Biden e Bolsonaro pregam reaproximação entre os países; americano diz que Brasil é “democracia vibrante”

 
O presidente Jair Bolsonaro foi recebido nesta quinta-feira (9) pelo homólogo norte-americano Joe Biden, em encontro à parte da Cúpula das Américas, realizada em Los Angeles, na Califórnia.

Em breve pronunciamento antes do início da reunião a portas fechadas, Biden afirmou aos jornalistas que o Brasil é uma “democracia vibrante” e fez uma defesa sutil do sistema eleitoral brasileiro, ao dizer que o País possui “instituições eleitorais sólidas”.

Bolsonaro adotou tom ameno e foi até amigável com o americano, chamando-o a certa altura de “companheiro”. Ele ressaltou a importância da parceria entre os dois países, e assegurou Biden que sempre vai optar pelas vias democráticas.

“Para que não sobre nenhuma dúvida depois. Tenho certeza que ele será realizado nesse espírito democrático. Cheguei pela democracia e tenho certeza de que quando deixar o governo também será de forma democrática”, afirmou.

O brasileiro, porém, deixou no ar uma crítica ao sistema eleitora brasileiro, dizendo que seu desejo é que haja “eleições limpas, confiáveis e auditáveis” no Brasil.

“Temos muito em comum, como nosso amor compartilhado pela liberdade e democracia”, afirmou. Como é habitual em seus pronunciamentos em eventos internacionais, Bolsonaro enalteceu as riquezas naturais do Brasil, mas forneceu algumas informações duvidosas sobre a situação do meio ambiente no País.

“Por vezes, nos sentimos ameaçados em nossa soberania, mas o Brasil preserva seu território. Mais de 85% da Amazônia brasileira é preservada, nossa legislação ambiental é muito rígida”, afirmou.

Desafios eleitorais

Este foi o primeiro encontro entre os dois presidentes, desde que Biden chegou à presidência dos EUA, em janeiro de 2020. A Casa Branca considera o brasileiro como uma figura politicamente “tóxica”, mas o esvaziamento da Cúpula das Américas em razão da ausência de líderes de nações importantes na região, como o México, fez com que Biden estendesse o convite ao Palácio do Planalto.

Para garantir a presença de Bolsonaro, Biden aceitou a realização de um encontro bilateral paralelo à Cúpula. Os líderes, embora tenham objetivos diferentes no evento, têm em comum o fato de enfrentarem este ano eleições decisivas para as pretensões políticas de ambos.

 
Em apenas cinco meses, o americano enfrentará as eleições legislativas, na qual muitos analistas avaliam que seu partido arrisca perder a frágil maioria que possui atualmente no Congresso.

Bolsonaro, por sua vez, corre sério risco de não conseguir se reeleger. Pesquisas de opinião mostram o atual presidente bem atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas intenções de voto. Alguns levantamentos sinalizam a possibilidade de uma derrota já no primeiro turno da corrida presidencial.

O presidente brasileiro ainda demonstra mágoa por ter sido ignorado por Biden e pelos demais líderes internacionais da reunião do G20, em 2019 no Japão. “Passou por mim como se eu não existisse”, se queixou, repetindo algumas teorias populares na extrema direita americana, de que o líder da Casa Branca estaria senil.

Fiel à cartilha de Trump

Admirador declarado do ex-presidente Donald Trump, Bolsonaro chegou a contestar o resultado das eleições presidenciais americanas.

O brasileiro repetiu alegações alardeadas por Trump, até hoje não comprovadas, de que teria havido fraude na votação. A atitude gerou repulsa na Casa Branca, que colocou o Brasil em segundo plano de sua diplomacia.

Desde o início de seu governo, Biden deixou as comunicações com o governo Bolsonaro a cargo de seu gabinete, e buscou uma aproximação com o presidente argentino, Alberto Fernández, inclusive o convidando para visitar a Casa Branca, em julho deste ano.

Antes mesmo de ser eleito, Biden já criticava as políticas ambientais do governo brasileiro e expressava preocupações com o estado da democracia no Brasil.

O governo dos EUA se manifestou em diversas ocasiões contra as declarações de Bolsonaro que buscam lançar dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro.

Sua ameaça de não aceitar o resultado do pleito caso seja derrotado é vista como réplica das atitudes de Trump, que culminaram com a invasão do Capitólio por seus apoiadores, em janeiro de 2020.

 
Conforme a agência de notícias Associated Press, ao aceitar o convide para a Cúpula das Américas, Bolsonaro teria pedido para que Biden não o questionasse sobre seus constantes ataques contra o sistema eleitoral.

Contudo, o conselheiro de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan, negou que o presidente americano tivesse concordado com quaisquer condições, e assegurou que não haveria temas proibidos na conversa. Segundo a Casa Branca, o tema da realização de “eleições livres, transparentes e democráticas” no Brasil estava na pauta do encontro.

Em Los Angeles, na saída do hotel a caminho da Cúpula, Bolsonaro disse a jornalistas que seu antagonismo em relação a Biden já teria sido superado.

“Não vim aqui tratar desse assunto. Já é um passado. Vocês sabem que eu tive um excelente relacionamento com o presidente Trump. O presidente agora é Joe Biden, é com ele que eu converso, ele é o presidente e não se discute mais esse assunto”, afirmou.

“Sempre tive enorme consideração pelo povo americano, temos valores em comum, como a democracia e liberdade, e será um bom encontro com o presidente Biden”, afirmou.

“Assuntos sigilosos”

Bolsonaro, em entrevista à emissora CNN antes da reunião com Biden, disse que o objetivo da conversa era buscar uma reaproximação com Washington. “Nunca tivemos problema com os Estados Unidos. O Brasil está aberto para conversar e ter relação com qualquer país.” Entre o que Bolsonaro declara e a realidade dos fatos há considerável diferença.

Segundo o brasileiro, entre os temas a serem discutidos estavam questões de energia e “assuntos sigilosos”.

Os Estados Unidos ofereceram a reunião bilateral para Bolsonaro como forma de garantir sua presença na Cúpula e minimizar a ausência de outros líderes que boicotaram o encontro, após Washington se recusara convidar países considerados não democráticos.

Antes do encontro, Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, explicou a decisão em uma entrevista à revista Veja. “Estamos cientes de que alguns presidentes preferiram não participar da Cúpula, como é o caso do presidente do México. E há outros países que decidimos não convidar: Cuba, Venezuela e Nicarágua”, afirmou.

“Nosso objetivo é que todos cumpram a Carta Democrática Interamericana. Os países que participam da Cúpula precisam ser democráticos, e esses três, não são.” (Com Deutsche Welle)


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