Bolsonaro ironiza “Carta pela democracia”, mas equipe de campanha já sente os efeitos do manifesto

 
Golpista convicto, o presidente Jair Bolsonaro apela à dissimulação ao dizer que não representa ameaça à democracia. Por mais que o chefe do Executivo repita com insistência de que “joga dentro das quatro linhas da Constituição”, não há como negar que ele atenta contra o regime democrático, o Estado de Direito e as instituições, em especial o Poder Judiciário.

Ao participar da convenção do Partido Progressista (PP), na quarta-feira (27), Bolsonaro disse que não precisa de uma “cartinha” para demonstrar respeito à democracia e à Constituição Federal.

“Vivemos em um país democrático, defendemos a democracia. Não precisamos de nenhuma cartinha para falar que defendemos a democracia, e que queremos, cada vez mais, nós, cumprir e respeitar a Constituição. Não precisamos, então, de apoio ou sinalização de quem quer que seja para mostrar que o nosso caminho é a democracia, é a liberdade, é o respeito à Constituição”, disse o presidente.

Bolsonaro encampou o discurso tosco e infantil do ministro Ciro Nogueira (PP), da Casa Civil, que afirmou ser a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito” reflexo das perdas que os grandes bancos tiveram com o PIX.

“Você pode ver esse negócio de carta aos brasileiros, democracia… Os banqueiros estão patrocinando. É o PIX, que eu dei na… Uma paulada neles… Os bancos digitais também, que nós facilitamos. Estamos acabando com o monopólio dos bancos”, disse Bolsonaro a apoiadores o aguardavam no “cercadinho” do Palácio da Alvorada, na manhã desta quinta-feira (28).

“Eles estão perdendo poder. Carta pela democracia? Qual é a ameaça que eu estou oferecendo para a democracia?”, emendou.

 
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. Adesões a manifesto em defesa da democracia passam de 250 mil

Apesar das declarações à margem da realidade, Bolsonaro sabe que o manifesto em defesa da democracia, que já tem mais de 250 mil adesões, representa a perda de apoio em diversos setores da sociedade, principalmente dos segmentos produtivo e financeiro, além de juristas renomados, acadêmicos, artistas e jornalistas.

A equipe de campanha já assimilou os efeitos do manifesto, que será lido no próximo dia 11 de agosto, em frente à Faculdade de Direito da USP, no centro da capital paulista, pelo ex-ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Por questões óbvias, Bolsonaro já foi comunicado pelo staff de campanha sobre os efeitos colaterais do manifesto, mas ao que parece o presidente prefere não encarar a realidade.

Como forma de se contrapor ao ato de leitura do manifesto, em 11 de agosto, quando se comemora a instalação dos cursos jurídicos no País, Bolsonaro participará um jantar com alguns empresários, na cidade de São Paulo. É importante ressaltar que o mesmo grupo se reunirá com o ex-presidente Lula, que lidera as pesquisas eleitorais.

Não se deve acreditar na possibilidade de Jair Bolsonaro ter compreendido a importância do referido manifesto, pois ele tentará resolver a situação nas comemorações do Sete de Setembro. Na mesma data, em 2021, o presidente tentou levar adiante um projeto de golpe, que acabou fracassando.

É importante apegar-se à declaração do chefe do Executivo durante a convenção do PL que, no último domingo (24), oficializou sua candidatura à reeleição. Na ocasião, em determinado momento do enfadonho discurso de mais de uma hora, Bolsonaro convocou os apoiadores a “saírem às ruas pela última vez” no próximo dia 7 de setembro.

“Nós somos a maioria, somos do bem e temos disposição para lutar por liberdade e pátria. Convoco todos vocês agora para que todo mundo vá às ruas no Sete de Setembro pela última vez. Vamos às ruas pela última vez”, bradou Bolsonaro.


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