A organização não governamental Repórteres sem Fronteiras (RSF) registrou 87 ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro à imprensa no primeiro semestre de 2021, uma alta de 74% em relação ao segundo semestre do ano passado.
O número consta de relatório divulgado nesta quarta-feira (28) pela ONG, que também registrou ataques feitos pelo entorno do presidente a jornalistas e órgãos da imprensa.
Dentro desse “sistema Bolsonaro”, o presidente é o que mais dispara contra os jornalistas. Mas também os filhos Carlos Bolsonaro, que é vereador da cidade do Rio de Janeiro, e Eduardo Bolsonaro, deputado federal, atacaram a mídia nacional. Carlos, 83 vezes no primeiro semestre; e Eduardo, 85 vezes.
Ao todo, a equipe da RSF identificou que o “sistema Bolsonaro” foi responsável por 331 ataques à imprensa no Brasil, um aumento de 5,41% em relação ao segundo semestre de 2020.
Vulgaridade e violência
Para a RSF, os ataques são cada vez mais virulentos e grosseiros e atingiram “um nível inimaginável de vulgaridade e violência”.
Entre os exemplos listados estão o evento em que o presidente, cercado por apoiadores e falando sobre gastos públicos do governo federal devido à polêmica envolvendo despesas com leite condensado, recomendou aos jornalistas “enfiar as latas no rabo”.
No dia 21 de junho, durante viagem ao estado de São Paulo, o presidente insultou violentamente uma jornalista da TV Vanguarda, afiliada ao grupo Globo, que o questionou sobre ele não estar usando máscara. “Cala a boca. A Globo é imprensa de merda, imprensa podre”, gritou Bolsonaro.
Questionado em 25 de junho sobre suspeitas de fraude pelo governo federal em torno da compra de vacinas para a covid-19, o presidente se descontrolou ao se dirigir à jornalista Victória Abel, da Rádio CBN. “Volta para a universidade, depois para o ensino médio, depois para o jardim de infância, então você pode renascer!” Na mesma entrevista coletiva, pediu aos repórteres que parassem de fazer perguntas estúpidas.
Mulheres estão entre as vítimas preferenciais do presidente. Em 2 de junho, ele chamou a apresentadora da CNN Brasil Daniela Lima de “quadrúpede”.
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Onde ocorrem os ataques
O Twitter continua sendo a plataforma mais usada para as ofensivas do “sistema Bolsonaro”. A imprensa recebe no Twitter quase 80% desses ataques. Por sua vez, o presidente consegue limitar sua própria exposição a críticas na plataforma, bloqueando a maioria das contas incômodas que o seguem no Twitter.
De acordo com estudo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), ele é a autoridade pública brasileira que mais bloqueia contas de jornalistas no Twitter.
Punido várias vezes pelo Twitter em 2020, sobretudo por ter desrespeitado a política da plataforma sobre medidas de isolamento durante a covid-19, o presidente privilegiou em 2021 uma outra plataforma para insultar e agredir jornalistas.
Todas as semanas, do Palácio da Alvorada, ele fala ao vivo no canal do Facebook da Presidência, por mais de uma hora, sobre assuntos de sua escolha. Essa live, transmitida também no Youtube, permite-lhe, sem ser incomodado ou contrariado, falar diretamente ao seu público, propagar sua retórica anti-imprensa e atacar ferozmente os meios de comunicação.
Nas 24 lives semanais feitas no primeiro semestre de 2021, Bolsonaro atacou frontalmente a mídia em 19 delas. Assim, 58,62% dos ataques de Jair Bolsonaro a jornalistas ocorreram durante essas intervenções ao vivo no Facebook, comparados a 21,84% no Twitter e a 19,54% feitos durante atos e atividades públicas.
As lives de 14 de janeiro e 12 de fevereiro foram apagadas e bloqueadas pelo Youtube, que classificou seus comentários como desinformação. Em 21 de julho, pelos mesmos motivos, o Youtube decidiu excluir 14 dessas lives de sua plataforma, transmitidas entre 2020 e 2021.
Predadores da liberdade de imprensa
Bolsonaro é também um dos 37 líderes de todo o mundo que a Repórteres Sem Fronteiras considera “predadores da liberdade de imprensa”, em lista que inclui ainda os chefes de Estado da Síria, Bashar al-Assad, e da China, Xi Jinping.
Na América Latina, Bolsonaro está acompanhado dos líderes de outros três países: Miguel Díaz-Canel, de Cuba, Daniel Ortega, da Nicarágua, e Nicolás Maduro, da Venezuela.
Estão ainda no rol o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, e, pela primeira vez, um líder de um país da União Europeia, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. (Com Deutsche Welle e agências de notícias)
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