(*) Waldir Maranhão
Quando estava em campanha para chegar ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro cunhou a máxima “mais Brasil, menos Brasília”. Essas palavras foram repetidas após a vitória nas urnas, dando esperança aos governadores eleitos e reeleitos.
Bolsonaro talvez tenha se entusiasmado com o fato de ter Messias no nome e tentou vender aos desavisados o embuste de que sua chegada ao poder central seria uma missão divina, uma chave para acionar o botão do milagre.
Longe de querer lamber os coturnos dos protagonistas da ditadura militar, pelo contrário, o milagre brasileiro que entrou para a história do país foi um período (1968-1973) marcado pelo crescimento do PIB, avanço da industrialização e queda da inflação.
A falsa ideia que correu o país nas eleições de 2018 de que um capitão e um general, ambos da reserva, poderiam reprisar o passado na área econômica, bem entendido, durou pouco tempo.
Hoje, com a inflação na casa dos dois dígitos (10,54% no acumulado de doze meses), a situação econômica brasileira se aproxima da tragédia anunciada, principalmente porque a elevação dos preços dos combustíveis deve turbinar o mais temido fantasma da economia.
Sobre o bordão “mais Brasil, menos Brasília”, somente os governadores alinhados ideologicamente a Bolsonaro viram alguma mudança no cenário. Tirante a porção que cada estado tem direito no escopo da arrecadação tributária federal – Fundo de Participação dos Estados –, algumas unidades da federação foram abandonadas pelo Palácio do Planalto.
É o caso do meu estado, o Maranhão, onde o eleitorado favorável a Lula faz com que uma das mais pobres unidades da federação seja deixada à beira do caminho. Quando chega à Presidência, o eleito não pode governar apenas para os seus, mas para todos, independentemente das divergências ideológicas. Afinal, os tributos pagos pelos opositores valem tanto quanto os pagos pelos aliados e apoiadores.
Ressalto que, além da questão tributária, todos os brasileiros – de esquerda, de direita, de centro ou de lado nenhum – têm seus direitos assegurados pela Constituição, diariamente desrespeitada pelo atual governo.
Quem conhece o Maranhão além dos limites da capital sabe que não estou errado. A maior prova do abandono por parte do governo federal está na rodovia Belém-Brasília, a BR-010.
No trecho que a BR-010 corta o Maranhão, a situação da pista é uma clara demonstração de que o mote “mais Brasil, menos Brasília” ainda não chegou ao meu estado.
São tantos buracos, que trafegar no trecho maranhense da Belém-Brasília é viver em perigo constante. Ou o motorista conhece a estrada, ou é melhor não se arriscar.
As eleições de 2022 se aproximam e é preciso que o eleitor saiba escolher quem irá representá-lo em Brasília com determinação e responsabilidade. Não se pode aceitar que um estado como o Maranhão sofra as consequências de uma batalha ideológica descabida.
É necessário e importante não penalizar a população porque governantes estão em lados opostos. Uma coisa é ser adversário, outra é ser inimigo. E nós maranhenses somos tratados como inimigos pelos ocupantes do Palácio do Planalto, que insistem em governar com o cajado da ideologia.
O Maranhão é um estado rico em recursos naturais e uma população valente e corajosa, a ponto de não esmorecer diante das dificuldades que se apresentam a todo instante.
Em ano de eleições, políticos abrem seus arquivos para propagandear a destinação de recursos públicos para esse ou aquele município, mas escondem as respectivas caixas de Pandora de forma sorrateira.
Os leitores têm o direito à discordância, ao contraponto, mas não podemos normalizar o que no Maranhão tornou-se comum: o abandono. Refiro-me ao abandono não apenas presente na esburacada Belém-Brasília, mas ao abandono de forma geral, em todas as áreas, em especial nas mais sensíveis.
Pode parecer sem sentido a abordagem que faço neste artigo, mas é obrigação, como diz o ditado romano, dar a César o que é de César. Sem se preocupar com detalhes, a população credita o abandono da BR-010 ao governo do Maranhão, quando na verdade a responsabilidade é exclusiva do governo federal.
O Ministro da Infraestrutura abriga em seu guarda-chuva o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), órgão responsável pelas estradas federais em todo o território nacional. Ministro da pasta, Tarcísio Gomes de Freitas, que no governo de Dilma Rousseff comandou o DNIT, é até o momento o escolhido de Bolsonaro para disputar o governo de São Paulo, onde é um ilustre desconhecido.
O presidente da República parece não respeitar o Messias que carrega na certidão de nascimento, mas eu sou Maranhão no nome, na alma e nas convicções.
Mudar é preciso, votar com consciência é importante para a democracia, que não pode ficar parada na estação do discurso fácil.
Pronto para mais uma vez defender os interesses dos meus conterrâneos, decidi, por coerência e civismo, deixar o PROS em razão dos recentes episódios que levaram intensa turbulência ao partido. Minha essência é movida pela solidariedade. Mais democracia, menos revanchismo. Mais Maranhão, menos Brasília!
(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.
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