Responsável por meu retorno à fotografia, Orlando Brito, um dos maiores do fotojornalismo, morre em Brasília


 
(*) Ucho Haddad

De novo retomo a pena para mais uma despedida, um adeus. Momento difícil em um Brasil totalmente desgovernado. Nesta sexta-feira (11), o fotógrafo Orlando Brito faleceu em Brasília, aos 72 anos, após complicações decorrentes de cirurgia.

Mineiro de Janaúba, Orlando Péricles Brito de Oliveira sempre será um dos maiores fotojornalistas do País. Desde a década de 60 na capital federal, Brito contou em imagens a história política nacional. Fotografou presidentes da República, da ditadura à democracia, políticos e protagonistas do poder. Registrou com suas câmeras o fechamento do Congresso Nacional, em 1977, durante o governo do general Ernesto Geisel, traduziu em imagens várias posses de presidenciais, de Costa e Silva a Jair Bolsonaro.

Em nossas conversas, nos últimos anos por telefone, Orlando revelava sua indignação com o atual momento do País. Essa estupefação estava presente nas muitas imagens que coroaram sua carreira.

Longe das esferas do poder, Brito construiu um acervo fotográfico indescritível, com imagens de pessoas comuns, indígenas, esportistas destacados e ícones da cultura. Sempre pronto para uma palavra de apoio, um conselho, sempre com sua mineirice, Brito ficará na minha memória, nas minhas orações.

Com a câmera a tiracolo, Brito visitou mais de 60 países, cobriu Copas do Mundo de futebol e Jogos Olímpicos. Foi um mestre no campo das imagens. Em 1979, tornou-se o primeiro brasileiro premiado no “World Press Photo Prize” do Museu Van Gogh, de Amsterdã, o mais prestigiado prêmio internacional de fotojornalismo. Conquistou o primeiro lugar na categoria “Sequências”, com uma sucessão de fotos sobre um exercício militar batizada como “Uma missão fatal”.

Conquistou 11 vezes o Prêmio Abril de Fotografia, até que adquiriu o status de “hors concours”. Afinal Brito foi, é e sempre será o Pelé do fotojornalismo. Aliás, Orlando sempre publicava nas redes sociais uma foto ao lado do Rei do Futebol. Publicou seis livros de fotografia, entre os quais “Poder, Glória e Solidão”, que retrata episódios e personalidades da história política brasileira.

Na esfera do jornalismo político, foi um amigo imprescindível na minha decisão de iniciar um processo de regressão profissional e voltar ao ofício original, a fotografia. Foi responsável pela compra da minha última câmera, a qual lhe entreguei para que configurasse ao seu modo. Isso fará com que todas as vezes que empunhar a Leica lembrarei de Orlando Brito.

Orlando, assim como Dida Sampaio, outro amigo querido que partiu, foi espetacular atrás da máquina fotográfica. Seu olhar era certeiro. Durante anos a fio, encontrei Orlando Brito nos corredores, nos salões e nos plenários do Congresso Nacional. No anel superior do plenário da Câmara, onde atuam fotógrafos e cinegrafistas, Orlando volta e meia tirava uma dica da cartola. Era mágico, não ilusionista. Conseguia encaixar o pragmatismo da política na beleza de suas fotos.

Como fazia religiosamente todo dia 8 de fevereiro, telefonei para cumprimentá-lo pelo aniversário. O celular de Orlando Brito estava desligado, mas ele enviara uma mensagem de voz informando que havia saído de uma cirurgia complexa e estava em recuperação igualmente complexa na UTI. Não mais falei com Orlando.

Brito, meu amigo, muito obrigado por tudo, obrigado por sua paciência, seu carinho, suas dicas. Obrigado por me orientar na compra da mais recente câmera. Você foi responsável pelo meu retorno à fotografia. Que sorte a minha de ter alguém como você nesse caminho de volta. Vá em paz e que Deus conforte todos nós, órfãos do seu inenarrável talento.

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.

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