Pobreza atinge 24% da população de metrópoles brasileiras, mas Bolsonaro exalta “ações” do governo

 
Durante almoço com representantes do setor financeiro, realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), na cidade de São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro disse que os banqueiros deveriam olhar “as ações” do seu governo, não assinar “cartinha” em defesa da democracia e do Estado de Direito.

Marcada pela desfaçatez, a declaração do chefe do Executivo federal aconteceu após chamar ode “cara de pau” e “sem caráter” os banqueiros que assinaram a “Carta pela Democracia”, movimento organizado por renomados juristas e empresários dos mais distintos segmentos.

Bolsonaro pode fazer a declaração que quiser para defender um projeto de reeleição que desmorona à sombra do golpismo, mas exaltar “ações” do governo é no mínimo um deboche de quem insiste em viver à margem da realidade.

Prova maior da inoperância do governo Bolsonaro reside no fato de que a pobreza alcançou 19,8 milhões de moradores das regiões metropolitanas do Brasil em 2021, o equivalente a 23,7% dos habitantes dessas cidades. Foi o maior número registrado desde o início da série histórica, em 2012, influenciado pela redução do valor do auxílio emergencial instituído durante a pandemia, o desemprego e a alta inflação no ano passado.

O dado consta do 9º Boletim Desigualdade nas Metrópoles, abrange as 22 principais áreas metropolitanas do país e foi elaborado a partir de dados da Pnad Contínua anual, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados anuais da Pnad consideram outras fontes de renda que não os rendimentos do trabalho, como aposentadorias, seguro-desemprego e benefícios sociais, e oferecem um retrato mais preciso da pobreza no país.

São consideradas em situação de pobreza as famílias que, em 2021, tiveram renda per capita mensal abaixo de R$ 465, e em extrema pobreza as que tiveram renda per capita mensal abaixo de R$ 160.

 
Alguns analistas projetam que a próxima Pnad Contínua anual, sobre 2022, mostrará uma redução no número de famílias em extrema pobreza, devido à criação do Auxílio Brasil e ao aumento do valor do benefício para R$ 600 de agosto a dezembro deste ano.

Um estudo apresentado na última sexta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao governo federal, estima que haverá queda da extrema pobreza no País de 2021 para 2022, de 6% para 4% das famílias.

Em que pese a importância da redução no número de famílias em situação de extrema pobreza, esse efeito é temporário porque a majoração do valor do Auxílio Brasil, cujo intuito é comprar votos, termina em 31 de dezembro. A partir dessa data, o benefício volta ao valor de R$ 400.

Recorde da série

O estudo identificou que, de 2020 para 2021, mais de 3,8 milhões de brasileiros residentes nas metrópoles entraram em situação de pobreza. Em 2012, o número de moradores de metrópoles em situação de pobreza era de 12,6 milhões, ou 16% da população – quase oito pontos percentuais a menos do que em 2021.

As maiores taxas de pobreza foram registradas nas regiões metropolitanas do Norte e Nordeste. Com exceção de Fortaleza e Natal, o percentual da população nessa situação em 2021 superou um terço, e ultrapassou 40% nas regiões metropolitanas da Grande São Luís e de Manaus.

A pobreza extrema também registrou recorde histórico em 2021, e alcançou 5,3 milhões de pessoas no conjunto das regiões metropolitanas analisadas, ou 6,3% da sua população. Mais da metade desse universo, ou 3,1 milhões de pessoas, caiu à situação de extrema pobreza nos últimos sete anos, e 1,6 milhões delas apenas em 2021.

Quase 40% da população brasileira, ou mais de 80 milhões de pessoas, vivem em alguma das regiões metropolitanas do país.

 
Mais pobres perderam mais

O estudo identificou que a desigualdade de renda, medida pelo coeficiente de Gini, atingiu o maior valor da série histórica em 2021, chegando a 0,565 para o conjunto das regiões metropolitanas. Em 2014, o Gini era de 0,538.

Outra medida da desigualdade de renda, a razão de rendimentos entre os 10% do topo e os 40% da base da distribuição de renda, chegou a 19,1. Isso indica que os 10% mais ricos ganhavam, em média, 19,1 vezes mais do que os 40% mais pobres. Essa foi a maior razão de rendimento médio da série histórica.

O rendimento médio domiciliar per capita para o conjunto das regiões metropolitanas, em 2021, alcançou o menor valor da série histórica: R$ 1.698. O mesmo ocorreu com os rendimentos médios segundo os estratos de renda: os 10% do topo da distribuição apresentaram rendimento médio de R$ 7.582,75, o estrato dos 50% intermediário apresentaram rendimento médio de R$ 1.562,55 e o estrato dos 40% na base da distribuição de renda apresentaram rendimento médio de R$ 396,10.

Na comparação entre 2014 e 2021, todos os estratos de renda apresentaram redução do seu nível de rendimento médio, porém o estrato de menor renda foi o que teve a queda mais expressiva no conjunto das regiões metropolitanas: os 40% mais pobres tiveram queda de 23,1% em seus rendimentos nesse período. (Com agências de notícias)


Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.