Falha em aplicativo aumenta racha no PSDB e leva Bolsonaro a retomar discurso contra o voto eletrônico

 
A pane no aplicativo de votação utilizado pelo PSDB nas prévias para definir o candidato da legenda à Presidência da República há dias despontava como tragédia anunciada. No domingo (21), a expectativa se confirmou e a votação foi adiada. Enquanto o governador de São Paulo, João Dória Júnior, e o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, defendem que o certame seja realizado no próximo domingo (28), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, quer que o processo ocorra até terça-feira (23).

No Twitter, a direção do PSDB informa que respeitadas empresas de tecnologia trabalham para corrigir o problema. “Várias instituições e empresas de tecnologia, todas muito respeitadas, participaram da concepção e estão envolvidas no processo de correção da falha para que a votação continue”, escreveu o partido.

A posição de Leite é lógica em termos de estratégia eleitoral, pois impede que seus adversários, Dória e Virgílio, tenham mais tempo para eventualmente evitar derrota dada como certa. O PSDB sai desse tropeço tecnológico com cizânia ainda maior, cenário que ameaça a definição de uma candidatura de “terceira via” para se opor ao presidente Jair Bolsonaro, que mira a reeleição, e o ex-presidente Lula, que deseja retornar ao Palácio do Planalto.

Além de lançar fumaça sobre o processo pré-eleitoral de 2022, a falha no aplicativo colocou alas do tucanato em pé de guerra. Virgílio acusou o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), que apoia Leite, de liderar grupo do partido que na Câmara tem votado a favor de matérias do interesse do Bolsonaro. É importante ressaltar que, apesar de classificar como algo impossível, Aécio poderá deixar o PSDB em caso de vitória de João Dória nas prévias.

Em São Paulo, maior cidade brasileira, tucanos de fina plumagem não conseguiram votar nas prévias do partido. O ex-governador Geraldo Alckmin, que trabalha por mais uma temporada no Palácio dos Bandeirantes, tentou três vezes, mas acabou desistindo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do partido, também não conseguiu votar.

 
É importante ressaltar, a exemplo do que fez o partido ao publicar no Twitter, a responsabilidade pela falha técnica é da empresa que desenvolveu o aplicativo. No momento em que o País vive turbulências de toda ordem, a referida falha é ingrediente extra na fermentação da crise político-institucional.

Ex-deputado federal pelo PSDB do Paraná, o economista Luiz Carlos Hauly, que de forma incansável trabalha pela aprovação da reforma tributária, minimiza o problema gerado pelo aplicativo. “A organização das Prévias cabe a direção do Partido e não aos candidatos”, escreveu Hauly em grupos do WhatsApp.

“Com a escolha do nosso candidato por eleições primárias, o nosso PSDB está dando um grande exemplo para todos os partidos do Brasil, onde a maioria é de gaveta, ou seja, quem preside o Partido é o dono do partido, onde eles não têm e nunca fizeram nem eleições para os Diretórios Municipais, Estaduais e nem para o Nacional. Verifique os partidos em sua cidade, se não é verdade o que estou dizendo”, completou o economista.

Radiografia tucana

Desde que FHC deixou a Presidência, o PSDB enfrenta um lento e contínuo processo de enfraquecimento político, quadro evidenciado pela incapacidade da legenda de fazer oposição aos governos petistas. No momento em que tiveram a oportunidade de retomar forças, os tucanos adotaram a tese da “governabilidade” para não adotar postura mais firme e contundente durante o escândalo conhecido como “Mensalão do PT”, o que em tese resultaria no impeachment de Lula por crime eleitoral.

Além disso, a pane no aplicativo tucano permitiu ao presidente Jair Bolsonaro retomar o discurso contra as urnas eletrônicas, tema que alvoroçou as relações entre o Executivo federal e o Judiciário. Esse palavrório insano e que não encontra respaldo técnico serve apenas para agitar os “talibãs bolsonaristas”.

O Brasil precisa de propostas coerentes e factíveis para sair de uma crise histórica e múltipla, não de devaneios extremistas. Ou os pré-candidatos da terceira via deixam a vaidade de lado e se unem em nome da mudança, ou o melhor que o brasileiro pode fazer é se preparar para tempos ainda mais difíceis.

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