Bloqueios nas estradas restam poucos, mas incentivados por Bolsonaro protestos golpistas devem continuar

 
Na noite de quarta-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro divulgou um vídeo em que pediu aos tresloucados apoiadores a desobstrução das estradas brasileiras. Quem não interpreta as declarações do presidente nas entrelinhas acreditou que a fala era uma crítica às manifestações, um reconhecimento de que o resultado da eleição foi aceito passivamente.

A teoria esdrúxula de que as eleições são fraudadas caiu por terra, em especial porque as Forças Armadas não divulgaram até o momento o relatório de monitoramento da votação no primeiro turno. Na verdade, Bolsonaro proibiu a divulgação pelo fato de que os militares não encontraram qualquer irregularidade no processo eleitoral.

Após 72 horas da confirmação do resultado da eleição presidencial pelo TSE, Jair Bolsonaro se viu obrigado a divulgar o vídeo para, sonhando com o impossível, evitar que o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o bolsonarista Silvinei Vasques, seja alvo de ação penal.

O Ministério Público Federal (MPF) solicitou abertura de inquérito para apurar a conduta de Silvinei no segundo turno das eleições e no trabalho de desobstrução das rodovias. Com tantos problemas enfrentados pelos brasileiros que tiveram violado o direito de ir e vir, é impossível não indiciar criminalmente o diretor da PRF.

O que se viu nos últimos dias em muitas rodovias foi a aquiescência criminosa de policiais rodoviários com o movimento de caminhoneiros, o qual foi planejado antes do segundo turno e contou com aporte financeiro de empresários bolsonaristas, que já estão na mira das autoridades e sendo investigados.

 
Como é de conhecimento dos leitores, Bolsonaro, em pronunciamento no Palácio da Alvorada na terça-feira (1), ao lado de um séquito de ministros e aduladores, não reconheceu publicamente a derrota, apenas agradeceu aos 58,2 milhões de eleitores que lhe confiaram o voto. Há uma distância sideral entre reconhecer o resultado das eleições e agradecer aos eleitores.

Em esforço interpretativo bisonho, muitos entenderam que a declaração do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) de que o processo de transição aconteceria dentro da legalidade e seria tratado com a equipe designada por Lula foi um reconhecimento enviesado da derrota. Prova maior de que Bolsonaro não aceita a derrota é a decisão sobre quem entregará a faixa presidencial o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Outra questão que levou Bolsonaro a divulgar o vídeo, no melhor estilo “Zelensky tupiniquim”, é que os efeitos dos bloqueios rodoviários na economia foram sentidos quase que imediatamente. Dezenas de milhares de litros de leite se perderam por causa da obstrução das estradas, supermercados enfrentaram desabastecimento e em alguns estados foram registrados problemas na entrega de combustível. Em um país onde pessoas guerreiam contra a fome, a perda de milhares de litros de leite é crime.

Para completar o caos, além do campo econômico, várias pessoas perderam tratamento médico contra doenças graves e sessões de hemodiálise, ao menos um parto ocorreu à beira da estrada, um coração deixou de ser transplantado por causa da confusão provocada pelos bolsonaristas, medicamentos e vacinas deixaram de ser produzidas devido aos congestionamentos nas rodovias.

Bolsonaro sabe que para tentar se manter na política precisa deixar o Palácio do Planalto pela porta da frente, algo que com os eventos dos últimos dias tornou-se improvável. Insistir nas manifestações golpistas seria suicídio político, mesmo que ele não reconheça o resultado da eleição.

Para concluir, o presidente em nenhum momento se preocupou de fato com o direito de ir e vir dos cidadãos, mas com a própria reputação, que no terreno da coerência jamais foi das melhores. A declaração de que é preciso cumprir a Constituição é bamboleio discursivo de quem é contra a democracia e o Estado de Direito. Em outras palavras, o golpista tentou vender aos incautos a imagem “paz e amor”.


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