Bolsonaro: desrespeito e discurso de candidato em Londres; comício e bravatas em Nova York

 
Para o presidente Jair Bolsonaro não basta o vexame protagonizado em Londres, por ocasião do funeral da rainha Elizabeth II, com direito a discursos de campanha enquanto o Reino Unido estava consternado e de luto. O desrespeito de Bolsonaro com as autoridades britânicas manchou ainda mais a já desgastada imagem do Brasil no exterior.

Depois da pantomima que teve lugar em Londres, o presidente brasileiro rumou para Nova York, onde, nesta terça-feira (20), discursou na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Como sempre, Bolsonaro falou para os convertidos e abusou da mitomania, apesar do tom mais ameno que adotou, se comparado com os discursos dos anos anteriores.

Pandemia

Com a desfaçatez que lhe é peculiar e sem se preocupar com mentiras, Bolsonaro, que insistiu no negacionismo durante a pandemia do novo coronavírus, ousou afirmar: “Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da Covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos.”

O presidente, durante a mais grave crise sanitária dos últimos cem anos, discursou contra as vacinas, inclusive dificultando a compra de imunizantes, defendeu o uso de medicamentos ineficazes contra Convid-19, zombou dos que tinham dificuldade para respirar e tratou com deboche as mais de 685 mil mortes pela doença. Em suma, na ONU um delinquente intelectual tentou vender a imagem de última gênio da raça.

No quesito pandemia, Bolsonaro foi além com a enxurrada de mentiras ao dizer: “Em paralelo, lançamos um amplo programa de imunização, inclusive com produção doméstica de vacinas. Somos uma nação com 210 milhões de habitantes e já temos mais de 80% da população vacinada contra a Covid-19. Todos foram vacinados de forma voluntária, respeitando a liberdade individual de cada um”.

A produção de vacinas no Brasil aconteceu graças à iniciativa do ex-governador João Dória Júnior (PSDB), de São Paulo, que proporcionou ao Instituto Butantan a possibilidade de firmar parceria tecnológica com o laboratório chinês Sinovac para a fabricação da Coronavac. É importante lembrar que Bolsonaro afirmo, em um de seus recorrentes desvarios, que vacinas contra Covid-19 poderiam transformar o cidadão em jacaré ou desenvolver Aids.

 
Economia

Não contente com a fala desconectada da realidade, Bolsonaro resolveu discorrer sobre economia. “Da mesma forma, no terreno da economia, o Brasil traz a autoridade de um país que, em nome de um crescimento sustentável e inclusivo, vem implementando reformas para a atração de investimentos e melhoria das condições de vida de sua população”, afirmou.

“Apesar da crise mundial, o Brasil chega ao final de 2022 com uma economia em plena recuperação. Temos emprego em alta e inflação em baixa. A economia voltou a crescer. A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil, ela já começou a cair de forma acentuada”, afirmou o presidente.

“Os números falam por si só. A estimativa é de que, no final de 2022, 4% das famílias brasileiras estejam vivendo abaixo da linha da pobreza extrema. Em 2019, eram 5,1%. Isso representa uma queda de mais de 20%. O Auxílio Brasil, programa de renda mínima criado pelo meu governo, durante a pandemia, que atende 20 milhões de famílias, faz pagamentos de quase US$ 4 por dia às mesmas.”

A economia brasileira está longe de um cenário de plena recuperação. Os parcos lampejos de melhora ocorrem porque o governo federal atropelou a legislação e a Constituição ao turbinar o Auxílio Brasil até 31 de dezembro e criar benefícios pontuais, os quais valem até a mesma data. Além disso, o governo tirou dos Estados recursos provenientes do ICMS sobre combustíveis. Tudo porque Bolsonaro pretendia reduzir os índices de rejeição nas pesquisas eleitorais.

Corrupção

Como se fosse o símbolo da probidade nacional, Bolsonaro não se incomodou em falar sobre corrupção, algo que ocorre de forma institucionalizada no governo federal. “No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país. Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político em e desvios chegou à casa dos US$ 170 bilhões.”

