A substituição do general Joaquim Silva e Luna por Adriano Pires na presidência da Petrobras, anunciada pelo Palácio do Planalto na segunda-feira (28), será inócua e não representa garantia de que haverá queda nos preços dos combustíveis. Isso porque a empresa tem política de preços baseada no preço do petróleo no mercado internacional.
A decisão do presidente Jair Bolsonaro foi tomada após divulgação de pesquisa do instituto Datafolha que apontou a percepção de 78% da população de que a responsabilidade pelos altos preços dos combustíveis é do governo.
Na verdade, Bolsonaro sabe que não pode interferir na estatal, uma empresa de economia mista, mas faz a mudança na tentativa de demonstrar ao eleitorado que teta adotar alguma medida no âmbito dos preços dos combustíveis, que têm puxado a inflação para cima e para baixo as chances de vitória do presidente nas eleições de outubro.
Quando trocou o economista Roberto Castello Branco por Silva e Luna, em abril de 2021, o presidente da República quis jogar para a plateia, a exemplo do que faz agora. Se Castello Branco ignorou as investidas de Bolsonaro, o general vem agido da mesma maneira, pois entre o que deseja o governo e o possível em termos de preços há uma grande diferença.
A chegada de Adriano Pires ao comando da Petrobras, que deve ser aprovada pelo Conselho da companhia, não garante coisa alguma. Aliás, Pires, que é fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), já disse ser impossível alterar os preços dos combustíveis de acordo com a vontade do governo. O executivo também já declarou que o brasileiro deveria torcer para que o preço do petróleo no mercado internacional chegasse a US$ 200 o barril.
Pires defende a criação de um colchão de amortização com o uso dos dividendos pagos pela Petrobras ao acionista majoritário, no caso a União, mas essa é uma medida que tem a rejeição da equipe econômica, comandada pelo ainda ministro Paulo Guedes.
O UCHO.INFO afirmou em matéria anterior que se Bolsonaro sonha com preços dos combustíveis mais baixos, que use os dividendos repassados pela Petrobras ao Tesouro Nacional para criar subsídios, mas alertamos que a utilização desses recursos prejudicará a população em outra ponta.
Em 2021, a Petrobras pagou mais de R$ 200 bilhões em dividendos, impostos, taxas e royalties, montante utilizado pelo Estado, como um todo, em políticas públicas. A criação de subsídios prejudicaria a população mais carente, pois setores sensíveis da estrutura governamental ficaram mais vulneráveis em termos financeiros.
O que Bolsonaro deveria fazer, mas não faz por falta de coragem, é cobrar de Paulo Guedes uma política econômica mais eficaz. O ministro tem demonstrado ao longo dos últimos três anos ser um especialista em discursos absurdos e desconexos da realidade, os quais são usados como cortina de fumaça para esconder um cenário preocupante em termos econômicos.
A Petrobras, no que tange à participação acionária da União, é propriedade do povo brasileiro, mas é preciso respeitar os direitos dos acionistas minoritários, que não podem arcar com prejuízos apenas porque a reeleição de Bolsonaro está ameaçada.
Qualquer medida alinhada aos anseios do presidente da República reduzirá o valor de mercado da Petrobras, comprometerá o plano de investimentos da empresa e prejudicará a população no médio e longo prazo.
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