Macron diz que quer “encher o saco” dos não vacinados contra Covid-19 e torna-se alvo de críticas

 
O Parlamento francês suspendeu na madrugada desta quarta-feira (5) o debate sobre nova lei relacionada ao passaporte de vacina, após parlamentares de oposição exigirem explicações do presidente Emmanuel Macron sobre comentários feitos em entrevista ao jornal “Le Parisien”.

Na véspera, Macron disse que pessoas não vacinadas são “irresponsáveis” e que ele planejava tornar suas vidas tão complicadas que elas acabariam tendo de tomar a vacina. “Os não vacinados, quero muito encher o saco deles. E vamos continuar fazendo isso, até o fim. Essa é a estratégia”, afirmou o presidente francês.

Na fala, o presidente de centro-direita usou em francês o verbo “emmerder”, termo coloquial incomum para um chefe de Estado. O termo, um palavrão a depender do contexto, tem difícil tradução para o português, mas pode ser entendido como “encher o saco”.

Críticas no Parlamento

A entrevista foi publicada pouco antes de os parlamentares retomarem um debate sobre o novo projeto de lei, que tornará obrigatório a apresentação de comprovante de vacinação contra Covid-19 para entrar em restaurantes, cinemas e trens. A sessão foi rapidamente tomada por uma discussão sobre os comentários do presidente.

“Um presidente não pode dizer coisas assim”, afirmou o parlamentar Christian Jacob, líder do partido de oposição conservador Les Republicans. “Eu sou favorável ao passaporte da vacina, mas não posso apoiar um texto cujo objetivo é ‘encher o saco’ dos franceses.” “É esse seu objetivo, sim ou não? Não podemos continuar debatendo sem termos uma resposta clara sobre isso”, disse.

Representantes da extrema-direita também atacaram a “violência” de Macron. Críticas também partiram da esquerda. A prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, e o comunista Fabien Roussel questionaram se Macron quer mesmo “unir” os franceses. Jean-Luc Mélenchon, da extrema esquerda, denunciou o que chamou de uma “confissão alucinante de Macron”.

 
Premiê defende Macron

Outros opositores no Parlamento ecoaram as críticas exigiram que o primeiro-ministro Jean Castex, um aliado de Macron, desse explicações. A sessão foi suspensa pouco antes das 2h e retomada na tarde desta quarta-feira, após Castex defender os comentários de Macron.

“O que o presidente da República disse, eu ouço em todos os lugares e vocês sabem disso”, disse o primeiro-ministro. “Há uma exasperação da parte dos nossos cidadãos ao verem toda uma forma de constrangimentos que lhes são impostos quando outros decidem libertar-se deles. (…) As palavras do presidente da República estão em perfeita sintonia com o que nós fazemos.”

“Quem está insultando a nação? Quem está fragmentando a nação? Quem leva os agentes de saúde, em nossas alas de emergências, a fazer escolhas éticas dramáticas? É uma pequena minoria”, argumentou o primeiro-ministro em reposta a outro parlamentar. “Ser cidadão também significa ter deveres e relembrá-los.”

Gafes

Desde que assumiu o poder em 2017, Macron, ex-banqueiro e ex-ministro, tentou minimizar a imagem de político arrogante próximo às elites, que persiste entre vários franceses. No entanto, ocasionalmente ele é acusado de insensibilidade.

Em 2017, ele foi criticado por afirmar estações ferroviárias são lugares “onde se encontram pessoas bem-sucedidas e pessoas que não são nada”. No ano seguinte, provocou polêmica ao afirmar a um desempregado que descrevia suas dificuldades que bastava “atravessar a rua” para encontrar emprego.

Pandemia

Após as falas de Castex, os debates sobre a lei foram retomados, mas começaram a se arrastar diante de centenas de emendas apresentadas pelos parlamentares. Por volta de 20h (16h em Brasília), os parlamentares ainda tinham que analisar 390 emendas ao texto.

Caso aprovada, a lei prevê que maiores de 12 anos sem vacinação não poderão ir a restaurantes, museus, academias, cinemas ou utilizar certos transportes, mesmo que apresentem teste de diagnóstico negativo de menos de 24 horas.

A França vem enfrentando um avanço robusto do novo coronavírus nas últimas semanas. Nesta quarta-feira, foram registradas mais 332 mil novas infecções – novo recorde no país. Entre os franceses, 78,6% receberam pelo menos uma dose da vacina e 76,8% receberam todas as doses necessárias. (Com Deutsche Welle e agências internacionais)

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