Em vez de criticar a Petrobras, Bolsonaro deveria cobrar de Paulo Guedes uma política econômica eficaz

 
O presidente Jair Bolsonaro insiste em transformar a Petrobras em ferramenta de campanha, mas suas investidas contra a companhia, que esbarram na legislação, têm fracassado sobejamente. Ciente de que os preços dos combustíveis podem desidratar ainda mais seu projeto de reeleição, Bolsonaro tem criticado de forma reiterada a estatal, que precifica seus produtos com base na cotação do petróleo no mercado internacional.

Mesmo o governo sendo acionista majoritário da empresa, interferir na política de preços é algo impossível, reconhecido por integrantes do governo. Por isso Bolsonaro tem feito pressão para que o presidente da companhia, Joaquim Silva e Luna, deixe o posto, como se uma mudança no comando da estatal fosse capaz de reduzir os preços dos combustíveis. Luna e Silva, que conta com o apoio dos generais palacianos, já avisou que não pedirá demissão.

Nesta quarta-feira (16), Bolsonaro admitiu que soube do aumento dos preços dos combustíveis um dia antes do anúncio feito pela Petrobras. “Chegou para nós que eles iriam ajustar na quinta-feira da semana passada. Foi feito pedido para que deixasse para o dia seguinte, atrasasse um dia, não nos atenderam”, declarou o presidente. “Por um dia, a Petrobras cometeu esse crime contra a população, esse aumento absurdo. Ação governamental não é interferir na Petrobras, é bom senso”, destacou.

Jair Bolsonaro, um néscio assumido, pode pensar e falar o que bem entender, mas dizer que a Petrobras cometeu um crime contra a população é no mínimo devaneio de um populista adepto do totalitarismo. A estatal tem acionistas minoritários, que devem ser respeitados, e papeis comercializados nas bolsas de São Paulo e Nova York. Por conta desses detalhes precisa tomar decisões como uma empresa de mercado, não como entidade benemerente.

 
Em entrevista, nesta quarta-feira, Bolsonaro disse que a Petrobras “não colabora com nada” e que por ele poderia “ser privatizada hoje”. Como destacado no parágrafo acima, a Petrobras não tem o deve de colaborar, mas de assumir a postura de uma empresa de mercado e com ações comercializadas nas bolsas de valores.

Uma eventual privatização da companhia não mudará os preços dos combustíveis. Na verdade, a venda da empresa para o setor privado certamente pioraria ainda mais o cenário atual. É importante lembrar que a Petrobras ficou quase dois meses com os preços congelados, antes de anunciar os aumentos da última semana.

Em conversa com apoiadores na frente do Palácio da Alvorada, na manhã desta quarta-feira, Bolsonaro tentou se explicar sobre os preços dos combustíveis e disse que faz o que pode. “O que eu puder fazer, não mando na Petrobras, não tenho ingerência sobre ela, o que a gente puder fazer, a gente faz”, afirmou.

Quando o atual governo estreou, em janeiro de 2019, o preço médio da gasolina era R$ 4,27, ao passo que hoje o combustível é vendido, na média, por R$ 7,50 (em alguns estados a gasolina é comercializada a R$ 10 o litro). Situação idêntica aconteceu com o gás de cozinha – em janeiro daquele ano o preço médio era de R$ 64, hoje o botijão de 13 quilos custa R$ 130.

Na mesma época, o dólar estava cotado a R$ 3,65, enquanto nesta quarta-feira a moeda norte-americana encerrou o dia valendo R$ 5,09. A combinação dos dois fatores – política econômica desastrada e desvalorização do real frente ao dólar –, além dos efeitos do cenário internacional, leva o País a esse calvário no campo dos derivados de petróleo, cujos preços acabam puxando a inflação para cima.

Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.