Damares Alves se irrita ao ser cobrada por silêncio diante do brutal assassinato de refugiado congolês

 
Que a equipe ministerial de Jair Bolsonaro, em sua maioria, é movida pela delinquência intelectual todo brasileiro dotado de bom-senso já percebeu. A questão é o governo – leia-se o presidente da República e muitos ministros – se omite em situações graves por questões ideológicas ou, então, só se manifesta quando interessa às absurdas pautas que descem a rampa do Palácio do Planalto.

Nesta quinta-feira (3), a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, que certa feita pediu a Jesus para que descesse da goiabeira, reclamou de uma “cobrança muito grande” para que ela se manifeste sobre casos de violação dos direitos humanos.

Nos últimos dias, Damares foi cobrada nas redes sociais por pelo silêncio quase obsequioso em relação à morte do congolês Moïse Kabagambe, refugiado no Brasil e morto a pauladas no Rio de Janeiro.

Questionada por jornalistas, a ministra afirmou que a pasta “já tomou” providências, não disse quais medidas estavam em andamento. “Já tomou, já tomou [providências]. Deixe eu falar uma coisa. Há uma cobrança muito grande que a ministra se manifeste em todos os casos. Mas cada caso é cuidado por uma secretaria. E, imediatamente, quando nós somos acionados, a gente toma medidas imediatas”, disse Damares.

“Esse caso está sendo cuidado pelo nosso ministério por duas secretarias, Secretaria Nacional de Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria Nacional de Proteção Global. Nós tivemos várias iniciativas”, continuou, sem detalhar os procedimentos adotados pelo ministério.

Na quarta-feira (2), em uma rede social, a ministra já havia reclamado das cobranças em relação ao brutal assassinato do jovem congolês. A ministra alegou que “não dá pra vir pra rede social o tempo todo falar tudo o que estamos fazendo” e que o ministério trabalhava “em silêncio”, mas não especificou as medidas tomadas para garantir a investigação do caso e apoiar a família de Moïse, que já foi intimidada por policiais. É importante destacar que a região onde aconteceu o bárbaro crime é controlada parcialmente por milicianos.

 
“Quando está em fase de investigação algum caso, como este, o ministério não traz a público a sua participação pra não interferir lá na ponta na investigação. Mas a gente está, desde o primeiro momento que o ministério foi acionado, acompanhando esse caso e aqui a gente lamenta a barbaridade que a gente viu naquelas imagens. Chega de violência nessa nação e vamos acompanhar até o final. Inclusive, a punição, a gente quer pena [para os criminosos]”, disse a ministra.

As declarações de Damares Alves são nauseantes, em especial porque retratam sua subserviência ao presidente da República. Em agosto de 2020, quando veio à tona a notícia de uma menina de 10 anos, grávida após ser estuprada pelo tio, fundamentalistas cristãos simpatizantes do governo Bolsonaro foram ao Espírito Santo para, usando o nome da ministra, tentar convencer a família da jovem a não interromper a gravidez.

Na ocasião, a ativista bolsonarista Sara Giromini divulgou nas redes sociais dados sigilosos sobre o caso, como, por exemplo, o local onde foi realizado o aborto da menina capixaba. Coincidência ou não, Giromini foi nomeada em junho de 2019 para o cargo na Coordenação- Geral de Atenção Integral à Gestante e à Maternidade do Departamento de Promoção da Dignidade da Mulher, da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SNPM), que está no guarda-chuva da pasta comandada por Damares. Em outubro do mesmo ano, Giromini foi exonerada.

Em novembro de 2020, a Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu apuração preliminar para investigar eventual participação de Damares Alves no movimento que tinha como objetivo impedir a interrupção da gravidez da menina.

Em 20 de janeiro passado, Damares Alves, acompanhada do sabujo ministro Marcelo Queiroga (Saúde), foi a Botucatu, no interior de São Paulo, visitar uma menina que foi internada em hospital da cidade por causa de parada cardíaca após tomar vacina contra Covid-19, no município de Lençóis Paulista, onde mora.

Considerando que o negacionismo criminoso em relação à vacinação contra Covid-19 é o despautério maior da agenda de Jair Bolsonaro, a subserviente Damares Alves correu para cumprir ordem, mas crê ser justificável o próprio silêncio diante do assassinato de um refugiado negro que morreu por cobrar valor que lhe era devido por dois dias de trabalho.

Quando o UCHO.INFO afirmou, na campanha presidencial de 2018, que a eleição de Bolsonaro, um despreparado confesso, colocaria o Brasil na rota do retrocesso e do obscurantismo, críticas não faltaram. Resta saber onde estão os covardes críticos de então.

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