Em 2022, Flávio Dino deve emprestar a habilidade e a lealdade de Lula para não ficar com “a cara e a coroa”

 
(*) Waldir Maranhão

Como venho ressaltando ao longo de vários artigos, o Brasil vive um momento político ímpar a preocupante, com diuturnas ameaças golpistas a atormentar a população em todos os seus espectros sociais. Do desassistido ao mais aquinhoado, todos estão preocupados com o amanhã. E lembro que democracia não é mercadoria para ser leiloada.

O futuro do Brasil depende não apenas da eleição presidencial de 2022, que decidirá os passos do país no caminho democrático, mas também e principalmente da escolha dos governadores. Afinal, é preciso estar atento às premências de cada cidadão em todo o território nacional.

Pré-candidato à disputa presidencial do próximo ano, o ex-presidente Lula viaja pelo Nordeste em busca de futuras alianças políticas. Líder nas pesquisas de opinião, com chance de vitória em todos os cenários, o petista esbanja habilidade e poder de persuasão, o que explica o fato de estar avançando, em termos de articulações políticas, no terreno do atual presidente Jair Bolsonaro. Esse movimento faz de Lula o que muitos chamam de “animal político”.

A grave crise econômica, que mantém no desemprego perto de 15 milhões de brasileiros e outros 19 milhões no reduto da fome, me leva a direcionar o pensamento para o Brasil e em especial para o meu estado, o Maranhão.

O ensaio feito por Lula impacta obrigatoriamente o processo sucessório no Palácio dos Leões, sede do Executivo maranhense, onde o governador Flávio Dino já trabalha para uma quase certa candidatura ao Senado Federal, com chance de sucesso.

Vice-governador do Maranhão e presidente do PSDB no estado, Carlos Brandão Júnior é candidato à sucessão de Dino, que não poderá negar apoio ao seu companheiro de chapa, mesmo que a política produza, muitas vezes, situações impensáveis e incompreensíveis. Contudo, deve prevalecer nesse caso a lealdade, se é que Flávio Dino compreende o significado daquilo que Brandão lhe dedicou durante anos.

O tabuleiro eleitoral no Maranhão começa a exibir um trancamento de interesses dos mais diversos, cenário que torna-se mais evidente com a movimentação de Lula.

Por questões ideológicas e de empatia política, o governador Flávio Dino apoiará, sem dúvida, o ex-presidente da República, mas ainda não decidiu sobre a própria sucessão. Ou seja, espera-se que Dino anuncie o vice Carlos Brandão como seu candidato ao governo do Maranhão.

A política tem o poder de produzir situações inusitadas, como já mencionado acima, a ponto de suscitar a convergência com a sabedoria popular. Nesse caso, Dino, nas eleições do próximo ano, não pode ficar com “a cara e a coroa”, mas deve decidir por um dos lados da moeda.

Tal comparação pode causar estranheza aos que desconhecem a política maranhense, mas Flávio Dino tem sido assediado pelo senador Weverton Rocha (PDT), que sonha em assumir o comando do estado a partir de 2023.

É importante salientar que o PDT de Weverton está a anos-luz de distância do PDT de Leonel Brizola, que por certo revira no esquife diante das decisões do presidente nacional da legenda, Carlos Lupi.

Caso confirme Brandão como seu candidato ao governo do Maranhão, Flávio Dino estará não apenas ao lado da lealdade, mas da coerência. Alguém pode afirmar que o PDT e o PSDB – partido de Brandão – não frequentam o mesmo ambulatório, mas a prioridade é o povo maranhense.

Contudo, se declarar apoio a Weverton Rocha, o governador Flávio Dino terá um apertado nó eleitoral a desatar mais adiante.

O PDT de Rocha é o mesmo do boquirroto Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência da República e crítico contumaz de Lula. A chance de Ciro chegar ao segundo turno na esteira de uma candidatura de terceira via não é das maiores, em especial porque essa coalização de centro ainda está em fase embrionária e abriga uma fogueira de vaidades sem precedentes.

Confirmada sua candidatura ao Senado, Dino enfrentará situação semelhante ao dito popular “uma no cravo, outra na ferradura”. Afinal, ultrapassa as barreiras da coerência defender a candidatura de Lula no cenário nacional e apoiar um candidato regional cujo partido engrossará o discurso contra o petista.

Próximo a Lula, o governador Flávio Dino, caso opte por apoiar Weverton, levará ao campo das próprias pretensões políticas alguém alinhado ao governo Bolsonaro. E não é novidade que Dino critica duramente o presidente Jair Bolsonaro, o negacionista de plantão e o golpista de todos os dias.

Se tal quadro causa estupefação em muitos, basta buscar nos anais do Senado uma só manifestação de Weverton Rocha contra a pasmaceira do governo federal no âmbito da compra de vacinas contra Covid-19. Da mesma maneira não há um só pronunciamento de Weverton criticando os escândalos envolvendo a aquisição de imunizantes contra o coronavírus. Mesmo assim, Weverton comparou sua eventual candidatura a um “foguete”, que como tal não tem marcha a ré.

“Gosto muito do Flávio Dino, é meu amigo, ele tem o reconhecimento de todos nós pelo trabalho que ele fez pelo Maranhão, só que eu quero ser candidato de baixo para cima, eu quero o apoio dele, mas de verdade quem vai me apoiar e me eleger é o povo do Maranhão”, disse Weverton Rocha, que além de autoritário mostrou-se ambíguo em discurso na cidade de Imperatriz.

Para aumentar o peso na caçamba política do atual governador do Maranhão, Weverton Rocha é próximo da família Bolsonaro, com certa predileção pelo colega de Senado Flávio Bolsonaro, a quem dedica alguns salamaleques descabidos.

Considerando a conhecida afinidade que tem com Lula, o governador Flávio Dino deveria emprestar do petista algumas doses de habilidade política, necessárias para a definição do candidato oficial ao governo do Maranhão.

É de conhecimento público que cobrar coerência da classe política brasileira é uma das mais desafiadoras tarefas, mas o Brasil clama pela lucidez dos agentes públicos, deixando de lado interesses pessoais e paroquiais, muitas vezes escusos.

Disse o filósofo italiano Nicolau Maquiavel: “O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta.”

Como citei, minha maior preocupação é com o futuro dos maranhenses, ignorados e abandonados por muitos governantes. Flávio Dino deveria se inspirar em Maquiavel e olhar à volta dos pretendentes à sua cadeira. Lembrando que a base de lançamento do foguete de Weverton não foi Alcântara, mas a União Nacional dos Estudantes (UNE).

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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