Bolsonaro diz que “bota a cara no fogo” por Milton Ribeiro, mas corre o sério risco de morrer queimado

 
Nos bastidores do poder, confirmando nossa afirmação, o presidente Jair Bolsonaro tem dito a interlocutores que a imprensa decidiu perseguir o ministro Milton Ribeiro, da Educação, alvo de inquérito criminal por suspeitas de corrupção passiva, tráfico de influência, prevaricação e advocacia administrativa.

Bolsonaro é tão previsível que chega a ser grotesco em suas declarações. O papel da imprensa, é bom ressaltar, é vigiar os ocupantes dos Poderes e informar a sociedade sobre as transgressões por eles cometidas. Se o presidente insiste em dizer que “joga dentro das quatro linhas da Constituição”, que aceite o trabalho da imprensa, pois o cidadão tem garantido o direito à informação.

É inaceitável que em um Estado laico a liberação de verbas públicas de um ministério seja condicionada não apenas ao pagamento de propina, mas a contribuições a igrejas e compra de exemplares da Bíblia. Ao usar de forma recorrente e em vão o nome de Deus, Bolsonaro imagina que tem liberdade para fazer o que bem entender com o suado dinheiro do contribuinte.

Na noite desta quinta-feira (24), em sua enfadonha live semanal, o presidente disse que Milton Ribeiro é ‘alvo de covardia”. Bolsonaro foi além em mais um destempero discursivo e afirmou: “Boto a minha cara no fogo pelo Milton”.

“O Milton, coisa rara de eu falar aqui. Eu boto minha cara no fogo pelo Milton, minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia com ele”, afirmou o chefe do Executivo, como se nada valessem as declarações dos prefeitos que foram achacados pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura, que cobravam propinas para a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

O presidente sabe que corre o risco de se tornar alvo do inquérito criminal solicitado pela Procuradoria-Geral da República e instaurado mediante autorização da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF). Por isso surgiu em cena com um palavrório dissimulado e visguento.

 
Jair Bolsonaro imagina que consegue comover toda a opinião pública com suas falas novelescas, mas é no mínimo imolação “botar a cara no fogo” por um ministro que pediu à Controladoria-Geral da União (CGU) investigar denúncias de corrupção envolvendo os pastores e em seguida liberou recursos solicitados com a intermediação da dupla (Gilmar e Arilton).

Na transmissão pelas redes sociais, Bolsonaro defendeu o trabalho de Milton Ribeiro e disse que o caso já tinha sido encaminhado aos órgãos de investigação antes de os áudios serem revelados.

A CGU recebeu pedido de investigação em setembro de 2021, mas ao final da apuração (sic) concluiu que os ilícitos foram cometidos por terceiros, não por servidores do Ministério da Educação. Em outras palavras, a CGU entende que a roubalheira patrocinada pelos pastores não deve ser investigada.

Diante da reverberação do escândalo, a CGU decidiu nesta quinta-feira, com sete meses de atraso, enviar a investigação para a Polícia Federal, que, é bom lembrar, está sendo tomada de assalto por Bolsonaro, filhos e quejandos. Pois bem, se a CGU não encontrou motivos para levar a investigação adiante, talvez por pressão palaciana, causa espécie a decisão de acionar a PF.

Depois que vários prefeitos relataram pedidos de propina por parte dos pastores, a situação piorou com a declaração do prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), que revelou o nome de terceira pessoa no esquema criminoso liderado pelos pastores. Trata-se de Nely da Veiga Carneiro Jardim, que participava de reuniões com o ministro Milton Ribeiro mesmo sem ter cargo no Ministério da Educação.

A ousadia de Nely era tamanha, que ela chegou a dizer a alguns prefeitos que tinha nas mãos os orçamentos da Educação e da Saúde. A um prefeito do interior de Goiás, que pediu para não ser identificado e recusou contrato de assessoria oferecido por Nely, mas disponibilizou gravação de um telefonema em que ela sugere trocar a liberação de recursos por votos para um deputado estadual da igreja.

Fosse o Brasil um país sério, não é o caso, o governo de Jair Bolsonaro já teria caído e os envolvidos nesse enredo criminoso estariam presos e com os bens indisponíveis. Para quem prometeu combater a corrupção e acabar com a “mamata”, Bolsonaro é uma ode à farsa. Não foi por falta de aviso de nossa parte.

Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.