“Faroeste caboclo”: Secretaria de Segurança do MA entra em cena para desvendar crime de pistolagem

 
O atentado de que foi vítima o contabilista e empresário da construção Weliton Rodrigues, conhecido como “Júnior Secretário”, na cidade maranhense de Cidelândia, começa a despertar o interesse das autoridades estaduais. A Associação Comercial e Industrial de Imperatriz (ACII) enviou ofício à Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, que determinou celeridade na apuração do caso.

Rodrigues foi alvejado várias vezes por um “matador de aluguel” quando deixava a sede da Prefeitura de Cidelândia, logo após participar de processo licitatório. A exemplo do que fazem os profissionais da pistolagem, o criminoso, com espantosa frieza, esperou o empresário deixar o paço municipal para atingi-lo com pelo menos cinco tiros. Na sequência fugiu na garupa de uma motocicleta que naquele momento estava sem placa.

Como destacamos em matéria anterior, qualquer investigação criminal tem uma linha-mestre, a qual não pode ser ignorada por aqueles que têm o dever de, na condição de prepostos do Estado, apurar os fatos com isenção e considerando todas as hipóteses. E isso começa a ser feito.

Em que pese a acertada decisão da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão de determinar a imediata apuração do caso, esse movimento acontece mais de duas semanas após o crime, sem que até agora não foram ouvidas testemunhas e muito menos confeccionou-se um retrato falado do suspeito. É sabido que a pandemia tem possibilitado aos criminosos o uso de máscara de proteção, o que dificulta a identificação, mas é necessário que as etapas investigatórias sejam cumpridas como manda a lei em vigor.

Não é de hoje que a pistolagem age de forma deliberada no Sul do Maranhão, assim como nos estados fronteiriços, situação que empresta às cidades da região fama nada positiva. O governo estadual não pode fechar os olhos para a realidade e normalizar o que ao longo de décadas tornou-se comum. Ou seja, o que é comum não pode ser considerado normal, pelo contrário, principalmente no caso de pistolagem.

Para que os leitores compreendam nossa decisão de cobrar as autoridades maranhenses e acompanhar a investigação do crime cometido contra o empresário Weliton Rodrigues, é inaceitável que em pleno século XXI o Estado insista em ser complacente com os chamados “matadores de aluguel”. Isso afronta não apenas a democracia, mas em especial o direito constitucional do cidadão à segurança. Se o brasileiro, não importa se na metrópole ou em um município rural, tem violado o direito de ir e vir, chegou o momento de repensar o modelo de governança.

Em levantamento que analisou os índices de homicídios em municípios rurais brasileiros no período de 2010 a 2017, tendo como referência o número de habitantes, a cidade de Cidelândia tem taxa média de 19,29. Em 2017, a população de Cidelândia era de 14.539 habitantes. Considerando que o citado município foi criado em 10 de novembro de 1994, a partir da extinta Companhia Industrial de Desenvolvimento da Amazônia (CIDA), subsidiária da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), que fazia a exploração de madeiras na região, a taxa média de homicídios é muito alta para uma cidade com menos de 30 anos.

Sugerem reflexão alguns dados sobre o município de Cidelândia. De acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cidelândia tinha, em 2019, 793 pessoas ocupadas, o que representa 5,4% da população local. Outro dado importante revelado pelo IBGE é que, em 2010, 46,5% dos munícipes tinham renda per capta de até meio salário mínimo (à época R$ 510,00). Em outras palavras, a pobreza e a miséria podem ser para ínfima minoria a porta para a criminalidade.

No contraponto, merece atenção o fato de crimes de mando praticados em Cidelândia terem a política como pano de fundo. De nada adianta investigar pontualmente um homicídio e sua tentativa sem um olhar amplo que contemple o caminho que leva a possíveis soluções para um problema que se arrasta há décadas, como noticiamos na matéria anterior. Para tanto é preciso interpretar de forma minuciosa o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Cidelândia, que em 2010 era de 0,60 (4144º lugar).

