Amanhã já será outro dia

(*) Carlos Brickmann

Muita gente, especialmente do Governo, ficou feliz com a variedade nova do vírus da Covid: a Ômicron, que atinge muito mais gente, mas é menos letal que outras. Enfim, a imunidade de rebanho, que tanto seduz o rebanho.

Só que não é bem assim. A quantidade de novas infecções levou a Mesa da Câmara dos Deputados a adiar o trabalho presencial ao menos por 40 dias, até o Carnaval. Depois, depende. Dentro das quatro linhas do Executivo, o Ministério da Ciência e Tecnologia fechou na segunda-feira – o Astronauta, ministro da área, determinou a volta ao home office até que a situação mostre melhoras. A Defensoria Pública da União, citando a Organização Mundial da Saúde (sim, aquela que o Governo detesta), o aumento de casos de Covid com cepa Ômicron e tudo, com infecções e reinfecções, mais a influenza, decidiu manter seu pessoal trabalhando em casa até o fim deste mês, mas já se fala na possibilidade de prorrogar o prazo de afastamento.

Pelo jeito, o presidente Bolsonaro, ao repetir sem parar que “todo mundo vai pegar Covid”, acertou pelo menos próximo do alvo. Só errou num ponto: acreditar que, com muita gente atingida por um vírus menos letal, teria a tão desejada imunidade de rebanho, quando as epidemias não se expandem por falta de novas vítimas vulneráveis à infecção. E seu Governo, que já não é nenhuma Brastemp, vai fechando aos poucos os postos de trabalho, como prevenção contra a “gripezinha” da vez – agora duas, a Covid e a influenza.

Boa notícia

Não é para já, mas para daqui a algumas semanas: a presidente da Pfizer do Brasil, Marta Díez, disse que a Paxlovid, remédio antiviral contra a Covid, demonstrou em laboratório sua eficiência contra a cepa Ômicron, com mais de 90% de êxito. O Paxlovid já foi aprovado pela FDA, a rigorosa agência de verificação de alimentos e remédios dos Estados Unidos, e virá em breve para análise da Anvisa, a quem caberá autorizar seu uso no Brasil. Há pouco mais de uma semana, em Israel, um paciente atingido gravemente pela Covid foi tratado com o remédio americano, e em menos de uma semana estava já recuperado. Tendo vacinas para prevenção e remédios para quem já tem a infecção, o combate à pandemia passa a ser bem mais eficiente.

Mais inocentes

A juíza Fabiana Alves Rodrigues, da 10ª Vara Criminal Federal de São Paulo, mandou arquivar o inquérito contra Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula. O inquérito investigava denúncias de propina da Telemar (hoje Oi) em troca de favores prestados pelo Governo. O Ministério Público Federal foi favorável ao fim da investigação. O inquérito fazia parte da Lava Jato, e se baseava em medidas de quebra de sigilo (uma delas referente ao sítio de Atibaia) anuladas pelo Supremo Tribunal Federal.

Vai e volta

Hoje é um dia-chave para avaliar o clima político do país até as eleições de outubro. Mais de 40 categorias de servidores públicos federais prometem ir às ruas, exigindo reajuste de salários. Os servidores federais estão há anos sem reajustes, e se mantiveram quietos até agora. Mas surgiram dois problemas: primeiro, o recrudescimento da inflação, que provocou forte empobrecimento dos servidores; segundo, a proposta de Bolsonaro de dar um aumento ao pessoal da segurança pública. Se há dinheiro para policiais, por que não para todo o funcionalismo?

A Receita Federal já iniciou o seu movimento, com a entrega ao ministro Paulo Guedes dos cargos de chefia. O presidente, que havia dado a Guedes a ordem para conseguir recursos e entregá-los aos policiais, mandou-o arranjar dinheiro para todos.

Como fazer

Só que, mesmo com toda a disposição possível para atender à ordem de Bolsonaro (e isso não lhe falta), Paulo Guedes não tinha de onde tirar dinheiro. O fato é que os servidores públicos federais estão insatisfeitos. Se não entrarem em greve agora, mais cedo ou mais tarde vão entrar. E antes das eleições. De hoje em diante, qualquer greve na área cria problemas para a candidatura do presidente à reeleição.

Briga de família

Sim, Sarney é o senhor absoluto de boa parte da política maranhense, e todos os que se elegeram sob sua proteção o obedecem sem discussão. Mas, um pouco abaixo do pódio sarneyzista, há brigas, sim. A briga agora é de Ricardo Murad, irmão de Jorge Murad, o marido de Roseana Sarney, com os outros protegidos do ex-presidente.

No Instagram, Ricardo Murad elogiou José Sarney por ter feito do Maranhão um Estado rico, o 17º entre os 27 que formam o país, mas disse que mesmo assim não resolveu o problema da pobreza, e que por isso é necessário iniciar novo ciclo (o de Sarney já dura 57 anos). É preciso, diz ele, escolher bem em quem votar nas eleições estaduais. Ele ainda não sabe quem será o melhor candidato. E não garante que vá votar no candidato de sua cunhada Roseana. Briga em família.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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