Governo atuou nos bastidores para evitar imagens de Milton Ribeiro desembarcando em Brasília como preso

 
Logo após a prisão do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, na quarta-feira (22), integrantes do Palácio do Planalto aproveitaram o episódio para passar a falsa ideia de que o governo não controla a Polícia Federal, responsável por deflagrar a “Operação “Acesso Pago”. Coube ao ministro da Justiça, Anderson Torres, o sabujo de plantão, fazer postagem nas redes sociais tratando do tema. Ao final do dia, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), deu eco à cantilena mitômana.

Enquanto alguns incautos acreditavam na falácia palaciana, inclusive membros da oposição, o governo atuava nos bastidores, disparando ordens, para que Milton Ribeiro permanecesse na Superintendência da PF em São Paulo, em vez de ser levado a Brasília, como estipulava a decisão judicial que autorizou a prisão do ex-ministro e dos “pastores-lobistas” do MEC.

Nesta quinta-feira (23), a PF divulgou nota em que informou a abertura de procedimento interno para apurar “boatos de possível interferência” na operação que levou Milton Ribeiro e seus comparsas à prisão. Na nota, a Polícia Federal esclareceu o que classificou como “possível interferência”.

“Considerando boatos de possível interferência na execução da Operação Acesso Pago e objetivando garantir a autonomia e a independência funcional do Delegado de Polícia Federal, conforme garante a Lei nº 12.830/2013, informamos que foi determinada a instauração de procedimento apuratório para verificar a eventual ocorrência de interferência, buscando o total esclarecimento dos fatos”, destaca a nota.

Contudo, em mensagem interna a colegas da PF, o delegado Bruno Callandrini citou “decisão superior” para que Ribeiro não fosse transferido para Brasília. Em razão da “decisão superior”, escreveu o delegado, ele deixou de ter “autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional”.

“Falei isso ao Chefe do CINQ [Coordenação de Inquérito nos Tribunais Superiores, da PF], ontem, após saber que, por decisão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília e manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton a Brasília à revelia da decisão judicial”, escreveu Callandrini na mensagem.

 
De acordo com o delegado, foram concedidas ao ex-ministro “honrarias não existentes na lei”. “O principal alvo, em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem a Brasília”, completou.

Quem conhece os bastidores e os subterrâneos do poder em Brasília sabe que não existe “suposta interferência”, mas, sim, interferência de fato, sempre com o objetivo de evitar um mal maior. É preciso coragem para escapar do malabarismo redacional e levar ao cidadão a melhor informação, sempre acompanhada da realidade dos fatos.

Tomando por base que há muito o tatame político foi transferido para as redes sociais, o staff do presidente Jair Bolsonaro agiu para evitar o registro de imagens de Milton Ribeiro desembarcando em Brasília na condição de preso e investigado por corrupção e outros crimes.

Se a prisão do ex-ministro levou o núcleo duro da campanha de Bolsonaro a classificar o episódio como “desastre”, embora o senador Flávio Bolsonaro tenha afirmado que o governo estava tranquilo em relação ao fato, o estrago seria ainda maior caso fossem registradas imagens de Ribeiro desembarcando de uma aeronave da Polícia Federal diante das câmeras e lentes de fotógrafos e cinegrafistas.

Enquanto o delegado federal Bruno Callandrini tentava digerir a decisão superior, a assessoria palaciana correu madrugada afora para garantir o deferimento de habeas corpus em favor de Milton Ribeiro, concedido nesta quinta-feira (23) pelo desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), candidato a uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Diante da sequência de manobras, cabe aos brasileiros a recomendação para redobrar a vigilância, ao mesmo tempo que os veículos de imprensa sérios e independentes não podem deixar à margem mais um escárnio com o carimbo bolsonarista.


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