Vaidade política de presidenciáveis da terceira via obrigará o País a reviver o fiasco de 2018

 
Quarenta meses de seguidas ameaças à democracia e ao Estado de Direito não serviram para os integrantes da chamada “terceira via” deixarem de lado a vaidade e os interesses pessoais em nome do País. Todos os presidenciáveis fora do espectro da polarização entre Bolsonaro e Lula não admitem qualquer sacrifício político para salvar o Brasil de mais um quadriênio sob o totalitarismo torpe e truculento do atual presidente da República.

Esse cenário, que provoca desalento a parte do eleitorado, não é novidade. Na corrida presidencial de 2018, candidatos ao Palácio do Planalto aceitaram unificar as respectivas candidaturas como contraponto a Bolsonaro e ao petista Fernando Haddad. A iniciativa não passou de um fracassado ensaio, pois todos exigiram ser “cabeça de chapa”, ou seja, ninguém quis abrir mão da própria candidatura. O resultado todo brasileiro conhece.

No momento, o País experimenta uma reedição do espetáculo de narcisismo político de quatro anos atrás. Presidenciável do PDT, Ciro Gomes não aceita conversar com os demais candidatos, já que acredita ser a derradeira solução para os problemas nacionais. Egocêntrico, Ciro, em 2018, não chegou ao segundo turno e preferiu viajar, quando poderia ter ajudado a evitar a eleição do descontrolado Bolsonaro. Em outras palavras, o pedetista é corresponsável pelo momento que vive o País.

Pré-candidata do MDB, a senadora Simone Tebet segue a mesma linha: só aceita concorrer à Presidência se for cabeça de chapa. Do contrário, o MDB deve acabar apoiando Jair Bolsonaro, apesar de caciques da legenda no Nordeste serem favoráveis a Lula. Em outras palavras, o partido que há décadas lutou contra a ditadura militar não descarta apoiar um golpista.

 
No União Brasil, partido que resultou da aglutinação do PSL e do Democratas, o presidente da legenda, Luciano Bivar, era até recentemente defensor de uma candidatura da “terceira via”, mas deixou o grupo depois que Bolsonaro ameaçou tirar cargos do partido caso o projeto avançasse.

O ex-juiz Sérgio Moro, que trocou o Podemos pelo União Brasil, não percebeu a armadilha do novo partido e está fora da disputa presidencial, devendo concorrer a uma vaga no Congresso Nacional – deputado federal ou senador.

Não se deve descartar a hipótese de Moro ter sido atraído ao União Brasil com um objetivo específico: irá-lo da disputa pela Presidência. Não por acaso, Bivar desistiu da proposta de uma candidatura alternativa. Caso o ex-juiz da Lava-Jato participasse da disputa presidencial, a vitória de Lula estaria consolidada, considerados os dados das pesquisas atuais. Isso porque os eleitores contrários à esquerda se dividiriam entre Moro e Bolsonaro. Nesse cenário, Lula poderia vencer no primeiro turno.

No PSDB, que há anos caiu na esparrela de João Dória Júnior, teve de lidar com a intenção de Eduardo leite de ser o presidenciável da legenda. Após pressão de Dória, que venceu as prévias partidárias, Leite decidiu concorrer ao governo gaúcho, do qual se desencompatibilizou na esperança de se tornar presidenciável tucano. Eduardo Leite chegou a dizer que aceitaria ser vice de Simone Tebet, mas o plano não prosperou.

Em suma, o brasileiro terá de decidir de forma consciente diante das urnas de outubro, pois o País não pode continuar na rota do retrocesso e das ameaças à democracia.