Gazeteiro, Bolsonaro descumpre promessa e governo não pagará valor retroativo do Auxílio Brasil

 
O maior adversário político-eleitoral de Jair Bolsonaro não está no grupo de opositores e nos críticos de seu radicalismo tosco e criminoso, mas no populismo barato do próprio presidente da República, que para tentar reverter os índices de desaprovação insiste em prometer o que sabe ser impossível de cumprir.

Quando decidiu substituir o programa Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, Bolsonaro imaginou que seria possível anestesiar a consciência da parcela mais necessitada da população. Na ocasião, o presidente anunciou que pagaria, a partir de novembro passado, o valor retroativo para que o novo benefício fosse de no mínimo de R$ 400.

Na proposta inicial do governo, o valor (R$ 400) valeria até o final de 2022, mas o caráter eleitoreiro da medida obrigou senadores e deputados a reagirem, instituindo o caráter permanente do benefício, na esteira da aprovação da PEC dos Precatórios, também conhecida como PEC do Calote. Mesmo assim, com o estouro do teto de gastos, a PEC garantiu o pagamento do Auxílio Brasil até o final de 2022, ficando o problema para o próximo presidente.

Nesta terça-feira (18), o ministro da Cidadania, João Roma, afirmou, em entrevista ao portal UOL, que o governo não conseguirá cumprir o compromisso assumido com os beneficiários do programa. “Não, infelizmente [não vai pagar o retroativo de novembro]. A tramitação da PEC (dos precatórios) só se concluiu em dezembro”, afirmou Roma.

O titular da Cidadania alegou que em dezembro o piso de R$ 400 foi pago e que em janeiro, além desse valor, 3 milhões de famílias serão incluídas no Auxílio Brasil, totalizando cerca de 17 milhões de famílias atendidas pelo programa.

No embalo da desfaçatez que emoldura o governo de Jair Bolsonaro, o ministro negou que a medida tenha caráter eleitoral. “Todas as ações do governo têm avaliação da população. Isso [Auxílio Brasil] amplia, obviamente, a aceitação do governo”, disse João Roma, que com tal declaração comprovou o oportunismo do presidente da República.

 
Crítico do Bolsa Família

É importante lembrar que Bolsonaro, enquanto deputado federal, foi um ácido e insistente crítico do Bolsa Família, por ele rotulado, em 2010, como “Bolsa Farelo”. Na ocasião, o agora presidente afirmou que o programa servia para manter o PT no poder.

“Se, hoje em dia, eu der R$ 10 para alguém e for acusado de que esses R$ 10 seriam para a compra de voto, eu serei cassado. Agora, o governo federal dá para 12 milhões de famílias em torno de R$ 500 por mês, a título de Bolsa Família definitivo, e sai na frente com 30 milhões de votos. Disputar eleições num cenário desses é desanimador, é compra de votos mesmo”, afirmou em agosto daquele ano.

Em 2011, com Dilma Rousseff na Presidência, Bolsonaro voltou a criticar o programa. “O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder. Nós devemos colocar, se não um ponto final, uma transição a projetos como o Bolsa Família”, afirmou. Em outro momento, Bolsonaro afirmou que o Bolsa Família levava mulheres solteiras a terem mais filhos para receber a parcela de R$ 70.

Em 2018, ano de eleições, as críticas ao Bolsa Família não cessaram, pelo contrário. Em evento, já como pré-candidato, Bolsonaro disse que não recorreria à demagogia para conquistar votos.

“Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família, então vote em outro candidato. Não vou partir para a demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto”, declarou.

Ao longo da última corrida presidencial, o UCHO.INFO alertou inúmeras vezes para o fato de Bolsonaro ser um incompetente que levaria ao retrocesso e ao obscurantismo, não sem antes afirmar que o atual chefe do Executivo é o que conhece como “mais do mesmo”. Se o tempo é o senhor da razão, Bolsonaro não escreve, sentado, o que vocifera em pé – e vice-versa.

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