Há quase dois meses, em matéria publica na edição de 21 de março passado, afirmamos que o PSDB experimentava um fim melancólico fim como partido, depois de tentar um irresponsável ingresso na direita.
Recuando ainda mais na linha do tempo, alertamos, em 2016, para o perigo que representava o tucanato recepcionar em suas hostes o empresário João Agripino da Costa Dória Júnior, que naquele ano foi candidato à Prefeitura de São Paulo. À época, insistimos no fato de que Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e agora candidato a vice na chapa de Lula, não precisaria de muito tempo para se arrepender de ter apadrinhado a chegada de Dória no PSDB.
No início de 2018, sugerimos que o melhor que Geraldo Alckmin poderia fazer era concorrer ao Senado Federal pelo principal estado da federação, emprestando à Câmara alta toda a sua experiência como governador.
Ressaltamos na ocasião que Alckmin deixaria o caminho aberto para Dória, abandonando a Prefeitura paulistana, concorrer à Presidência da República, o que livraria o estado de São Paulo de um governante fanfarrão e adepto das traições. Além disso, o PSDB se desvencilharia de alguém que só plantou discórdia na legenda. Geraldo Alckmin insistiu em sua candidatura à Presidência e Dória foi eleito governador por causa de estranha “dobradinha” com Jair Bolsonaro.
Vitorioso nas prévias do PSDB para concorrer à Presidência da República, Dória enfrenta a resistência de várias alas do tucanato à sua candidatura. Os chamados “cabeças brancas” do partido são contra sua candidatura, que até meses atrás perpassava por uma possível “terceira via”, que acabou minguando com o passar dos dias. Ou seja, a polarização entre Lula e Bolsonaro deve continuar.
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O PSDB tenta viabilizar uma candidatura à sombra de aliança com o MDB, que aposta na senadora Simone Tebet (MS), e o Cidadania. Tebet, que tem o apoio do experiente Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania, aceita ser candidata a vice caso pesquisas encomendadas apontem para esse cenário.
João Dória, por sua vez, ameaça levar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) qualquer decisão do PSDB que contrarie suas pretensões políticas. Entendemos que o ex-governador paulista tem direito de exigir o cumprimento do resultado das prévias partidárias, mas a legenda está pensando no futuro, já que o fracasso de Dória as urnas é uma questão de tempo, mais precisamente de quatro meses e meio.
A situação que antecipamos agora se confirma, com boa parte da grande imprensa correndo atrás do tempo perdido. Jornalistas dos mais variados veículos de comunicação agora destacam o pífio fim de uma legenda que chegou a ser uma das mais importantes do País e dominou o panorama político no estado de São Paulo.
Para não perder espaço em São Paulo, o PSDB acreditou que a saída de Dória do governo paulista facilitaria a candidatura do então vice Rodrigo Garcia – atualmente governador – ao Palácio dos Bandeirantes.
Garcia tem a caneta e os cofres estaduais nas mãos, mas não aparece em boa colocação nas pesquisas de opinião. Além disso, o PSDB se desespera com a rejeição de Dória dentro do partido. Afinal, candidatos tucanos aos governos estaduais não aceitam dividir palanque com João Dória, nem mesmo Rodrigo Garcia, que recentemente disse a um interlocutor, durante evento privado que reuniu a cúpula do tucanato, que seu objetivo era cuidar da própria candidatura, sem se importar com Dória