A democracia brasileira continua ameaçada e o País está à deriva desde o anúncio do resultado da eleição presidencial, na noite de 30 de outubro passado. Afinal, Bolsonaro, que não sabe lidar com o contraditório, permanece enfurnado no Palácio da Alvorada sob a desculpa de repentina erisipela, processo infeccioso tratável e que não impede que a pessoa trabalhe e cumpra seus compromissos.
Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorioso das urnas na esteira da esperança de que o Brasil volte a ser respeitado no cenário internacional e a população desassistida saia dos bolsões de miséria.
A reinserção do Brasil no cenário global e a retomada do crescimento econômico depende também das questões ambientais, que no momento são discutidas no escopo da Conferência da Organização das Nações Unidas para mudanças climáticas (COP 27), realizada na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh.
Que Lula tem bom trânsito entre líderes internacionais todo brasileiro coerente sabe, mas sua presença na COP 27 é passível de questionamentos. O petista deveria ter participado virtualmente do evento, deixando para Marina Silva representar o próximo governo, já que é reconhecida internacionalmente pela defesa do meio ambiente.
No momento em que o País enfrenta uma enxurrada de incertezas sobre como atuará o próximo governo, Lula poderia estar no Brasil conversando com representantes dos mais diversos setores para conter ou minimizar, de alguma maneira, as especulações, muitas das quais têm agitado o mercado financeiro.
Não temos procuração para defender Lula, mesmo que tivéssemos não nos cabe tal papel, mas somos livres e independentes para criticá-lo, assim como seus assessores e aduladores de plantão.
A questão da chamada PEC da Transição, que busca deixar fora do teto de gastos as despesas com os programas Bolsa Família e Farmácia Popular, além da merenda escolar, precisa ser discutida não apenas com a classe política, mas com economistas, em especial os que em nome da preservação declararam apoio a Lula no segundo turno. Autorização para gastar acima do teto sem prazo é o famoso tio pela culatra, pois o desequilíbrio prejudicial prejudica principalmente os mais pobres.
Analisando a crise econômica e social que se abate sobre o Brasil, algo urgente precisa ser feito para evitar que a tragédia se alastre e cresça de forma descontrolada. A reação do mercado diante da proposta de gastos da ordem de R$ 200 bilhões acima do teto, em 2023, é tecnicamente compreensível, mas em termos sociais é incompreensível.
Qualquer profissional do mercado financeiro que decidir sair do conforto de suas instalações para percorrer o interior das regiões Norte e Nordeste do Brasil certamente retornará ao ponto de partida com outra visão do País. Quem conhece tal realidade sabe da importância e da urgência dos programas sociais.
Não obstante, Lula tinha o dever de estar no Brasil dividindo com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin a coordenação da equipe de transição, que, até o momento, é um misto de arca de Noé com trem da alegria. Dos quase 300 indicados para a equipe de transição, apenas 14 são remunerados, diferentemente do que vem sendo divulgado por bolsonaristas inconformados. A equipe de transição pode ter até 50 integrantes remunerados.
Os cargos na equipe de transição são divididos em quatro categorias, de 4 a 7. Coordenador da equipe, Geraldo Alckmin é nível 7 e tem a maior remuneração – R$ 17.327,65. Na categoria 6, abaixo de Alckmin, está Floriano Pesaro, cuja remuneração é de R$ 16.944,90. Na categoria 5, com salário de R$ 13.623,39, estão Paulo Bernardo Silva, João Luiz Silva Ferreira, Márcio Fernando Elias Rosa, Miriam Belchior e Pedro Henrique Giocondo Guerra. Na categoria 4, com salário de R$ 10.373,30: José Pimentel, Cassius Antônio Rosa, Maria Helena Guarezzi, Wagner Caetano Alves de Oliveira, Daniella Fernandes Cambauva, Fábio Rafael Valente Cabral e Vinicius Carnier Colombini.
Por outro lado, indicar protagonistas de insucessos econômicos e escândalos políticos para integrar o grupo, mesmo que não remunerados, permite à opinião pública, principalmente aos que torcem contra Lula, vaticinar que o novo governo, que ainda não começou, pode fracassar. Afinal, se o presidente eleito for acomodar na estrutura do governo todos os que momentaneamente estão frequentando o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, cabide de empregos será um elogio.
Tomando por base a complexidade do momento enfrentado pelo País e por cada brasileiro, a ordem é buscar o consenso e passar uma mensagem à nação de responsabilidade social e fiscal. É importante frisar que sem o sacrifício de todos o Brasil não se livrará do cenário de terra arrasada.
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