Em meio ao avanço acintoso do Centrão sobre o governo, a Bolsonaro restará apenas o populismo barato

 
Presidente nacional do Partido Progressista, o senador piauiense Ciro Nogueira depende de uma conversa com Jair Bolsonaro para acertar os detalhes de sua nomeação como ministro-chefe da Casa Civil. De férias no México, Nogueira deveria reunir-se com o presidente da República nesta segunda-feira (26), mas um atraso no voo com destino ao Brasil comprometeu sua chegada à capital federal e mudou a agenda palaciana. Bolsonaro deve reunir-se com o senador do PP na terça-feira, sendo que a solenidade de posse está agendada para quarta.

A decisão de ampliar a participação do Centrão, entregando o comando da principal pasta do governo a um dos líderes do bloco, aumenta dependência de Bolsonaro em relação ao que há de pior na política brasileira. Isso porque o Centrão faz da atividade parlamentar o que definimos como proxenetismo político. Não faz muito tempo, o próprio presidente satanizou o bloco parlamentar.

A chegada de Ciro Nogueira à Casa Civil e a cobrança do Centrão pela recriação do Ministério do Planejamento mostra que o governo de Jair Bolsonaro está perto do fim, sem jamais ter começado na prática. Até porque, desde 1º de janeiro de 2019 o País deu largos passos na direção do atraso, enquanto o presidente golfava sandices por todos os lados.

Bolsonaro acredita que a cooptação dos centristas proporcionará reforço político ao governo no Congresso Nacional, não sem antes impedir o avanço de um processo de impeachment, mas é puro engano. Basta ver o que aconteceu com a então presidente Dilma Rousseff, que até momentos antes do processo de impedimento contava não só com o apoio do Centrão, mas também e principalmente de Ciro Nogueira, que já chamou Bolsonaro de “fascista”.

 
No contraponto, o fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões, definido na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), é pauta que deve garantir parcas doses de tranquilidade de lado a lado. O presidente afirmou publicamente que vetaria o fundo eleitoral “em respeito ao contribuinte e ao trabalhador”. Pressionado nos bastidores, Bolsonaro já fala em reduzir o valor do “fundão” para R$ 4 bilhões, o dobro do que foi destinado às eleições municipais de 2020.

Ao menos um tema, entre outros, colocará Bolsonaro e o Centrão em lados opostos: o voto impresso, defendido pelo presidente sob a alegação de que as urnas eletrônicas são passiveis de fraude. Onze partidos políticos no Congresso já fecharam questão em relação ao voto impresso, inclusive o PP de Ciro Nogueira. O sonho de Bolsonaro avançou no campo do pesadelo depois da ameaça feita pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, que fez eco à eventual não realização das eleições de 2022.

Esse ensaio de um possível golpe foi a pá de cal que faltava para sepultar a PEC do voto impresso, o que deve acontecer no início de agosto, após o fim do recesso parlamentar. Além disso, mesmo na eventualidade de a tal PEC ser aprovada, não há tempo hábil para implantar o sistema, que na verdade permite fraudes eleitorais.

Enquanto se joga no colo do Centrão, Bolsonaro pode estar articulando uma forma de, contestando o resultado da eleição presidencial do próximo ano, justificar uma derrota nas urnas cada vez mais clara no horizonte político. Isso merece atenção redobrada por parte dos cidadãos de bem e comprometidos com o ambiente democrático.

O objetivo do presidente é repetir no Brasil a epopeia bandoleira incentivada por Donald Trump que terminou na invasão do Capitólio. Aqui no Brasil, as instituições ainda funcionam, apesar de a democracia e o Estado de Direito serem açoitados diariamente, mas a população não pode viver em permanente sobressalto nem aceitar delinquência dos centristas.

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