Desde a primeira edição do UCHO.INFO (são mais de 5 mil) temos insistido no fato de que o cidadão deve se interessar por questões políticas, terreno que no Brasil se transformou em um balcão de negócios aviltante e criminoso.
Sabem os leitores que não temos preferências ideológicas nem político de estimação, assim como não fazemos jornalismo de encomenda, por isso nos sentimos à vontade para criticar todos os atores da política nacional e a avalanche de incoerência que varre o País.
Em artigo publicado na edição de quinta-feira (7) demos destaque à divulgação do conteúdo da delação premiada de Marcos Valério, operador do caixa do Mensalão que sugeriu conexão entre o Partido dos Trabalhadores e a facção criminosa PCC.
No texto não apenas afirmamos que a declaração de Valério é falaciosa, como oportunista e criminosa é a decisão de trazer o assunto à baila faltando menos de três meses para a corrida presidencial, na qual o golpista Jair Bolsonaro permanece em segundo lugar, atrás do ex-presidente Lula.
Na matéria citamos o castelo de areia que o bolsonarismo criou a partir do ataque a faca perpetrado por Adélio Bispo contra Bolsonaro, em 6 de setembro de 2018, episódio que ajudou na eleição do golpista adorador de torturadores.
A turba bolsonarista aproveitou a enchança para afirmar que o crime fora encomendado por algum partido de esquerda. Inicialmente, o PSOL foi acusado de ter patrocinado Adélio Bispo, afirmação torpe que desmoronou na esteira da ausência de provas.
No Brasil, a Constituição garante ao cidadão o direito à ampla defesa e ao devido processo legal, direito esse que também contempla Adélio Bispo, à época defendido pelo advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior.
No rastro da torpeza que embala o bolsonarismo, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) autorizou, em 3 de novembro de 2021, a quebra do sigilo bancário de Zanone de Oliveira Júnior, como se a legislação vigente permitisse tamanho absurdo. Não havendo a devida fundamentação que colocasse Zanone como suspeito, a decisão judicial foi criminosa.
A questão é que Bolsonaro e sua turba não aceitam o contraditório, assim como rechaçam a possibilidade de alguém com problemas mentais, como já comprovado, ter garantido o direito à ampla defesa. Não importa se o advogado atuou em favor de Adélio custeado por terceiros ou de forma gratuita, pois a garantia constitucional precisa ser respeitada.
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Passando a sacolinha
No contraponto dessa sanha bolsonarista surge mais uma chuva de incoerência. Ex-ministro da Educação e acusado de participar de esquema de corrupção envolvendo recursos do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), Milton Ribeiro entregou sua defesa para o criminalista Daniel Bialski, que recentemente defendeu a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Pelo que se sabe, Ribeiro, acusado juntamente com os pastores evangélicos Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura, não é dono de cornucópia com fôlego para custear os serviços de um criminalista que é conhecido por defender traficantes e policiais corruptos. Reforçamos que todos, sem distinção, têm direito à ampla defesa, inclusive ex-ministros, narcotraficantes e policiais corruptos.
Defender envolvidos em escândalos de corrupção nem sempre é tarefa fácil, o que explica, mas não justifica, a cobrança de honorários estratosféricos, normalmente na casa dos sete dígitos. Nesse cenário, o advogado é terceiro de boa-fé, cabendo a Milton Ribeiro provar a boa origem do dinheiro utilizado para pagar o defensor. Em tempos de crise, honorários de milhões de reais causam espécie.
Apesar de contar com os serviços de um advogado experiente no campo do Direito Penal, o ex-ministro Milton Ribeiro tem demonstrado medo em relação ao desfecho do caso. Deve ter aprendido enquanto esteve à frente da Educação que em nome do poder e para salvar um mandato – ou garantir a reeleição – tudo é possível, inclusive jogar os aliados na jaula dos leões.
Guerra nos bastidores
Informações obtidas pelo UCHO.INFO mostram que é grande a preocupação dos palacianos com a possibilidade de o escândalo do “gabinete dos pastores” sair do controle. Como afirmamos em matéria anterior, Milton Ribeiro teria cogitado eventual acordo de colaboração premiada. Foi convencido a abandonar a ideia depois de inexplicável e repentina viagem a Brasília.
Ribeiro estaria disposto a deixar a responsabilidade pelo escândalo aos pastores que cobravam propina para liberar verbas do FNDE a prefeituras Brasil afora. Arilton Moura disse, logo após ser preso no Pará, que caso o escândalo alcançasse seus familiares não pensaria duas vezes antes de “destruir todo mundo”.
Um dos pastores envolvidos no esquema – são mais de 10 – tem gravadas muitas das negociações para liberação de verbas do FNDE, ou seja, o arsenal para eventual reação ou até mesmo delação está pronto para ser usado. E se isso acontecer, o estrago será enorme.
Bolsonaro, por sua vez, tenta escapar do imbróglio, por essa razão vem atuando nos subterrâneos do poder para evitar novos desdobramentos que o caso não tenha desdobramentos. A situação do presidente da República tornou-se insustentável depois que o jornal “Folha de S.Paulo” divulgou, nesta sexta-feira (8), e-mail enviado pela Presidência da República ao Ministério da Educação solicitando que o pastor Arilton Moura fosse atendido em suas demandas.
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