 
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Crimes na região

Em dezembro de 2014, o então vereador Edes Alves Feitosa, conhecido como “Cachorrão” e ex-presidente da Câmara Municipal de Cidelândia, foi encontrado morto em uma estrada vicinal da cidade maranhense.

Feitosa, alvejado com um tiro na cabeça, já havia cumprido pena de 8 anos por tentativa de homicídio contra Pedro Pereira de Carvalho, à época era secretário de Saúde de Cidelândia, e Gilmar Ribeiro dos Reis Sá.

Em setembro de 2016, o também vereador Paulo Baiano foi assassinado de forma cruel. Seu corpo foi encontrado com um saco plástico na cabeça e várias marcas de tiro, dentro do próprio veículo, que estava estacionado em uma rua de Vila Nova dos Martírios, cidade vizinha a Cidelândia.

Em outubro de 2020, na cidade de Açailândia, próxima a Cidelândia, o servidor público Carlos Eduardo Lopes, que trabalhava na Secretaria Municipal de Infraestrutura, foi morto dentro de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) enquanto aguardava atendimento médico. O pistoleiro entrou calmamente na UPA e instantes depois disparou duas vezes contra a cabeça de Lopes. As autoridades policiais não descartaram motivação política para o crime.

Solução a caminho

A tentativa de homicídio de que foi alvo o empresário Weliton Rodrigues é inequívoca oportunidade para os agentes do governo do Maranhão iniciarem uma divisor de águas em região do estado que luta para se livrar da má fama decorrente dos crimes de encomenda.

Como citamos nesta matéria e na anterior, toda investigação policial tem uma linha-mestre a ser seguida. Depoimentos de testemunhas (há várias) são imprescindíveis para o esclarecimento do crime, mas, de acordo com o que apurou o UCHO.INFO, não haviam sido colhidos até a última sexta-feira (19). A partir de então, começa-se a montagem do quebra-cabeças investigatório, que não deve descartar a quebra de sigilos, sob pena de mais um crime ficar sem solução.

Crime de encomenda

Sem qualquer juízo de valor e longe de fazer relação entre os casos e em especial as vítimas, voltamos na linha do tempo para destacar o brutal assassinato do então prefeito de Santo André (Grande São Paulo), Celso Daniel, cujo corpo foi encontrado em estrada vicinal de Juquitiba, cidade da região metropolitana da capital paulista, após ter sido barbaramente torturado por seus algozes. À época, este portal de notícias divulgou com exclusividade as gravações do caso, que nos rendeu ameaças diversas e demandas judiciais por parte de supostos envolvidos no crime.

O caso Celso Daniel, morto em 20 de janeiro de 2002, teve motivação política, não há como negar, mas admitir tal hipótese não interessava aos seus correligionários de legenda, os quais estavam empenhados em uma campanha eleitoral rumo ao Palácio do Planalto.

Em 12 de outubro de 2005, o médico-legista Carlos Belmonte Printes, que atestou marcas de tortura no cadáver de Celso Daniel, foi encontrado morto em seu escritório em São Paulo. Nesse mesmo dia, o editor do UCHO.INFO, que morava em Brasília, havia viajado para participar de reunião reservada com autoridades do Judiciário e obter informações sobre ameaça de morte caso não desistíssemos de investigar e noticiar o crime. A sequência dos fatos comprova que crime de mando ainda é prática corriqueira no País, principalmente em alguns rincões da política nacional

Em relação à tentativa de homicídio contra Weliton Rodrigues, desvendar o crime é mandatório, pois trata-se de crime de encomenda. O governo do Estado do Maranhão tomou a decisão de agir diante de mais um absurdo praticado no “faroeste caboclo” em que se transformou a região. O empresário sobreviveu ao atentado, por sorte, mas não pode continuar na mira do banditismo que se alastra no submundo da terra do arroz de cuxá.

Com a palavra, o secretário de Segurança Pública do Maranhão e o governador Flávio Dino!

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