O impasse que contrapõe o PSDB e o ex-governador de São Paulo, João Dória Júnior, pré-candidato à Presidência da República, revela o modus operandi de quem quer fazer na política o que sempre fez na iniciativa privada. Arrogante e prepotente, muitas vezes intolerante, Dória viu seu projeto político desmoronar em pouco tempo.
A figura do ex-prefeito e ex-governador causa arrepios em muitos candidatos do PSDB e de partidos eventualmente coligados. Ninguém quer dividir palanque com Dória, pois o resultado dessa associação pode ser desastroso, pois seus índices de rejeição são elevados.
Um dos tucanos que tentam desassociar a própria imagem da de Dória é o governador Rodrigo Garcia, de São Paulo, pré-candidato à reeleição. Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Garcia afirmou que Dória é o nome que ele e o partido apresentaram como candidato da terceira via, mas que apoiará quem for escolhido pelo “tour de force” formado por PSDB, MDB e Cidadania.
Nos bastidores, como já revelamos há algumas semanas, Garcia disse a um interlocutor que sua prioridade é cuidar do projeto de reeleição. Em outras palavras, João Dória não está no seu radar, mesmo tendo sido vice do marqueteiro que virou político. “Fui vice do Dória. Um é diferente do outro”, disse ao Estadão.
Na verdade, desde a chegada de Dória ao Palácio dos Bandeirantes, Rodrigo Garcia foi quem de fato governou a mais importante unidade da federação, já que o então governador jamais teve disposição para tratar com prefeitos dos 645 municípios paulistas.
Natural de Tanabi, cidadã da região metropolitana de São José do Rio Preto, Garcia é a aposta do PSDB para continuar dando as cartas no estado, mas as pesquisas de opinião ainda não proporcionam tranquilidade ao tucanato. Mesmo com a caneta e a chave do cofre nas mãos, Rodrigo Garcia aparece em quarto lugar na disputa pelo governo de São Paulo, atrás de Fernando Haddad (PT), Márcio França (PSB) e Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos).
Com vocação para a política e integrante do grupo do ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, partido ao qual estava filiado antes de migrar para o PSDB, Rodrigo Garcia é o “caipira” – no bom e elogioso sentido – adepto da cautela e do comedimento. Talvez por essa razão não seja conhecido pela maioria dos eleitores paulistas.
O entrave no projeto de reeleição de Garcia atende pelo nome de João Agripino da Costa Dória Júnior. O fato de ter sido vice do agora quase ex-presidenciável tucano tem peso relativo, mas a decisão de trocar o PSD pelo PSDB pode ter sido um erro. Isso porque não se pode comparar a capacidade de Gilberto Kassab de fazer política com a de Dória. Além disso, no PSDB de São Paulo faltam nomes capazes de impulsionar a campanha de Rodrigo Garcia.
Nesse cenário, considerando a entrevista de Garcia ao Estadão, há espaço para a frase “diga-me com quem andas e te direi quem és”. Via de regra, o ser humano procura conviver com seus iguais. No caso de Dória e Garcia aconteceu o contrário. E a fatura política chegou ao Palácio dos Bandeirantes.