(*) Waldir Maranhão
“A política é a arte do possível”, disse o escritor e poeta italiano Cesare Pavese (1908-1950). Sob esse prisma enxergo a atividade política em qualquer parte do universo democrático. Nem sempre consegue-se levar adiante uma proposta no campo político sem antes buscar o consenso.
Essa equação mostra que em nome da democracia é preciso unir os diferentes para enfrentar os antagônicos. Sem esse movimento a democracia corre riscos, significa ameaçar os direitos individuais e coletivos, significa empurrar o país na direção do caos.
Em nota divulgada na noite de terça-feira, 24 de maio, o ex-presidente Michel Temer foi cirúrgico ao rebater a informação de que poderia ser o candidato da chamada “terceira via” ou do centro democrático.
Na referida nota, Temer afirmou: “Não sou o candidato da terceira via. Sou e sempre serei candidato a juntar os contrários em busca do bem comum. Sou e sempre serei candidato ao debate franco para que as diferenças sejam assimiladas pelo diálogo. Sou e sempre serei candidato a defender a pacificação do Brasil”.
As palavras do ex-presidente Michel Temer são precisas e explicam aquilo que o brasileiro tanto espera das próximas eleições: que o país consiga seguir seu caminho em paz, ultrapassando todos os desafios que temos pela frente.
A declaração do ex-presidente explica também o que muitos preferem não compreender, seja por se recusar a fazer a leitura correta do momento, seja para adicionar combustível em uma fogueira já ardente.
Refiro-me à aliança entre o ex-presidente Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin. No campo político, ambos estiveram em posições diferentes, foram adversários, mas jamais foram inimigos. Há uma sensível diferença entre adversário e inimigo. O adversário está pronto para a disputa, o inimigo busca a guerra.
Para justificar uma resistência à chapa formada por Lula e Alckmin, alguns mais exaltados afirmam que os dois e seus respectivos partidos (no caso de Alckmin era até recentemente o PSDB) já trocaram acusações e duelaram nas urnas.
Essa união que agora presenciamos mostra que a democracia brasileira tem condições de avançar no caminho do amadurecimento, que não minha modesta opinião jamais terminará.
Entendo que a democracia resulta do equilíbrio das forças opostas, do entendimento, da convergência. Só assim é possível dar vez aos pensamentos contrários. Ressalto que divergência não deve ser confundida com beligerância.
O Brasil vive um momento delicado e perigoso em termos políticos e democráticos, o que enseja acalmar os ânimos e enxergar além do horizonte.
Unir os diferentes para preservar a democracia é o que sempre me moveu na política. Ultrapassou o limite da urgência a necessidade de se resgatar a população do caos social em que o país se encontra. Somente a convergência de propostas e pensamentos é capaz de enfrentar esse desafio.
Os brasileiros assistem a uma guerra ideológica se precedentes, que pode levar o país a lugar nenhum. Talvez abra caminho para aumentar a tragédia social.
O Congresso Nacional passa a léguas de distância do embate ideológico que marca o cotidiano, pois no Parlamento tem prevalecido o fisiologismo político. A base de apoio do atual governo já cerrou fileira do lado contrário, sempre cobrando um preço altíssimo, como faz agora.
Volto ao meu sofrido Maranhão para ilustrar o que aqui exponho. Em 2014, correntes políticas das mais distintas no estado se uniram para garantir a eleição de Flávio Dino, que deixou o governo recentemente para concorrer ao Senado Federal.
Naquele momento, Dino tinha como alvo adversário a família Sarney e todos os políticos alinhados ao grupo.
Em janeiro de 2019, já eleito e empossado, Flávio Dino lançou a logomarca e o slogan de sua gestão: “Governo de todos nós”.
Flávio Dino prometeu uma gestão inovadora, focada na busca de um estado mais prospero, justo e com igualdade de condições. Afinal, o slogan do governo falava por si só.
Passados oito anos, a esperança do maranhense deu lugar ao desalento, a alegria se transformou em preocupação, as sonhadas oportunidades para todos sequer deram o ar da graça. Resumindo, a tragédia social só fez aumentar.
Flávio Dino, como citei anteriormente, é candidato ao Senado. E percorre o Maranhão com o mesmo discurso de 2018. Porém, o pré-candidato a senador está no mesmo palanque dos seus adversários do passado.
O ex-governador acusa o senador Weverton Rocha, pré-candidato ao governo do Maranhão, de ser bolsonarista pelo fato de repetir o que Lula faz em âmbito nacional: unir os diferentes em prol da democracia, contra o antagonismo. Lembro que Dino é próximo de Lula, tanto como político, quanto como amigo. E até agora não criticou a aliança costurada pelo ex-presidente.
No seu íntimo, por maior que seja o otimismo, Dino não tem plena certeza de que será eleito. Na verdade, é considerável a possibilidade de ser barrado nas urnas. No caso de esse cenário se confirmar, Flávio Dino sairá da política, mesmo que momentaneamente, abraçado àqueles que sempre combateu.
(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.
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