Dia Internacional das Mulheres: Aras diz que elas “têm o prazer de escolher o sapato e a cor da unha”

 
Procurador-geral da República, Augusto Aras foi reconduzido ao cargo, em agosto de 2021, por conta da subserviência ao presidente Jair Bolsonaro. Na verdade, Aras, que flertava com uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), aceitou continuar fazendo o papel de “engavetador-geral”, tamanha é a quantidade de decisões favoráveis ao Palácio do Planalto.

Nesta quarta-feira (9), durante evento alusivo ao Dia Internacional das Mulheres, comemorado no dia anterior, Aras mostrou que seu pensamento é muito próximo ao de Jair Bolsonaro quando o assunto é o universo feminino. Ao discursar, o procurador-geral disse que as mulheres “têm o prazer de escolher a cor da unha que vão pintar, o sapato que vai calçar”.

“Esse dia é um dia de homenagem à mãe, às filhas. É um dia de homenagem à mulher. À mulher no seu sentido mais profundo, da sua individualidade, da sua intimidade. À mulher que tem o prazer de escolher a cor da unha que vai pintar. À mulher que tem o prazer de escolher o sapato que vai calçar. Pouco me importa que tipo de escolha ela faça, porque essas maravilhosas mulheres que integram as nossas vidas e as nossas instituições são tão dedicadas a todas as causas em que se envolvem”, afirmou Aras.

A visão míope e tacanha de Augusto Aras sobre as mulheres vai ao encontro do discurso do presidente da República, que na terça-feira, durante solenidade no Palácio do Planalto, afirmou que as mulheres estão “praticamente integradas à sociedade”.

No momento em que o Brasil assiste ao aumento de casos de violência contra as mulheres, as falas de Bolsonaro e Aras mostram de forma inequívoca o retrocesso a que o País foi submetido a partir das eleições de 2018.

Destacar, em evento comemorativo do Dia Internacional das Mulheres, que as brasileiras têm prazer ao escolher a cor do esmalte ou o sapato que usará é subestimar a capacidade e a força de 101 milhões de mulheres que existem no País, representando 51,5% da população.

 
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Não é preciso muito esforço do raciocínio para constatar que a política é um universo predominantemente masculino, assim como acontece no âmbito do Judiciário. O brasileiro acostumou-se com o “faz de conta” que reina no País, por isso não se importa com o tratamento nada isonômico dispensado às mulheres.

Dos 23 titulares dos ministérios do governo Bolsonaro, apenas três são mulheres – Tereza Cristina (Agricultura), Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos).

No Supremo Tribunal Federal há apenas duas mulheres entre os onze ministros – Rosa Weber e Cármen Lúcia. No Superior Tribunal de Justiça (STJ), apenas seis mulheres figuram entre os 33 ministros – Laurita Vaz, Nancy Andrighi, Maria Thereza de Assis Moura, Maria Isabel Diniz Gallotti Rodrigues, Assusete Dumont Reis Magalhães e Regina Helena Costa. Na própria PGR, a única mulher que esteve no comando do Ministério Público Federal foi Raquel Dodge.

Faz-se necessário ressaltar que a Constituição Federal é clara ao estabelecer que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, mas as mulheres continuam em desvantagem, apesar de serem maioria.

Resumindo, Aras e Bolsonaro, quando calados, são verdadeiros poetas. Por outro lado, torna-se difícil saber se para o STF um machista enrustido seria menos complicado do que um “terrivelmente evangélico”.

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