opinião e nem reconheço hoje a existência desse Centrão. A evolução de opinião faz parte da vida do ser humano. Faz parte do show, do show político”, acrescentou o ministro.

Primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra, Winston Churchill disse certa feita: “Não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para melhor”. Heleno, ao que aprece, mudou de opinião a respeito do Centrão, mas para pior.

 
O Centrão, que troca apoio político no Congresso Nacional por cargos na máquina federal, liberação de recursos, verbas do orçamento secreto e outros malabarismos nada republicanos, conseguiu fazer de Jair Bolsonaro uma presa fácil. Refém do informal bloco parlamentar, o presidente cede cada vez mais à pressão dos integrantes da base de apoio do governo, mandando pelos ares as pretéritas críticas ao “toma lá, dá cá” e à “velha política”.

O próprio Bolsonaro, em 2018, referiu-se ao Centrão como “o que há de pior no Brasil”. Naquele ano, em postagem no Twitter, o então candidato à Presidência foi além em seus ataques ao agrupamento político que agora lhe protege: “O Centrão, em nome do patriotismo e da ética, contra Jair Bolsonaro. Tudo não passa de desespero ante a possibilidade de serem apeados do Poder”.

Na esteira da inoperância de um governo populista e autoritário, Bolsonaro viu-se obrigado a ceder às exigências do Centrão e confirmou o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, como novo chefe da Casa Civil. O futuro ministro, em 2017, chamou Bolsonaro de “fascista”.

“Ao Bolsonaro eu tenho muita rejeição porque é um fascista. Tem um caráter fascista, preconceituoso. É muito fácil você ir para a televisão e dizer que vai matar bandido, é muito fácil, mas isso não é para um presidente da República. O presidente da República é uma pessoa que vai cuidar de gerar emprego e renda, que vai cuidar da saúde, vai cuidar da infraestrutura, do saneamento. O Bolsonaro não tem a capacidade de fazer isso”, afirmou Ciro em entrevista à Meio Norte. “O melhor presidente da história desse país, principalmente para o Piauí e o Nordeste. Não me vejo numa eleição votando contra o Lula”, completou.

Na quinta-feira (22), durante transmissão ao vivo pela internet, Jair Bolsonaro tentou explicar a fala do senador piauiense: “O Ciro, logicamente, vai nos ajudar. Tem vídeo correndo na internet em que ele me chamou de fascista lá atrás. Sim, chamou, tá certo? As coisas mudam. Eu tinha posições do passado que não assumo mais hoje, mudei”, disse o presidente.

É sabido que políticos não escrevem, sentados, o que dizem em pé, mas Augusto Heleno, a caminho dos 74 anos, deveria livrar-se da ignomínia e pedir demissão. Afinal, configura incoerência à máxima potência trombar nos corredores palacianos com um representante da ladroagem institucionalizada, em nome de salvar um amigo “fascista” que afirma abertamente ser do Centrão.

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