Agora é que a bola rola

(*) Carlos Brickmann

1954: A Seleção brasileira que disputou a Copa na Suíça estava entupida de cartolas que viviam do futebol. Todos falavam só português. Eram fascinados por um imaginário Brasil-potência – pois não é que viram por lá até uma empresa brasileira, a Nestlé? O Brasil precisava empatar com a Iugoslávia, mas lutou para vencer. Esfalfou-se sem entender o que diziam os iugoslavos, que o empate era bom para os dois. Exausta, a Seleção brasileira tomou de 4×2 da espetacular Seleção húngara. E voltou para casa.

2022: A Comissão do Esporte da Câmara Federal montou um escrete de parlamentares “para monitorar o Brasil na Copa”. Onze Excelências, com 11 suplentes, vão viajar quando quiserem de Brasília para onde quiserem, acompanhando a Seleção. Suas Excelências entendem tudo sobre levar a bola, roubá-la do adversário, receber assistências; quando tomam bola nas costas, logo a guardam nas cuecas. E, disciplinados, não se desgastam dando tostão no rival. É injusto chamá-los de cartolas: são mesmo é colarinhos.

O grupo foi proposto pelo deputado baiano José Rocha (União). Quem o oficializou foi o presidente da Comissão do Esporte, Delegado Pablo, União – Amazonas. O melhor são as explicações: desde 2002, quando ganhou seu quinto título mundial, o Brasil só chegou a uma semifinal, em 2014, e tomou os 7×1 da Alemanha.

Como o futebol tem função social indiscutível e é uma paixão nacional, Suas Excelências vão ajudar a Seleção. Agora vai!

Justo ele?

Quem explicou o notável trabalho que Suas Excelências farão na Seleção foi o Delegado Pablo, que disse tudo sobre a importância do trabalho dos Colarinhos na recuperação do escrete nacional. O Delegado Pablo é representante do Amazonas, talvez o único Estado brasileiro em que o futebol não seja o esporte preferido.

Nobel furando o teto

Os líderes, claro, são os filhos do presidente Jair Bolsonaro; o meio, claro, é uma campanha nas redes sociais. O objetivo é exigir que o Prêmio Nobel seja concedido a Paulo Guedes. Eduardo Bolsonaro escreveu no Twitter: “Já tinha nome consolidado e estabilidade financeira, mas juntou-se a Bolsonaro e pegou o Brasil na pior crise política, ética e econômica de sua história. Some a isso uma pandemia e uma guerra. Não restam quaisquer dúvidas quanto ao gestor que melhor tem conseguido sucesso ao administrar uma economia em estresse”.

Flávio Bolsonaro publicou um emoji de foguete.

Palavras são palavras

Não vai dar certo: os membros da Academia de Ciências da Suécia, que escolhe o premiado, não leem tuítes em português. Segundo, ninguém pode ser escolhido por seu trabalho de gestão, mesmo que se inventem sucessos à vontade. O Nobel é escolhido entre especialistas que idealizaram estudos ou projetos de relevância para a economia. E, escolhidos os trabalhos a destacar, só então a Academia é informada de quem são os autores.

Pistolão não funciona, seja de quem for – mesmo um liten banan, sueco para “bananinha”.

Trump na mira

O FBI ocupou por várias horas a casa do ex-presidente Donald Trump em Mar-a-Lago, na Florida. O objetivo era encontrar registros oficiais da Casa Branca, incluindo papéis sigilosos, no período em que Trump foi presidente, e que não estão no local previsto. Trump diz que há perseguição política e que chegaram a abrir o cofre de sua casa. As suspeitas são de que 15 caixas estejam em poder do ex-presidente.

Há versões (não confirmadas até o momento) de que o então presidente rasgava documentos e os atirava na privada, tanto na Casa Branca quanto em Mar-a-Lago. Caso as suspeitas sejam confirmadas, Trump estará sujeito a processo, com penas variáveis que vão de multa à inelegibilidade, ou até mesmo a prisão. Os republicanos, do mesmo partido de Trump, estão na maioria a seu lado. Mas há republicanos ligados ao Lincoln Project (Lincoln, que venceu a Guerra Civil, era republicano e até hoje simboliza o partido) que já disseram publicamente que o ex-presidente deve ser responsabilizado pela invasão do Capitólio, em 6 de janeiro deste ano, como parte da “conspiração para se manter no poder” após perder a disputa para Biden.

Dinheiro entra

A partir de agora, vale tudo para as eleições. O Auxílio Brasil de R$ 600, o vale-gás, o auxílio-caminhoneiro e o auxílio-taxista já entram na conta dos beneficiários. Na opinião dos governistas, os auxílios diversos ajudarão Bolsonaro a crescer nas pesquisas eleitorais.

Cartas em jogo

Amanhã, três documentos em defesa da democracia e das eleições: a Carta aos Brasileiros; o documento da Fiesp; o manifesto pró-democracia e em defesa das urnas eletrônicas da OAB. Há também a carta de advogados bolsonaristas criticando o Supremo.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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