Informação de que a CIA alertou Bolsonaro sobre ataques ao sistema eleitoral obriga o governo a reagir

     
    O UCHO.INFO afirma desde 2018 que em algum momento o presidente Jair Bolsonaro avançaria no terreno do golpe. Até recentemente, este noticioso era voz isolada e solitária em relação ao tema, mas órgãos da grande imprensa começaram a perceber a real possibilidade de uma ruptura democrática. Isso poderá acontecer caso aumentem as possibilidades de o chefe do Executivo ser derrotado nas eleições de outubro.

    Para confirmar nossa previsão, o diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) disse, em 2021, a ministros do governo brasileiro que Bolsonaro deveria parar de lançar dúvidas sobre o sistema eleitoral, relataram fontes à agência de notícias Reuters.

    Os comentários do diretor da CIA, William Burns, que ainda não tinham vindo à tona, foram feitos durante reunião realizada em julho do ano passado, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o assunto que falaram à Reuters sob condição de anonimato. Burns era, e continua sendo, o mais alto funcionário dos Estados Unidos que se reuniu em Brasília com integrantes do governo Bolsonaro desde a eleição do presidente Joe Biden.

    Uma terceira pessoa em Washington, familiarizada com o assunto, confirmou que uma delegação liderada por Burns havia dito aos principais assessores de Bolsonaro que o presidente brasileiro deveria parar de minar a confiança no sistema de votação do Brasil. Porém, essa fonte não estava certa se o próprio diretor da CIA havia passado a mensagem.

    A CIA recusou-se a comentar, ao passo que o gabinete de Bolsonaro não respondeu a pedidos de comentários.

    Receio sobre postura das Forças Armadas

    Burns chegou a Brasília seis meses após a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, por apoiadores do ex-presidente americano Donald Trump que seguiam comandos de seu líder para não reconhecer a derrota eleitoral.

    Bolsonaro, político de extrema direita que idolatra Trump e adepto do golpismo, reverberou as infundadas alegações do republicano de que teria havido fraude nas eleições dos EUA em 2020. De igual modo lança dúvidas de forma frequente sobre o sistema de votação eletrônica do Brasil, afirmando, sem apresentar provas, de que as urnas eletrônicas são vulneráveis e que teria sido eleito no primeiro turno em 2018 se não fossem as alegadas fraudes.

     
    Esse comportamento desperta receio entre seus opositores de que Bolsonaro, que nas pesquisas de opinião aparece atrás do ex-presidente Lula da Silva, esteja semeando dúvidas em relação ao processo eleitoral para seguir o exemplo de Trump, não reconhecendo eventual derrota nas eleições. Aliás, Bolsonaro já ameaçou repetir no Brasil o bárbaro e grotesco episódio de invasão do Capitólio.

    Apesar de não ter se pronunciado, a CIA dificilmente se envolveria em um episódio dessa natureza se o que foi relatado não fosse verdade. Por outro lado, a Reuters, uma das maiores e mais respeitadas agências de notícias do planeta, jamais divulgaria uma informação sem a devida checagem.

    GSI nega a informação

    O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) informou nesta quinta-feira (5), por meio de nota, que “não recebe recados de nenhum país, nem os transmite”. A declaração é um contraponto à informação divulgada pela agência Reuters.

    Comandado pelo general da reserva Augusto Heleno, militar defensor do golpe de 64 e próximo a Bolsonaro, o GSI confirma a agenda com o diretor da CIA, mas alega que os assuntos tratados em reuniões da área de inteligência são sigilosos. “Temos um excelente corpo de diplomatas e adidos para tratar dos interesses nacionais”, acrescenta o comunicado.

    A informação divulgada pela Reuters e a forma como o governo reagiu mostram que não estávamos equivocados quando alertamos para a possibilidade concreta de Jair Bolsonaro perder o controle e aplicar um “cavalo de pau” na democracia brasileira.