Há no Brasil quem ainda demonstra indignação com as transações imobiliárias do clã Bolsonaro e seus agregados, muitas das quais levadas a cabo com dinheiro em espécie. Após matéria de autoria dos jornalistas Thiago Herdy e Juliana Dal Piva, da “Folha de S. Paulo”, a polêmica que tomou conta desta quarta-feira envolve Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro e mãe de Jair Renan.
Ana Cristina corre o risco de se tornar alvo de investigação para apurar a compra de uma mansão em Brasília, onde ela mora com o filho “04” do presidente da República. O imóvel consta na declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral pela própria Ana Cristina, que registrou candidatura a deputada distrital pelo Partido Progressista, legenda comandada por dois conhecidos próceres do malfadado Centrão, Arthur Lira e Ciro Nogueira.
Em 2021, quando Ana Cristina e Jair Renan se mudaram para a casa no Lago Sul, região nobre de Brasília, a ex-mulher do chefe do Executivo federal alegou que o imóvel era alugado. De acordo com a escritura, a mansão foi comprada em maio de 2021, por R$ 2,9 milhões, pelo corretor de imóveis Geraldo Antônio Machado.
Ao TSE, a ex-mulher de Bolsonaro, que é advogada, informou que o imóvel vale R$ 829 mil. Até o momento, não há registro de que ela tenha comprado o imóvel, de acordo com dados do 1º Ofício de Registro de Imóveis do Distrito Federal.
Ana Cristina é investigada em inquérito que apura a existência de um esquema de recolhimento de parte dos salários de servidores do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A mãe de Jair Renan foi chefe de gabinete de Carlos no período em que teria ocorrido a “rachadinha”, que sob o comando de Fabrício Queiroz teve lugar no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta transações atípicas e indícios de interposição de pessoas para a aquisição da mansão. Por outro lado, o mesmo Coaf enviou ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) relatório sobre uma empresa aberta em 2007 por Ana Cristina e que registrou na conta bancária 1.185 saques em dinheiro, no de R$ 1,15 milhão.
Para quem não se recorda, Ana Cristina Valle acusou, em 2008, Jair Bolsonaro de ter furtado um cofre que o casal mantinha em uma agência do Banco do Brasil da capital fluminense. A advogada afirmou que guardava no cofre joias avaliadas em R$ 600 mil, US$ 30 mil e mais R$ 200 mil em dinheiro vivo. Além disso, ela acusou o ex-marido de ocultar patrimônio, receber pagamentos não declarados e agir com “desmedida agressividade” no processo de separação.
De acordo com as acusações feitas por Ana Cristina à época, Bolsonaro teria omitido patrimônio durante a disputa para deputado federal nas eleições de 2006. À Justiça Eleitoral, o deputado declarou ser proprietário de um terreno, uma sala comercial, três carros e duas aplicações financeiras, que somavam, na ocasião, R$ 433.934,00.
Contudo, a ex-mulher anexou ao processo de separação uma relação de bens e a declaração do Imposto de Renda do ex-marido, segundo a qual o patrimônio incluiria também três casas, um apartamento, uma sala comercial e cinco lotes. Em valores de hoje, atualizados pelo INPC, os bens totalizariam pouco mais de R$ 10,2 milhões.
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Ana Cristina também acusou Bolsonaro de ter “próspera condição financeira” que não correspondia com os salários de deputado federal e de militar da reserva. Segundo a ex-mulher, Bolsonaro tinha uma renda mensal de R$ 100 mil. Na época, oficialmente, Bolsonaro recebia R$ 26,7 mil como deputado federal e R$ 8,6 mil como militar da reserva.
A família Bolsonaro e seus nefastos satélites, tudo indica, tornaram-se especialistas no milagre da multiplicação das cédulas, além de nutrirem certa obsessão por dinheiro espécie. Não custa lembrar que André Siqueira Valle, irmão de Ana Cristina e ex-cunhado de Jair Bolsonaro, foi demitido do gabinete do então deputado federal por descumprir o acordo para devolução de parte do salário de assessor parlamentar. André não devolveu a quantia exigida por Bolsonaro.
André Valle afirmou ter se incomodou com várias caixas de dinheiro vivo que via com frequência na casa de Bolsonaro, em um condomínio na Barra da Tijuca, no período em que conviveu com o casal.
Ademais não se pode ignorar que Fabrício Queiroz, o “faz tudo” da família presidencial, era encarregado de recolher boa parte dos salários dos funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro, quando o filho “01” exercia mandato de deputado estadual no Rio de Janeiro. Relatório do Coaf apontou movimentação atípica na conta bancária de Queiroz, que inicialmente alegou que os recursos decorriam de compra e venda de automóveis usados. Em seguida, Fabrício Queiroz disse que usava o dinheiro das “rachadinhas” para contratar cabos eleitorais.
Queiroz pagou em dinheiro vivo diversas contas de Flávio Bolsonaro, na boca do caixa, mas o presidente da República tenta normalizar o que tem indícios de crime. O “faz tudo” do clã fez 27 depósitos na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro, no total de R$ 89 mil.
Inicialmente, quando questionado sobre um depósito no valor de R$ 24.000,00 de Michele, Jair Bolsonaro alegou que se tratava de pagamento de empréstimo (R$ 40 mil) feito ao amigo de longa data e amigo de pescarias. O presidente afirmou na ocasião que o depósito foi feito na conta da esposa porque ele não tinha tempo de ir ao banco ou ao caixa eletrônico.
Não por acaso, Fabrício Queiroz, em maio de 2019, após ser diagnosticado com um tumor no intestino e operado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, pagou em dinheiro vivo a conta da internação – R$ 64.000,00. Como na órbita de Bolsonaro dinheiro em espécie abunda, Queiroz pagou, em espécie, outros R$ 60.000,00 à equipe médica e mais R$ 9.000,00 ao oncologista responsável pelo tratamento. Valor total em dinheiro: R$ 133.000,00.
Apesar desse enredo de fazer inveja a Al Capone e seus compinchas, Jair Bolsonaro ousou questionar, durante debate na Band, o ex-presidente Lula sobre corrupção nos governos petistas. Sempre dispensamos tratamento isonômico aos bandoleiros da política nacional, não importando o tamanho da roubalheira.
Em suma, Bolsonaro não tem moral para questionar ninguém acerca de corrupção. Até porque, nos bastidores, tem ex-ministro do governo revelando tudo e mais um pouco sobre esquemas de corrupção que contaram com a anuência palaciana. O UCHO.INFO teve acesso a estarrecedores relatos de pelo menos dois ex-colaboradores do governo, mas assumiu o compromisso de não revelar nomes.
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