ONU: humanidade está a “um erro de cálculo” de conflito nuclear

 
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse nesta segunda-feira (1) que a humanidade pode estar “a um mal-entendido, a um erro de cálculo da aniquilação nuclear”.

“Até agora, tivemos uma sorte extraordinária. Mas a sorte não é uma estratégia ou um escudo para evitar que as tensões geopolíticas se transformem num conflito nuclear”, frisou Guterres.

A fala ocorreu em Nova York, durante a abertura da 10ª Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear, assinado por 191 países e que entrou em vigor em 1970.

Segundo ele, a crise climática, as desigualdades gritantes, os conflitos, as violações dos direitos humanos e a devastação pessoal e econômica causada pela pandemia de Covid-19 colocaram o planeta sob enorme estresse.

“A humanidade corre o risco de esquecer as lições aprendidas nas terríveis explosões de Hiroshima e Nagasaki”, disse Guterres.

Segundo ele, a guerra na Ucrânia elevou as tensões geopolíticas a níveis não vistos desde a crise dos mísseis cubanos de 1962, durante a Guerra Fria.

 
13 mil armas nucleares ao redor do globo

A conferência ocorre em um momento em que crescem as preocupações sobre a rápida aceitação do arsenal nuclear da China e a disseminação da tecnologia nuclear, especialmente no Irã e na Coreia do Norte.

“Em todo o mundo estão armazenadas cerca de 13 mil armas nucleares e isto num momento em que os riscos de proliferação aumentam e as salvaguardas para impedir essa escalada diminuem”, disse, referindo-se em particular às “crises” no Oriente Médio e na península coreana e à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Após ter sido adiada várias vezes desde 2020 devido à pandemia de Covid-19, a conferência ocorre até 26 de agosto para revisar o tratado internacional.

Para Guterres, a reunião é uma “oportunidade para fortalecer o tratado e alinhá-lo com o mundo de hoje”. “Eliminar as armas nucleares é a única garantia de que nunca serão usadas”, afirmou.

Em janeiro deste ano, antes do começo da guerra na Ucrânia, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia), potências nucleares, comprometeram-se em “impedir a disseminação” nuclear. Na última conferência, realizada em 2015, as partes não conseguiram chegar a um acordo sobre questões substanciais.

Segundo os dados mais recentes do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), referentes ao início de 2021, há nove países no mundo com armamento nuclear: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte – os quatro últimos não fazem parte do pacto que 191 Estados assinaram.

O Sipri alertou em junho que os estoques mundiais de armas nucleares devem aumentar nos próximos anos, revertendo um declínio observado desde o fim da Guerra Fria.

 
Negociação entre EUA e Rússia

Em declaração prévia à conferência, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que sua administração quer negociar rapidamente “uma nova estrutura de controle de armas para substituir o Novo Start, quando este expirar em 2026”.

Implementado em 2011, o “New Strategic Arms Reduction Treaty” (Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas ou Novo Start) limita o número de armas nucleares dos Estados Unidos e da Rússia, sendo considerado o único acordo de controle de armas remanescente entre as duas potências.

No entanto, segundo Biden, a negociação de um acordo que substitua o Novo START exige “um parceiro disposto a operar de boa-fé”, referindo que “a agressão brutal e não provocada da Rússia na Ucrânia destruiu a paz na Europa e constitui um ataque aos princípios fundamentais da ordem internacional”.

“A Rússia deve demonstrar que está pronta para retomar o trabalho de controle de armas nucleares com os Estados Unidos”, ressaltou Biden.

O presidente americano também reafirmou a sua intenção de voltar a liderar o acordo de 2015 sobre o programa nuclear do Irã, depois de o seu antecessor, Donald Trump, o ter abandonado em 2018. (Com agências internacionais)


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