Clã Bolsonaro comprou 25 imóveis com dinheiro vivo; questionado sobre o assunto, presidente se irrita

 
Em 1986, antes de ser preso por “transgressão grave”, acusado de “ter ferido a ética, gerando clima de inquietação no âmbito da organização militar” e “por ter sido indiscreto na abordagem de assuntos de caráter oficial”, Jair Bolsonaro afirmou ao final de artigo publicado pela revista Veja que “torna público este depoimento para que o povo brasileiro saiba a verdade sobre o que está ocorrendo”.

Na ocasião, Bolsonaro liderava um movimento que estava descontente com os salários da caserna e planejava explodir bombas nos quarteis da Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO), como forma de pressionar o comando. Em suma, tinha um plano típico de terrorista.

O desejo demonstrado por Bolsonaro à época de tornar pública a verdade parece que deixou de acompanhá-lo desde seu ingresso na política. Nesta terça-feira (30), o jornal Folha de S. Paulo e o portal UOL trazem reportagens sobre o apreço do clã Bolsonaro por adquirir imóveis com dinheiro vivo.

De acordo com matéria dos jornalistas Thiago Herdy e Juliana Dal Piva, “quase metade do patrimônio em imóveis do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e de seus familiares mais próximos foi construída nas últimas três décadas com uso de dinheiro em espécie, de acordo com levantamento patrimonial realizado pelo UOL”.

Desde os anos 1990 até hoje, Bolsonaro, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo, segundo declaração dos próprios integrantes do clã presidencial.

Quando concorreu à Presidência da República em 2018, Jair Bolsonaro ludibriou os incautos ao prometer combater a corrupção e trabalhar pelo fim da “velha política” e do “toma lá, dá cá”. O que se viu nos anos seguintes foi exatamente o contrário, confirmando nossos alertas de que Bolsonaro era o que se conhece na política como “mais do mesmo”.

Fomos duramente atacados pela horda bolsonarista, mas mantivemos nossos alertas e críticas a um embusteiro que surgiu em cena como derradeiro salvador da pátria.

 
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Só constrói patrimônio com dinheiro vivo quem age à margem da lei. Em suma, o dinheiro usado pela família Bolsonaro na compra de imóveis tem procedência ilícita. Fosse diferente, o dinheiro estaria depositado em alguma instituição financeira e devidamente declarado à Receita Federal.

Desde 2003, ao menos 25 imóveis adquiridos por membros da família Bolsonaro foram objeto de investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. Entre essas propriedades encontram-se a casa do presidente da República no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e a mansão comprada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em Brasília. Ao todo, os 25 imóveis somaram R$ 13,9 milhões (R$ 22,6 milhões, corrigidos pelo IPCA desde o momento da compra).

Nesta terça-feira, ao participar de evento em Brasília, Bolsonaro foi questionado sobre o tema e rebateu: “Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo algum imóvel, eu não sei o que está escrito na matéria… Qual é o problema?”. O presidente se descontrola quando as estripulias da família são desvendadas, mas é importante lembrá-lo que comprar imóveis com dinheiro vivo é no mínimo suspeito.

Em matéria publicada na edição de segunda-feira (29), o UCHO.INFO afirmou que o ex-presidente Lula deixou escapar a oportunidade de, quando questionado por Bolsonaro sobre corrupção, responder à altura.

Sabem os leitores que não temos políticos de estimação nem fazemos jornalismo de encomenda, mas defendemos a verdade dos fatos e a isonomia quando o assunto é corrupção. Além disso, colaboramos ativamente com a CPI dos Correios, detalhando o esquema criminoso do Mensalão, assim como fomos responsáveis por fazer, em agosto de 2005, as primeiras denúncias sobre o escândalo que depois ficou conhecido como Petrolão.

Não temos procuração para defender o ex-presidente Lula, e jamais assumiríamos esse papel, mas é importante que prevaleça a tese popular de que “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”. Uma família de políticos que adquire dezenas imóveis com dinheiro vivo não pode ser alçada ao panteão da moralidade, pelo contrário.

Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, Bolsonaro externou aos participantes do encontro seu desejo de interferir na Polícia Federal, alegando ser impossível esperar alguém “f****” sua família e amigos.

Não por acaso, as investigações sobre as “rachadinhas” foram paralisadas após interferência do governo no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Coincidência ou não, Fabrício Queiroz, operador do esquema das “rachadinhas”, foi solto e é candidato a deputado estadual na esteira de sua relação com a família Bolsonaro.


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