Não veremos país nenhum

 
(*) Carlos Brickmann

Jornal da Tarde, 8 de fevereiro de 1988. Manchete: “Petrópolis – os mortos já são 200”. Com pequenas mudanças no número de mortos, poderia ser a manchete de hoje, 34 anos depois.

O Globo, 18 de fevereiro de 2022. “Gonçalo Jr. conta a história da família de Nadir Eler de Lima, que perdeu a filha na terça-feira da mesma forma que já havia perdido a mãe, soterrada pela lama, em 1970”. A reportagem mostra como a tragédia de 1970 atinge de novo a mesma família 52 anos depois.

Flávio Figueiredo, engenheiro, especialista em análises de riscos com 35 anos de experiência, 18 de fevereiro de 2022. “É impressionante ver gestores e técnicos irresponsáveis fecharem os olhos para a contínua implantação e verticalização de ocupações irregulares em áreas de risco. Trata-se de verdadeiro comportamento de genocidas em relação à população mais carente (…) Há cerca de 40 anos um livro que me impressionou muito foi o premiado Não Verás País Nenhum, de Ignacio de Loyola Brandão. Não consegui tirar seu título de minha cabeça após acompanhar as imagens terríveis da tragédia de Petrópolis”. (https://shortest.link/31li)

A tragédia se repete, dá para prever que outras mortes, muitas, se seguirão às de agora e às de antes. Chuvas fortes e enchentes são fenômenos naturais. O que não é natural, e é criminoso, é permitir e incentivar que crianças, adolescentes, adultos e idosos se instalem na rota da destruição e da morte.

Por debaixo dos panos

Se até relógio quebrado mostra a hora certa duas vezes por dia, Bolsonaro pode ter finalizado acordos importantes em sua viagem à Rússia. Como é de seu hábito, deu mais destaque a notícias falsas (como a de que ele impediu a Terceira Guerra Mundial, ou a tradução alucinada de um discurso de Putin, feito há quatro anos em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, em que se pretendeu forjar declarações favoráveis a Bolsonaro).

Os fatos reais

* Brasil e Rússia querem aproximar-se no setor nuclear, especialmente na questão do reator do submarino brasileiro. O reator desenvolvido em Aramar é bom, mas grande e pesado. Os russos têm tecnologia em reatores para submarinos e poderiam ajudar a desenvolver o submarino em menos tempo. O Atlântico Sul é dominado por americanos e ingleses. Ambos são contra a entrada de submarinos nucleares na região, tanto russos como brasileiros.

* Há maior aceitação, hoje, da eletricidade gerada por centrais nucleares. A China anuncia que vai instalar 150 pequenos reatores, os SMR (Small Modular Reactor). Os EUA e a França também preparam lançamentos. A União Europeia aceitou a energia nuclear como limpa e com isso o crédito é muito mais fácil. A Rússia tem a tecnologia que o Brasil quer. Os EUA pretendem produzir hidrogênio nos pequenos reatores (e não têm a menor intenção, ao menos por enquanto, de colaborar com o Brasil). Reator pequeno é bom para submarino que pretendem manter inacabado.

* E, dependendo desses pequenos reatores, o submarino brasileiro terá outro problema resolvido: o suprimento de eletricidade para ficar submerso por longos períodos. Cada vez que tem de ir à superfície o submarino pode ser localizado. Ficando submerso, é difícil achá-lo.

O agronegócio

O Brasil tem condições de vender muito mais alimentos à Rússia, tanto que dois executivos de frigoríficos acompanharam a comitiva. E precisará de mais fertilizantes. Os russos fornecem hoje 22% dos fertilizantes importados pelo Brasil, são o segundo produtor mundial de fertilizantes nitrogenados, o segundo de potássicos e o quarto de fosfatados. Dá boa parceria, sim.

O trabalho de Carluxo

O senador Flávio Bolsonaro ficou no Brasil, embora tenha mandato federal. O deputado Eduardo Bolsonaro, também detentor de mandato federal, não viajou. Quem viajou foi Carluxo, detentor de mandato municipal (é vereador no Rio). A missão de Carluxo parece ter algo a ver com a campanha de Bolsonaro, em que é chefe da informática. Ter um QG na Rússia, longe do alcance dos tribunais brasileiros, é uma maravilha.

Tudo é, porém, preliminar: estará a Rússia interessada em ajudar Bolsonaro? E a aliança russo-chinesa, como fica? Os chineses o aceitarão numa boa?

Questão de caráter

A alemã Daniela Maier reclamou por ter recebido a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Inverno. Motivo: a seu ver, a medalha de bronze era de Fanny Smith, que tinha sido desclassificada, e não achou justo recebê-la. Em Zhangjiakou, Daniela Maier foi a quarta, perdendo para a sueca Sandra Naslund, a canadense Marielle Thompson e a americana Fanny Smith.

Os juízes concluíram que Fanny Smith tinha esbarrado involuntariamente em Daniela Maier e a desclassificaram. Daniela argumentou que isso não era justo, mas a decisão foi mantida.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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