Tenista chinesa Peng Shuai nega acusação de abuso sexual

 
Em entrevista ao jornal esportivo francês “L’Équipe”, concedida nesta segunda-feira (7) na presença de um funcionário do Comitê Olímpico Chinês, a tenista Peng Shuai afirmou nunca ter acusado alguém de abuso sexual e anunciado sua aposentadoria do esporte.

Em novembro, na rede social chinesa Weibo, Peng aparentou acusar um ex-dirigente do Partido Comunista Chinês de abuso sexual. O post foi rapidamente apagado da plataforma.

Apesar de visar esclarecer a situação atual de Peng, a entrevista deixou questões em aberto sobre seu bem-estar e sobre os detalhes exatos da acusação.

O caso Peng Shuai

Depois que o post foi removido da plataforma Weibo, Peng Shuai não foi vista em público durante três semanas. Em dezembro, a atleta divulgou uma declaração afirmando ter havido um “mal-entendido” sobre o post, frisando que não fizera acusação de abuso sexual.

Contudo, as comunidades esportiva e internacional continuaram preocupadas com o paradeiro, a segurança e a capacidade de Peng de falar livremente. A esportista chinesa, que já foi campeã de duplas em Wimbledon e no Aberto da França, não atualizou seu perfil na rede Weibo desde que o post foi apagado. Buscas por seu nome na plataforma tampouco mostram resultados recentes.

O fato de ficar longe dos olhos do público suscitou questões sobre seu paradeiro, tanto por usuários de internet quanto por esportistas e fãs fora da China – em parte por o país ter um histórico de fazer desaparecer quem denuncie os líderes do partido no poder.

O que Shuai escreveu no post

Em texto extenso, Peng escreveu que Zhang Gaoli, ex-vice-primeiro-ministro e membro da Comissão Permanente do “politburo” do Partido Comunista, a forçou a ter relações sexuais, sete anos atrás, apesar de ela ter recusado repetidas vezes. Depois disso, ela teria se apaixonado por ele.

“De início, enterrei isso tudo no meu coração”, escreveu Peng. “Por que você me procurou novamente, me levou à sua casa e me forçou a ter relações sexuais com você?”. Zhang não comentou a acusação.

 
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A entrevista da esportista de 36 anos ao “L’Équipe” ocorreu sob condições severas, definidas por funcionários olímpicos chineses. As perguntas, enviadas com antecedência, e as respostas, traduzidas a partir do chinês, tiveram que ser publicadas palavra por palavra, sem questionamentos além do roteiro estabelecido previamente.

O jornal não questionou, por exemplo, porque a tenista teria publicado o post apenas para apagá-lo depois, “porque quis”. Esse foi o primeiro encontro com a imprensa não-chinesa desde a acusação, da qual ela se distanciou.

“Abuso sexual? Eu nunca escrevi que alguém me forçou a me submeter a um abuso sexual”, rebateu. “Esse post resultou num enorme mal-entendido pelo mundo de fora”, disse Peng. “Desejo que o significado desse post não seja mais distorcido”, afirmou.

Grande parte da longa entrevista realizada num hotel em Pequim e organizada pelo Comitê Olímpico Chinês se concentrou na carreira de Peng Shuai. Depois de várias cirurgias no joelho e sem jogar profissionalmente desde fevereiro de 2020, ela disse que não se vê voltando ao tênis profissional.

Surpresa com preocupação internacional

Indagada se teve problemas com as autoridades chinesas desde a publicação do post, Peng não respondeu diretamente, mas fez questão de separar “emoções, esporte e política”. “Meus problemas românticos, minha vida privada, não deveria ser misturada com esporte e política”. Em sua vida não haveria “nada especial”, desde a publicação do post.

A tenista ainda agradeceu a outros esportistas de sua categoria que expressaram preocupação, incluindo Serena Williams, que venceu o Grand Slam 23 vezes e que tuitou “não devemos ficar em silêncio”, em novembro, exigindo uma investigação do caso.

Mostrando-se surpresa, Peng comentou: “Eu gostaria de saber por que tanta preocupação. Nunca desapareci. É que muita gente, como meus amigos e, entre eles, funcionários do COI, me mandaram mensagens, e foi totalmente impossível responder a tantas.”

A Associação Feminina de Tênis (WTA, na sigla em inglês) suspendeu todos os torneios da organização na China, preocupada com a segurança de Peng. Esta disse ter estranhado receber e-mails e mensagens de uma unidade de saúde mental da WTA: “Por que eu precisaria de ajuda psicológica ou coisa do tipo?”

Movimentação do Comitê Olímpico Internacional

Segundo relatos da imprensa internacional, tanto a entrevista quanto o anúncio de que Peng encontrou o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, no último sábado, parecem tentar dispersar as persistentes preocupações internacionais sobre a tripla campeã olímpica. Temores pela segurança de Peng ameaçaram se sobrepor aos Jogos Olímpicos de Inverno que transcorrem desde a sexta-feira em Pequim.

O COI também se movimentou para desarmar a situação nesta segunda-feira. Além de citar o jantar com Bach, afirmou que Peng também assistiu a uma disputa de “curling” (esporte disputado em pista de gelo e é chamado de “xadrez do gelo”) entre a China e a Noruega, acompanhada da zimbabueana Kirsty Coventry, membro do COI.

Em sua coletiva de imprensa diária, o porta-voz do COI, Mark Adams, não detalhou se o órgão acredita que Peng está se manifestando livremente ou se está sendo pressionada. “Somos uma organização esportiva, e nosso trabalho é ficar em contato com ela e, como explicamos no passado, realizar uma diplomacia pessoal e silenciosa, como temos feito.”

No momento, o COI não pode julgar se deveria haver uma investigação sobre as alegações iniciais da tenista. “Acho que podemos dizer que estamos fazendo de tudo para garantir que a situação seja como deveria ser”, alegou Adams. (Com Deutsche Welle e agências internacionais)

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