Silêncio obsequioso de Bolsonaro e mensagem de Flávio mostram que cenário de radicalismo está no radar

 
Assessores, aliados e militares palacianos de alta patente tentam convencer o presidente Jair Bolsonaro a reconhecer o quanto antes o fracasso do seu projeto de reeleição, já que foi derrotado nas urnas pelo petista Luiz Inácio da Silva. Pessoas próximas ao chefe do Executivo afirmam que ele se pronunciará em breve, mas não há garantia de que a manifestação de fato ocorra.

Mesmo que Bolsonaro reconheça a derrota, a possibilidade de um golpe, como temos anunciado, só poderá ser descartada no momento em que Lula estiver devidamente instalado no Palácio do Planalto. Até lá, o risco de um “cavalo de pau” na democracia é grande e não pode ser ignorado. Afinal, Jair Bolsonaro, como aprendiz de ditador, não aceita ser contrariado.

Fatos da política não devem ser analisados apenas a partir do que é noticiado, mas, acima de tudo, interpretado nas entrelinhas de acontecimentos e declarações. Considerando que manifestações isoladas têm um ponto de conexão e formam um desenho claro do que poderá acontecer, a chance de golpe é real.

Passadas 27 horas do anúncio do resultado da disputa presidencial, Bolsonaro continua em silêncio, isolado e arredio. Para quem na última sexta-feira (28) disse que o candidato que recebesse o maior número de votos assumiria a Presidência da República em 1º de janeiro, Bolsonaro é materialização da antítese e da farsa.

Na manhã desta segunda-feira (31), Bolsonaro deixou a residência oficial e rumou em comboio para o Palácio do Planalto, onde despachou até as 16 horas. Na sequência, depois de evitar contato com muitos aliados, retornou ao Palácio da Alvorada, onde, segundo alegou, trabalharia no texto do discurso que prometeu fazer para reconhecer a derrota. Por enquanto, mesmo com a possibilidade de golpe ainda rondando, é quase certo que a faixa presidencial será entregue a Lula pelo vice Antonio Hamilton Mourão, eleito senador pelo Rio Grande do Sul.

A primeira manifestação de um integrante do clã presidencial depois da derrota nas urnas coube à primeira-dama Michelle Bolsonaro, que usou as redes sociais para informar que ela e o presidente estão “firmes e unidos”. Tal manifestação deveu-se à informação de que ambos deixaram de seguir um ao outro no Instagram. Não é de hoje que circulam nos bastidores de Brasília informações não confirmadas de que a convivência do casal presidencial há muito não é das melhores. Contudo, isso pouco importa para a política e principalmente para o futuro do País.

 
“Conforme o Jair já explicou em várias ‘lives’, quem administra essa rede não é ele”, afirmou Michelle. “Eu e meu esposo seguimos firmes, unidos, crescendo em Deus e crescendo no melhor para o Brasil. Estaremos sempre juntos, nos amando ‘na alegria e na tristeza’. Que Deus abençoe a nossa amada Nação”, completou.

O segundo da família do presidente a se pronunciar foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha do pai. No Twitter, Flávio agradeceu aos 58,2 milhões de eleitores que confiaram voto em Bolsonaro.

“Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do Brasil”, disse Flávio, que agradeceu “a maior votação da vida” de Jair Bolsonaro, escreveu na rede social.

Cerca de uma hora depois, Flávio Bolsonaro voltou ao Twitter para mais uma mensagem: “Pai, estou contigo pro que der e vier!”. Não é preciso doses extras de raciocínio para saber que após uma derrota eleitoral o capítulo seguinte é arrumar as gavetas e limpar a escrivaninha. Para tal situação não é preciso apoio de terceiros do tipo “pro que der e vier”, por mais dolorosa que seja a derrota. Em suma, decifrando a mensagem, Flávio pode ter declarado apoio ao pai no âmbito de qualquer decisão no campo do radicalismo e do golpismo.

Informações obtidas com exclusividade pelo UCHO.INFO junto a integrantes do grupo palaciano mais próximo a Bolsonaro é que o clima no Palácio do Planalto é de funeral. Enquanto isso, outro interlocutor afirmou que nesta segunda-feira, por precaução, começou o desmonte do chamado “gabinete do ódio”, grupo não oficial comandado por Carlos Bolsonaro que se dedica à disseminação de notícias falsas contra adversários e convoca manifestações com ameaças à democracia, aos Poderes constituídos e ao Estado de Direito.

Nosso contato, que é funcionário da sede do governo, disse que o desmonte às pressas do “gabinete do ódio” possivelmente tem como objetivo não deixar digitais e rastros que possam ser identificados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.


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