Quando ingressou em seu segundo mandato como presidente da República, a petista Dilma Vana Rousseff contava com o apoio do Centrão, que como contrapartida foi autorizado a protagonizar o maior escândalo de corrupção de todos os tempos, saqueando os cofres da Petrobras e outras estatais. Quando a situação política de Dilma começou a balançar, o Centrão – o que há de pior na política brasileira – bateu em retirada.
O mesmo pode acontecer com o presidente Jair Bolsonaro, que no início do mandato demonizou o Centrão, mas acabou refém do bloco parlamentar informal que aluga apoio político até quando lhe convém. Vivendo um inferno astral na órbita das pesquisas eleitorais, o que significa ver desmoronar seu projeto de reeleição, Bolsonaro poderá ser abandonado pelo Centrão a qualquer momento.
Um dos próceres do Centrão e gestor do criminoso “orçamento secreto”, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL) começou a emitir os primeiros sinais de que Bolsonaro poderá ser abandonado.
Em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, Lira disse que o presidente da República já deveria ter se vacinado contra a Covid-19. A declaração surge na esteira das exigências do governo russo para que Bolsonaro consiga se reunir com Vladimir Putin – terá de apresentar cinco testes RT-PCR negativos antes de se reunir com o inquilino do Kremlin.
“Ele sempre disse que seria o último da fila. Acho que a fila já rodou e minha opinião é que ele já deveria ter optado por se vacinar”, disse o presidente da Câmara. Na mesma entrevista, reforçando os duros recados dirigidos ao Palácio do Planalto, Lira afirmou que já passou da hora de Paulo Guedes, ministro da Economia, se submeter hierarquicamente ao ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas-PI), outro prócer do Centrão.
Para azedar ainda mais a relação, Arthur Lira afirmou que a reforma tributária só será colocada em votação após as eleições, ou seja, mirando o próximo presidente da República. Se até agora Bolsonaro não compreendeu os recados enviados por Lira, o melhor que o presidente da República pode fazer é contratar um decifrador de mensagens.
Se, de acordo com a Lei de Murphy, “nada estão tão ruim que não possa piorar”, Jair Bolsonaro que se prepare, pois o presidente da Câmara dos Deputados está decidido a colocar em votação o quanto antes o projeto de lei que trata das notícias falsas – ou “fake news”, como queiram.
A decisão de Lira tem como base a dificuldade da Justiça Eleitoral de intimar os representantes do Telegram, aplicativo de mensagens russo, com sede em Dubai, que o bolsonarismo conta para disparar mentiras durante o processo eleitoral.
Enquanto isso, na tentativa de conter o desembarque do Centrão, o governo liberará até setembro R$ 25 bilhões em emendas parlamentares, sendo que 50% desse montante refere-se ao “orçamento secreto”. Em suma, emoções pela frente.
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