Anderson Torres não descarta delação, mas deve considerar ligações do clã Bolsonaro com milicianos

 
Refugiado nos Estados Unidos desde dois dias antes do fim do mandato presidencial, Jair Bolsonaro vê o cerco ao golpismo se fechar com rapidez. Após as invasões e depredações no Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal (STF) e Congresso Nacional, levadas a cabo pelos terroristas bolsonaristas no dia 8 passado, o ex-presidente errou ao abandonar Anderson Torres, que ocupou o Ministério da Justiça em sua gestão.

Torres retornou ao Brasil após ter a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, e começa a dar sinais de que não descarta uma delação premiada. Isso porque, caso condenado, o ex-ministro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal passará longos anos atrás das grades. A situação de Torres piorou sobremaneira depois que a Polícia Federal, cumprindo mandado de busca e apreensão, encontrou em sua residência a minuta de um decreto que objetivava instalar estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Desde a fracassada tentativa de golpe, deu deixou um rastro de destruição na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e ameaçou flagrantemente a democracia brasileira, o núcleo duro do bolsonarismo passou a se preocupar com os desdobramentos das investigações e um possível acordo de colaboração premiada por parte de Anderson Torres.

O ex-ministro da Justiça, que em breve prestará depoimento às autoridades do caso, ainda sem data definida, poderá detalhar aos investigadores detalhes do plano golpista de Bolsonaro, mesmo que os filhos do ex-presidente tentem dissociá-lo da manobra criminosa, como têm feito nas redes sociais.

Como se sabe, delação é meio de produção de prova, cabendo ao delator declarar o que for passível de comprovação. Delegado Federal, Torres é experiente o suficiente para ter guardado provas que poderiam inocentá-lo em caso de fracasso do plano golpista.

 
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A grande questão envolvendo uma eventual delação premiada é que o clã Bolsonaro tem conhecidas ligações com milicianos, em especial os que atuam na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Em outras palavras, a família de Anderson Torres ingressaria no terreno da vulnerabilidade caso o acordo de colaboração se concretize.

Não se pode esquecer que ao menos dois homicídios ainda não foram esclarecidos pela Polícia Civil do Rio de Janeiro: o de Marielle Franco e o de Adriano Magalhães da Nóbrega, executado no interior da Bahia após meses em fuga. Adriano foi um dos pilares do esquema criminoso das “rachadinhas”, que funcionou de forma deliberada no gabinete do Flávio Bolsonaro, senador pelo PL fluminense.

O Partido Liberal, comandado por Valdemar Costa Neto, já cogita deixar Jair Bolsonaro à beira do caminho. Isolado na legenda e correndo o risco de se tornar inelegível, Bolsonaro pode ser expulso do PL. Prova maior desse movimento é a aproximação de alguns integrantes da cúpula do partido com o ministro Alexandre de Moraes.

Não obstante, Costa Neto não está acostumado a permanecer longo tempo longe das benesses oficiais e oficiosas do poder. Além disso, o PL precisa escapar com celeridade do cenário golpista, caso queira sobreviver como legenda.

Para piorar, Jair Bolsonaro, que está recolhido em Orlando, na Flórida e em fase depressiva, mudou o número do celular, isolando-se ainda mais de muitos aliados. O ex-presidente informou o novo número a pouquíssimas pessoas.


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