Silêncio de Bolsonaro em relação à invasão da Ucrânia reforça a condição do Brasil de pária internacional

(Evaristo Sá – AFP)

 
Isolado no âmbito internacional, onde é considerado um pária, o presidente Jair Bolsonaro viajou à Rússia recentemente acreditando que estar ao lado de Vladimir Putin seria uma demonstração de prestígio, principalmente no momento em que seu projeto de reeleição bambeia.

Horas após o início da invasão da Ucrânia pelas tropas militares russas, Bolsonaro não abordou o assunto em conversa com apoiadores no “cercadinho” do Palácio da Alvorada nem no discurso feito em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, onde inaugurou um trecho da BR-153.

Durante encontro com o presidente Vladimir Putin, no Kremlin, Bolsonaro disse que o Brasil é solidário à Rússia. Contudo, o presidente brasileiro não detalhou a anunciada solidariedade, permitindo o entendimento de que o País aprovava naquele momento o plano de invasão do território ucraniano, forma que Putin encontrou para jogar uma cortina de fumaça sobre a crise interna que enfrenta há anos.

Apesar desse cenário, Bolsonaro tentou capitalizar o encontro com o líder russo, vendendo a ideia, por sugestão de irresponsáveis apoiadores, de que sua presença em Moscou serviu para convencer Putin a não levar adiante o plano de invasão.

 
Com a cúpula do governo brasileiro dividida em relação ao conflito no Leste da Europa, a manifestação do Itamaraty foi pífia e sem um tom mais firme contra a invasão da Ucrânia. O Ministério das Relações Exteriores limitou-se a afirmar em nota (abaixo) que o governo “acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia.”

“O Governo brasileiro acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia.

O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil.

Como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil permanece engajado nas discussões multilaterais com vistas a uma solução pacífica, em linha com a tradição diplomática brasileira e na defesa de soluções orientadas pela Carta das Nações Unidas e pelo direito internacional, sobretudo os princípios da não intervenção, da soberania e integridade territorial dos Estados e da solução pacífica das controvérsias.”

 
A demora do governo em se manifestar a respeito da invasão da Ucrânia e a alienação do presidente Jair Bolsonaro em relação a tema de tamanha gravidade deixa o Brasil mais isolado no cenário internacional, em especial no Ocidente.

Órfão na direita global depois da derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas, Bolsonaro age dessa forma para não demonstrar alinhamento ao presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, como se tal postura ajudasse o Brasil a sair de uma crise múltipla aparentemente sem fim.

Se a viagem a Moscou, agendada antes do acirramento da crise geopolítica, foi um fiasco que reverberou internacionalmente, o silêncio de Bolsonaro o ridiculariza ainda mais e compromete sobremaneira um projeto de reeleição que desperta dúvidas recorrentes.

Lembramos, mais uma vez, que na campanha presidencial de 2018 afirmamos que o então candidato Jair Bolsonaro era – e continua sendo – ignaro e incompetente, assim como desprovido de estofo para cargo de tamanha importância e responsabilidade, como a Presidência da República. Na verdade, com base em decisões e atitudes, Bolsonaro sequer tem competência para porteiro de casa de alterne. Mesmo assim, há quem diga que trata-se do melhor presidente que o Brasil já teve.

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