O presidente Jair Bolsonaro vive em um cenário marcado por nauseante dualidade. Há dias, em evento de pré-campanha, Bolsonaro disse que, passados três anos e três meses, não houve uma só denúncia de corrupção no governo. A corrupção corre solta nos subterrâneos da Esplanada dos Ministérios, mas o chefe do Executivo insiste em se fazer de desentendido. Talvez porque esse papel de “tolo de encomenda” seja favorável à sua tentativa de reeleição.
Nesta segunda-feira (11), em entrevista a um grupo de comunicação do Pará, Bolsonaro afirmou que a Polícia Federal não precisa investigar o seu governo, pois não há corrupção na atual gestão, apenas indícios. Disse o presidente: “Não fazemos nada de errado”.
É difícil saber o que entende por “errado” quem emprega funcionários fantasmas, se apropria de boa parte dos salários dos servidores de gabinetes, considera normal manter relação com milicianos e se rende às chantagens daqueles que defendem o proxenetismo político como forma de garantir um regime supostamente democrático.
Enquanto recorre ao falso bom-mocismo, ferramenta que não mais convence, Bolsonaro teve um ato de coragem ao assumir que entrega cargos e recursos públicos ao Centrão em troca de apoio político no Congresso Nacional.
“Para aprovar qualquer coisa, em especial Emenda Constitucional, passa por eles (parlamentares do Centrão). Agora, nosso relacionamento não é como no passado. Alguns cargos foram dados para partidos de centro, sim, não vou negar isso aí. Agora, nós temos filtros”, disse o presidente em entrevista.
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Sobre os R$ 16,5 bilhões destinados ao orçamento secreto deste ano, o chefe do Executivo foi além no campo do devaneio. “Essa outra parte de emenda ajuda a acalmar o Parlamento. O que eles querem, no final das contas, é mandar recursos para sua cidade”, afirmou.
Em relação à afirmação “nosso relacionamento não é como no passado”, Bolsonaro tenta camuflar a realidade dos fatos, pois sabe que sua eleição em 2018 só foi possível à sombra do discurso de combate à corrupção. A relação de Bolsonaro com o Centrão se dá nos mesmos moldes de governos anteriores: à base de corrução no modelo “porteira fechada”.
Tanto é assim, que o Palácio do Planalto acendeu a luz vermelha para o escândalo das “escolas fake” e passou a avaliar a situação do ministro Ciro Nogueira, da Casa Civil, responsável por indicar apaniguados para cargos estratégicos no Ministério da Educação, assim como fizeram outros próceres do Centrão em relação à pasta da Saúde.
Beira o pitoresco o fato de Augusto Heleno, general da reserva adepto do golpe e chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), ter cantarolado, em 2018, “se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão” e agora manter silêncio covarde e obsequioso diante dos seguidos escândalos protagonizados por caciques do mesmo bloco parlamentar.
Em suma, ao afirmar que as emendas do malfadado “orçamento secreto” ajudam a acalmar o Parlamento, Bolsonaro reconhece que a corrupção está por toda parte, mas com uma desculpa esfarrapada a tiracolo.
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