Prisão de delegada no RJ expõe os bastidores da morte de Marielle Franco e do caso das “rachadinhas”

 
Como sempre afirma o UCHO.INFO, a política não disponibiliza espaço para coincidências, ou seja, nesse campo inexistem acasos. Nesta terça-feira (10), uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro encontrou R$ 1,7 milhão em espécie na casa da delegada Adriana Belém, que estava licenciada e ocupava desde agosto de 2021 cargo na Secretaria Municipal de Esporte e Lazer da capital fluminense.

A “Operação Calígula” prendeu o também delegado Marcos Cipriano e tem como objetivo o combate a jogos de azar explorados pelo bicheiro Rogério de Andrade (sobrinho de Castor de Andrade) e por Ronnie Lessa, policial militar reformado e preso sob a acusação de envolvimento no crime que resultou na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

A delegada Adriana Belém entregou o cargo de titular da 16ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro (Barra da Tijuca) em janeiro de 2020, após dois agentes de sua equipe serem presos na “Operação Intocáveis II”. Eles foram acusados de envolvimento com milicianos de Rio das Pedras. Um dos agentes é Jorge Luiz, que participou da reunião da delegada com Ronnie Lessa. Também em 2020, a delegada foi candidata a vereadora, tendo conseguido 3,5 mil votos.

Em entrevista à revista Veja, Ronnie Lessa acuou Adriano da Nóbrega de ser o intermediário do assassinato de Marielle e Anderson. Ex-capitão da PM fluminense, Nóbrega foi morto pela polícia da Bahia em uma operação com características de execução.

De acordo com Lessa, Adriano da Nóbrega teria colocado seu grupo de matadores de aluguel, conhecido como “Escritório do Crime”, para assassinar a vereadora e o motorista. “Tenho praticamente certeza de que ele atuou como intermediário. O Adriano já estava num patamar que não entrava mais num carro para dar tiro em ninguém. É um cara que tinha dinheiro e ganhava de tudo quanto é jeito”, afirmou na entrevista.

 
A comunidade de Rio das Pedras, na zona oeste carioca, é território de Fabrício Queiroz, amigo de longa data do presidente Jair Bolsonaro e acusado de operar o esquema criminoso das “rachadinhas” no gabinete do então deputado estadual (hoje senador) Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Queiroz era ligado a Adriano da Nóbrega e empregou no gabinete de Flávio a mãe e a esposa do miliciano. Não por acaso, Flávio Bolsonaro teve votação expressiva nas zonas eleitorais de Rio das Pedras quando concorreu ao Senado.

De acordo com investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro financiou com dinheiro público a construção de prédios da milícia na zona oeste da capital fluminense. É o que revela reportagem do site The Intercept, que publicou documentos e dados sigilosos que mostram que os empreendimentos de três construtoras (São Felipe Construção Civil Eireli, São Jorge Construção Civil Eireli e ConstruRioMZ) de Rio das Pedras foram feitos com dinheiro das “rachadinhas”. O MP-RJ chegou a essa conclusão após cruzar informações bancárias de 86 pessoas suspeitas de envolvimento no esquema ilegal.

Segundo a publicação, Flávio Bolsonaro teria recebido o lucro do investimento nos prédios ilegais por meio de repasses feitos por Adriano da Nóbrega e Fabrício Queiroz. É importante lembrar que Queiroz depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, assunto que caiu no esquecimento e não foi explicado até agora.

Coincidência ou não, a delegada Adriana Belém entregou sua defesa à advogada Luciana Pires, que defende Flávio Bolsonaro no caso das “rachadinhas”.