A concentração de gases de efeito estufa atingiu um novo recorde em 2020, com impactos especialmente graves podendo ser verificados na Bacia Amazônica. Em vez de absorver dióxido de carbono, o sudeste da floresta tropical está se transformando gradualmente num emissor de poluentes, de acordo com relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado nesta segunda-feira (25).
De acordo com a agência da ONU, a alta recorde das emissões em 2020 mostra também que a desaceleração econômica imposta pela pandemia de covid-19 “não teve um impacto perceptível” sobre o nível e a evolução da circulação de poluentes na atmosfera.
A advertência foi divulgada seis dias antes da realização da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP26, em Glasgow (Escócia).
Ameaça grave na Bacia Amazônica
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, identificou a evolução na região amazônica como uma ameaça particularmente grave para o clima do planeta. A floresta tropical sul-americana é um dos maiores depósitos de gás carbônico do mundo, absorvendo emissões de gás carbônico geradas pela atividade humana.
Segundo a OMM, esse quadro está se invertendo. Em julho, cientistas publicaram na revista científica “Nature” que partes da Bacia Amazônia agora emitem mais gás carbônico do que absorvem.
A situação é especialmente problemática no sudoeste da floresta tropical, no Brasil, afirmou Oksana Tarasova, chefe do Departamento de Pesquisa Atmosférica e Ambiental da OMM. Ela apontou que o motivo da virada é principalmente o desmatamento, mas também incêndios florestais. “Ainda é um local de captura, mas sua capacidade está substancialmente reduzida”, advertiu.
Queda passageira das emissões devido à pandemia
O órgão da ONU chegou a registrar um declínio temporário nas novas emissões devido às medidas de contenção do novo coronavírus Sars-CoV-2, com destaque para os chamados lockdowns em 2020. Mas, de acordo com a agência, a taxa anual de aumento das concentrações de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) disparou para 413,2 ppm (partes por milhão) em 2020. No ano anterior, a taxa estava em 410,7 ppm.
Essa alta em um ano foi até maior do que o aumento médio registrado para a década entre 2011 e 2020. O nível de 2020 está 149% acima de níveis pré-industriais.
Petteri Taalas alertou que, se as concentrações de gases-estufa continuarem crescendo nesse ritmo, “o aumento das temperaturas no fim do século ficará muito acima das metas do Acordo de Paris, [de limitar o aquecimento global a] 1,5 ºC a 2 ºC acima dos níveis pré-industriais. Estamos muito longe da meta”, constatou.
De acordo com a última avaliação da ONU, os compromissos assumidos por quase 200 países para reduzir as atuais emissões de gases com efeito de estufa não evitarão um aquecimento “catastrófico” de 2,7 ºC.
“Devemos repensar a indústria, o setor de energia e transporte, e todo o nosso modo de vida. As transformações necessárias são economicamente acessíveis e tecnicamente viáveis. Não há tempo a perder”, instou Taalas.
O gás carbônico se origina principalmente da queima de combustíveis fósseis e a produção de cimento, sendo responsável por cerca de 66% do aquecimento da atmosfera, de acordo com a OMM.
A agência explica que o CO2 permanece na atmosfera por séculos, e por ainda mais tempo no oceano. Com isso, o aquecimento já observado persistirá por décadas, mesmo que as emissões líquidas sejam rapidamente reduzidas a zero. No total, os gases de efeito estufa já acarretaram um aquecimento global médio de 1,1 ºC.
Riscos econômicos
A ONU espera que os líderes mundiais a se reunirem em Glasgow tomem medidas para manter o planeta em trajetória de aquecimento suportável nos próximos anos, já que os dados mostram que os níveis de CO2 continuaram a aumentar em 2021.
O governo alemão anunciou que a chanceler federal Angela Merkel irá a Glasgow para participar da COP26. Os riscos econômicos são considerados gigantescos, incluindo o impacto do aumento da temperatura mundial na subsistência humana em todo o mundo, além dos riscos para a estabilidade futura do sistema financeiro global.
Em Berlim, autoridades alemãs e canadenses queriam apresentar um plano detalhando de como os países ricos podem ajudar os mais pobres a financiarem a remodelação necessária para combater o aquecimento global. Até hoje, os países ricos não cumpriram a promessa feita em 2009 de investir 100 bilhões de dólares por ano em projetos climáticos para países pobres até 2020. (Com agências internacionais)
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