Banditismo de pastores na Educação envolvia pedidos de propina e compra forçada de exemplares da Bíblia

 
O escândalo envolvendo os pastores evangélicos que vinham atuando como lobistas no Ministério da Educação, com a conivência do ministro Milton Ribeiro, ganha novos capítulos. Prefeitos de alguns municípios têm afirmado que receberam pedido de propina dos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura.

O presidente Jair Bolsonaro, que conta com o apoio do eleitorado evangélico, sempre soube do ilícito e disse, após a revelação do caso, não ver nada demais na atuação da dupla que usava o nome de Deus para avançar sobre o dinheiro público.

Prefeito da cidade de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga, do PSDB, afirma que o pastor Gilmar pediu propina de R$ 15 mil para viabilizar ao município recursos do Fundo Nacional de Educação (FNDE) e mais um quilo de outro no momento da liberação do valor.

O prefeito de Bonfinópolis (GO), Professor Kelton Pinheiro (Cidadania), revelou ao jornal “O Estado de S. Paulo” que Arilton Moura ofereceu abatimento de 50% no pedido de propina. Pinheiro relatou que a proposta de Moura foi feita durante almoço no restaurante Tia Zélia, em Brasília, e teve o aval do pastor Gilmar Santos, líder da igreja Cristo para Todos.

O prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza, disse ao Estadão que foi levado ao restaurante de um hotel em Brasília após evento no Ministério da Educação. No restaurante, segundo o prefeito, Arilton perguntou se ele teria interesse em ter uma escola profissionalizante na cidade. “Eu disse que tinha outras demandas, como creche, terceirização de ônibus”, disse. Souza afirmou que o pastor disse que se ele quisesse poderia ter a escola na hora.

“Ele disse: Eu falo lá, já faz um ofício, mas você tem que fazer um depósito de R$ 40 mil para ajudar a igreja”, afirmou. Souza disse que respondeu que não faria esse tipo de negócio. A cidade de Boa Esperança, segundo o prefeito, não teve qualquer ajuda do ministério em projetos educacionais.

Em outra ponta do escândalo há o caso da distribuição de exemplares da Bíblia, impressas pela editora Cristo para Todos, de propriedade do pastor Gilmar Silva dos Santos. Em evento na cidade de Nova Odessa, no interior paulista, que contou com a participação do ministro Milton Ribeiro, houve pregação dos dois pastores (Gilmar e Arilton) e distribuição de exemplares da Bíblia.

 
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Uma secretária que participou do evento e pediu para seu nome não ser revelado afirmou ao Estadão que o cenário era “desconfortável, escandaloso para quem é da educação”.

Ela disse que os exemplares da Bíblia estavam em mesas junto aos profissionais do FNDE, que participaram do encontro para resolver eventuais dificuldades das gestões municipais para obter recursos públicos da pasta.

De acordo com um prefeito do interior paulista, que também pediu para não ser identificado, a aquisição de exemplares da Bíblia era condição prévia para que Milton Ribeiro fosse até a cidade. Situação idêntica ocorreu em São João da Boa Vista, cidade a 200 quilômetros da capital paulista.

Gazeteiro profissional, o presidente Jair Bolsonaro, quando contrariado por outros Poderes, sempre diz que “joga dentro das quatro linhas da Constituição”, mas não é exatamente isso que acontece. O presidente deveria saber que, segundo a Carta Magna, o Estado é laico. Portanto, condicionar a liberação de recursos públicos e a presença do ministro em eventos à aquisição de exemplares da Bíblia é crime.

Bolsonaro, preocupado com um projeto de reeleição que esfarela com o passar dos dias, aproveita a “blindagem” que lhe oferece a bancada evangélica no Congresso Nacional para manter Milton Ribeiro no cargo, quando na verdade o ministro já deveria ter sido demitido e processado. Em relação aos alarifes travestidos de pastores, ambos deveriam ser presos.

Dissimulado, como sempre, Bolsonaro não demorará muito para surgir em cena e afirmar que o escândalo é mais um caso de perseguição da imprensa e dos adversários políticos, que, segundo ele, trabalham pela volta de Lula ao Palácio do Planalto.

Em 2018, durante a corrida presidencial daquele ano, o UCHO.INFO afirmou em diversas ocasiões que Bolsonaro era, como ainda é, incompetente e em termos políticos o que se conhece como “mais do mesmo”. O tempo passou e o nosso alerta se confirmou.

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