Bolsonaro deveria ter deixado a bisonharia de lado e mencionado o escândalo envolvendo a compra de vacinas contra Covid-19; o esquema de corrupção no Ministério da Educação, onde pastores, que contavam com seu apoio, cobravam propina para que prefeituras tivessem acesso a recursos oficiais; o criminoso orçamento secreto, que comprou o apoio do Centrão; a compra de uma mansão em Brasília por Flávio Bolsonaro.

 
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Meio Ambiente

Na seara do meio ambiente, Bolsonaro não se fez de rogado e avançou na seara da mitomania. “Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional”, disse, como se tal declaração não fosse uma monumental bravata.

“É fundamental que, ao cuidarmos do meio ambiente, não esqueçamos das pessoas: a região amazônica abriga mais de 20 milhões de habitantes, entre eles indígenas e ribeirinhos, cuja subsistência depende de algum aproveitamento econômico da floresta. Levamos internet a mais de 11 mil escolas rurais e a mais de 500 comunidades indígenas”, declarou.

Sempre agarrado à covardia, Jair Bolsonaro omitiu o caso da exportação de madeira extraída ilegalmente da Amazônia, que teve Ricardo Salles na proa. Além disso, o presidente esvaziou financeiramente e em termos de servidores os órgãos de fiscalização ambiental, atendendo aos interesses da banda podre do agronegócio, que insiste em entoar palavras em defesa do meio ambiente.

Desde a posse de Bolsonaro, em janeiro de 2019, a média anual do desflorestamento na Amazônia brasileira aumentou em 75%, em relação à década anterior. Especialistas apontam que as queimadas são causadas, na maior parte, por fazendeiros e grileiros.

Proteção às mulheres

Como esperado, até porque seu desempenho no eleitorado feminino é pífio, Bolsonaro arriscou mentir sobre a proteção às mulheres. “Outros valores fundamentais para a sociedade brasileira, com reflexo na pauta dos direitos humanos, são a defesa da família, do direito à vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de gênero. Quero também destacar aqui a prioridade que temos atribuído à proteção das mulheres. Nosso esforço em sancionar mais de 70 normas legais sobre o tema desde o início de meu governo, em 2019, é prova cabal desse compromisso”, disse.

“Combatemos a violência contra as mulheres com todo o rigor. Isso é parte da nossa prioridade mais ampla de garantir segurança pública a todos os brasileiros. Os resultados aparecem em nosso governo: queda de 7,7% no número de feminicídios e diminuição do número geral de mortes por homicídio. Em 2017 eram 30 mortes por 100 mil habitantes. Agora são 19”.

“Trabalhamos no Brasil para que tenhamos mulheres fortes e independentes, para que possam chegar aonde elas quiserem. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, trouxe novo significado ao trabalho de voluntariado desde 2019, com especial atenção aos portadores de deficiências e doenças raras.”

Bolsonaro é o primeiro a atacar as mulheres, como fez recentemente com a jornalista Vera Magalhães, durante debate entre candidatos à Presidência da República. Seu comportamento escancaradamente misógino tem servido de combustível para apoiadores agredirem mulheres, como fez o deputado bolsonarista Douglas Garcia, que ao final de debate entre candidatos ao governo paulista atacou Vera Magalhães com ofensas. Além disso, sua família prega publicamente a submissão das mulheres, a exemplo do declarou a nora Heloísa Wolff, em evento do Partido Liberal, quando afirmou que “não existe mulher insubmissa e livre”.

Em suma, desde já relevando outras tantas bravatas destiladas na abertura da Assembleia-Geral da ONU, Bolsonaro é um mitômano contumaz que, movido pela covardia, tenta induzir o eleitor brasileiro a erro, apenas porque insiste em levar adiante o projeto de implantação de uma ditadura no País, não sem antes moldar a sociedade com base em valores retrógrados e ultraconservadores.


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