O Brasil está mergulhado em grave crise econômica e social, mas há políticos que encontram tempo e disposição para assuntos sem conexão com a atividade parlamentar, que deveria estar voltada para as agruras enfrentadas diariamente pelos brasileiros.
A população foi surpreendida, há dias, com o anúncio de que a Americanas, uma das gigantes do varejo nacional, enfrenta rombo de R$ 20 bilhões no balanço, montante que representa dívida de aproximadamente R$ 40 bilhões.
O assunto não é novidade para o mercado financeiro, que, em tese, deveria se ater aos números do balanço da empresa. A Americanas, segundo consta, deu às dívidas bancárias uma roupagem de valores em aberto com fornecedores, o que de chofre sugere fraude, mas esse é um tema cuja decisão compete às autoridades do sistema financeiro e à Justiça.
O assunto veio à tona na última semana, depois que Sérgio Rial, que ficou no cargo de CEO da Americanas por poucos dias, pediu demissão em razão da fraude contábil. No momento em que a Americanas coloca um banqueiro (é o caso de Rial) no comando da empresa é porque algo de errado existe. No caso de alguém do mercado ter entendido como normal a dança de cadeiras no comando da varejista foi normal, que se explique a quem de direito.
Se mais de mil fundos de investimentos apostaram o dinheiro dos clientes na Americanas, os responsáveis pelo direcionamento dos recursos devem responder por seus atos, até porque espera-se de profissionais do setor doses mínimas de competência para analisar balanços financeiros. Além disso, causa espécie o fato de os bancos credores terem recepcionado o balanço financeiro da empresa sem qualquer ressalva.
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Deputado federal pelo PP do Maranhão, André Fufuca protocolou, no domingo (15), requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as inconsistências contábeis da varejista.
Como sempre afirmamos, CPIs servem, na melhor das hipóteses, como palanque político para oportunistas de ocasião. Uma eventual CPI das Americanas servirá para criar cortina de fumaça e propulsar parlamentares sem expressão no cenário político, em especial os de primeiro mandato. A nova legislatura inicia em 1º de fevereiro.
Fufuca, o autor da proposta da CPI da Americanas, acredita ser o Sancho Panza maranhense, mas na verdade está mais para Don Quixote da terra do “arroz de cuxá”. Na célebre obra de Miguel de Cervantes, Panza é sério e realista, ao passo que Quixote é sonhador e fantasioso.
Antes de enveredar por uma nova CPI, André Fufuca deveria vir a público e revelar aos brasileiros o desfecho da CPI das Próteses e das Órteses, que tramitou na Câmara dos Deputados em 2015. O relatório final da CPI, sob a responsabilidade do deputado maranhense, não pediu o indiciamento do principal envolvido no esquema criminoso.
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