Descaso de Bolsonaro em relação a Bruno e Dom Phillips é explicado pela conivência com o narcotráfico

 
Há dias, quando a Polícia Federal afirmou de forma precipitada que o assassinato do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips não tinha mandantes, a extensa maioria dos brasileiros quis saber quem havia dado ordens para declaração tão absurda.

Poucos dias após o início das investigações e com os suspeitos mudando depoimentos, garantir a inexistência de mandantes do crime é irresponsabilidade policial. Qualquer estreante na carreira de investigador sabe que é preciso um cipoal de provas para fazer tal afirmação.

Por razões óbvias, que não exigem muito do raciocínio, a ordem partiu da Praça dos Três Poderes, mais precisamente do Palácio do Planalto, de onde Jair Bolsonaro assiste ao derretimento de seu projeto de reeleição Com o Brasil fazendo jus ao status de “pária internacional” por vários motivos, mas em especial por causa do desastre ambiental patrocinado pelo governo, tudo o que Bolsonaro menos precisava a essa altura era o crime ocorrido no Vale do Javari.

Logo após o desaparecimento de Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips, o presidente da República, ciente do desfecho do caso, tratou de minimizar o episódio ao falar de “aventura não recomendada”, sendo que àquela altura a Procuradoria da República já tinha sido informada com muita antecedência das ameaças sofridas pela dupla e por outros defensores da Amazônia.

Dias depois, o presidente, em mais uma conclusão marcada pela delinquência intelectual, afirmou que os corpos dificilmente seriam encontrados, já que não se poderia descartar a hipótese de terem sido devorados por piranhas. Em suma, roteiro de filme de terror escrito por alguém que desconhece o significado da palavra compaixão.

Quando do anúncio de que os corpos de Bruno e Dom haviam sido encontrados, Bolsonaro limitou-se a comentar o caso em reles postagem nas redes sociais, sem citar os nomes de ambos. “Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!”, escreveu o presidente, ao comentar postagem feita pela Funai.

O descaso do governo em relação ao duplo assassinato é algo orquestrado. O vice-presidente Hamilton Mourão, reverberando a torpeza de Bolsonaro, disse que o britânico Dom Phillips “entrou de gaiato na história”.

 
“A polícia está tentando apurar e já prendeu os principais suspeitos, ali identificaram as causas das mortes, já localizaram a embarcação. Só resta saber se há um mandante. Dom entrou de gaiato nessa história, foi dano colateral”, afirmou Mourão.

O vice-presidente disse concordar com a conclusão da Polícia Federal de que os assassinos atuaram sozinhos. Contudo, ressaltou que “se há um mandante, é comerciante da área que estava se sentindo prejudicado pela ação principalmente do Bruno”.

“Essas pessoas aí que assassinaram, provavelmente, os dois são ribeirinhos, gente que vive também ali no limite de, vamos dizer, ter acesso às melhores condições de vida. Vivem da pesca. Essa é a vida do cara. Mora numa comunidade que não tem luz elétrica 24 horas por dia, é gerador. Quando tem combustível, o gerador funciona, quando não tem, não funciona. Então, é uma vida dura”, declarou.

Para completar a sandice, Mourão afirmou que os assassinatos resultaram de uma emboscada e comparou as brutais mortes de Dom e Bruno com crimes que acontecem diariamente em Brasília.

“Na minha avaliação deve ter ocorrido que o suspeito bebe, se embriaga, como acontece na periferia das grandes cidades. Aqui em Brasília a gente sabe. Todo final de semana tem gente morta a facada, tiro, normalmente fruto de quê? Da bebida, né? A mesma coisa deve ter acontecido”, completou Mourão.

Esse palavrório uníssono que escorre pelas entranhas do Palácio do Planalto tem um objetivo: minimizar a real motivação dos dois assassinatos. Há uma sensível diferença entre Bolsonaro incentivar o desmatamento na Amazônia e ser conivente com narcotraficantes internacionais. Uma coisa é ser visto como inimigo da maior floresta tropical do planeta, outra é ser rotulado como facilitador do tráfico internacional de drogas. Em uma campanha eleitoral, a segunda situação tem efeito devastador.


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