Desfile militar ordenado por Bolsonaro jogará a imagem da democracia brasileira no abismo do descrédito

 
Como noticiado em matéria anterior, a queda vertiginosa na popularidade e os constantes ataques à democracia levaram o presidente Jair Bolsonaro a ordenar ao Ministério da Defesa a realização de desfile de veículos militares na Esplanada dos Ministérios, comboio que estacionará diante do Palácio do Planalto na terça-feira (10). A decisão, além de escancarar a fraqueza política do presidente da República, é um claro sinal do perigo que corre o País.

O evento acontecerá no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados votará em plenário a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, uma das bandeiras defendidas por Bolsonaro, que de forma antecipada tenta justificar possível derrota nas eleições de 2022. A não aprovação da PEC representará enorme derrota para Bolsonaro, que buscará outros caminhos para ameaças e ataques à democracia e ao Estado de Direito.

A postura de Bolsonaro é típica de ditadores e comprometerá ainda mais a desgastada imagem no Brasil no exterior, que no meio diplomático é considerado um pária internacional. O presidente da República, que no âmbito da próxima eleição presidencial tenta repetir o gesto de Donald Trump, que após derrota nas urnas incentivou apoiadores a invadirem o Capitólio.

Se Bolsonaro imagina que a presença de blindados militares na Praça dos Três Poderes terá algum efeito sobre os parlamentares, o placar da votação da PEC do voto impresso será ainda mais desfavorável às pretensões do chefe do Executivo, ou seja, a intimidação provocará reações adversas.

De acordo com a Marinha, o desfile servirá para entregar a Bolsonaro e ao ministro da Defesa, Walter Braga Netto, convite para acompanhar os exercícios militares da Operação Formosa, que ocorre desde 1988. Até então, as autoridades eram convidadas em seus respectivos gabinetes, sem a necessidade de eventos patéticos.

 
Esse gesto de Bolsonaro remete ao general Newton Cruz, o fanfarrão da caserna, que em abril de 1984, montado em um cavalo e acompanhado por uma centena de veículos militares e milhares de soldados, cercou o Congresso Nacional dois dias antes da votação da emenda das Diretas Já, de autoria do então deputado Dante de Oliveira. E emenda foi rejeitada por uma diferença de 22 votos.

“Nini”, como era conhecido o general nos subterrâneos da ditadura militar, foi chefe do persecutório Serviço Nacional de Informações (SNI) e acusado de patrocinar o atentado do Riocentro, em 30 de abril de 1981, quando ocorria no local ato em comemoração ao Dia do Trabalho.

À época, a ditadura definhava, mas a resistência de alguns oficiais militares fez desse epílogo um teatro de horrores. O atentado do Riocentro desgastou a imagem do então presidente João Baptista Figueiredo, que logo após ser empossado no cargo disse que prenderia quem fosse contra a abertura política.

“É para abrir mesmo. E quem quiser que não abra, eu prendo, arrebento”, afirmou Figueiredo. E o general “Nini” resolveu testar a suposta sinceridade do presidente da República, que não se confirmou.

É importante lembrar que o golpe militar de 1964, que abriu caminho para o mais obscuro e condenável período da história brasileira, aconteceu na esteira de tanques nas ruas. Mas a Bolsonaro falta a ousadia dos facinorosos golpistas de então.


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