João Dória desistiu de desistir, mas tudo não passa de jogo de cena ensaiado às pressas com o PSDB

 
Bastaram algumas horas para o governador de São Paulo, João Dória Júnior (PSDB), desistisse de desistir de sua pré-campanha à Presidência da República. Desde as primeiras horas desta quinta-feira (31), o cenário apontava para uma desistência de Dória em relação à corrida presidencial e sua saída do PSDB.

A decisão, já revertida, surgiu diante da possibilidade cada vez mais concreta de o PSDB não reconhecer o resultado das prévias partidárias, que deram a Dória a chance de concorrer ao Palácio do Planalto. Mas esse direito não é absoluto por algumas razões.

Primeiramente, a decisão soberana do PSDB sobre o candidato à Presidência sairá da convenção partidária, que é soberana e deve acontecer até o meio do ano. Isso significa que o resultado das prévias poderá ser ignorado pelos convencionais da legenda.

A segunda razão é que parte da cúpula tucana defende a candidatura de Eduardo Leite, que está deixando o governo do Rio Grande do Sul para disputar a Presidência, seja como candidato do partido, seja como vice em alguma chapa liderada por um candidato de algum partido com o qual o PSDB faça aliança. A hipótese que predomina no momento é Leite ser candidato a vice em chapa liderada pela senadora Simone Tebet (MDB-MS).

A terceira razão, talvez a mais complexa, é que João Dória, ao ingressar no PSDB para concorrer à Prefeitura de São Paulo, em 2016, acreditou que em algum momento poderia tomar o partido de assalto. Esse movimento teve os primeiros passos logo depois da eleição de Dória para o governo paulista, plano que desfez na sequência. Essa estratégia fracassou porque Aécio Neves, ex-senador e deputado federal por Minas Gerais, passou a trabalhar nos bastidores contra Dória. E não se pode comparar a influência de Aécio no PSDB com a que João Dória imaginava ter.

 
Como noticiamos em matéria anterior, o anúncio de que Dória desistiria de concorrer à Presidência e poderia sair do PSDB foi um balão ensaio para ver a reação do partido, que sai dessa confusão ainda mais rachado e muito menor.

Dória foi convencido a manter o plano original – deixar o governo de São Paulo e manter sua candidatura ao Palácio do Planalto –, deixando o caminho livre para o vice Rodrigo Garcia, que assumirá o governo paulista e concorrerá ao Palácio dos Bandeirantes em outubro próximo.

Sem estar sentado na cadeira de governador e sem ter a caneta e a chave do cofre nas mãos, Garcia se recusava a levar adiante sua candidatura, considerada no PSDB como questão já resolvida. Além disso, Dória poderia bater o pé e, permanecendo no cargo, disputar a reeleição. Que essa quase traição do governador aconteceria os leitores do UCHO.INFO já sabiam, pois há muito antecipamos os fatos.

Confusão armada e recuo acertado, João Dória deve anunciar sua saída do governo de São Paulo e confirmar a candidatura à Presidência, mas trata-se apenas de um jogo de cena. Isso porque, mais adiante, Dória, que precisa de uma saída honrosa, dirá que abre mão de concorrer ao Palácio do Planalto. Ao marqueteiro que acreditou ser político restará retornar à iniciativa privada, de onde jamais deveria ter saído.

Fato é que o PSDB, que sempre foi um ninho de discórdia, apesar dos punhos de renda da maioria dos caciques, atuou rapidamente nas coxias da legenda para evitar o pior. Se o desempenho de João Dória como pré-candidato é pífio, como mostram as pesquisas eleitorais o cenário deixado para Rodrigo Garcia não é dos melhores. No cômpito final, o PSDB se salvou ao contornar a crise, evitando uma debandada de deputados e prefeitos, mas precisa solucionar o amontoado de problemas internos. O que será do partido a partir de agora é exercício de futurologia ou obra do achismo.

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