As coincidências criminosas e macabras dos gastos de Bolsonaro com o cartão corporativo

 
Revelados os gastos do ex-presidente Jair Bolsonaro e seu entourage com os malfadados cartões corporativos, os brasileiros foram tomados pela estupefação. Considerando que o valor atual do famigerado salário mínimo é R$ 1.302,00, a gastança com os cartões corporativos da Presidência da República, que chegou a R$ 75 milhões em quatro anos, é um deboche sem precedentes. Para reforçar o escárnio bolsonarista, enquanto mais de 30 milhões de brasileiros passavam fome, Bolsonaro esbanjava o dinheiro público com o cartão corporativo.

Para criticar os gastos de Bolsonaro e seus asseclas com o cartão corporativo, a imprensa brasileira tem se atido a determinadas despesas, como, por exemplo, compra de medicamentos, cosméticos, alimentação durante motociatas e hospedagens com preços exorbitantes.

Igualmente ganharam destaque os saques em dinheiro feitos por assessores presidencial, a começar pelo tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, então ajudante de ordem de Bolsonaro, pagamento de faturas em dinheiro vivo na boca do caixa e os gastos de Michelle Bolsonaro feito com cartão de crédito de uma amiga da ex-primeira-dama. O agora ex-presidente, que encontra-se refugiado nos Estados Unidos, disse que Michelle usou o cartão da amiga por falta de limite no próprio cartão.

Pagamentos suspeitos

Analisando atentamente o levantamento dos gastos feito pela agência de dados independente “Fiquem Sabendo”, algumas despesas chamam a atenção: são pagamentos idênticos no mesmo estabelecimento e no valor de R$ 9 mil, o que permite imaginar que algo errado ocorreu nessas transações. É o caso da lanchonete “Tony & Thaís”, na Zona Sul da capital paulista, que recebeu 11 pagamentos no valor de R$ 9 mil, em datas distintas, com cartão corporativo.

Tomando por base que o Banco Central do Brasil rastreia operações financeiras a partir de R$ 10 mil, as referidas despesas sugerem que alguém da confiança de Bolsonaro foi devidamente instruído a fazer vários gastos seguidos de no máximo R$ 9 mil cada.

 
Escárnio em Boa Vista

Outro gasto que chama atenção foi o feito em um simples restaurante de Boa Vista, em Roraima. Há na prestação de contas um comprovante fiscal no valor de R$ 109 mil emitido pelo restaurante “Sabor de Casa”, que fornece marmitas promocionais a R$ 20 e faz entregas. O comprovante é de 26 de outubro de 2021, quando Bolsonaro estava na cidade para verificar a situação de refugiados vindos da Venezuela. O mesmo local recebeu dois pagamentos – de R$ 28 mil e R$ 14 mil – em setembro do mesmo ano.

Por infeliz e trágica coincidência, a reserva Yanomami, onde os indígenas foram vítimas de um plano genocida gestado por Jair Bolsonaro, fica no estado de Roraima, mais precisamente na região do município de São Gabriel da Cachoeira. Indígenas morreram por desnutrição, mas Bolsonaro torrou o dinheiro público em uma compra no mínimo suspeita.

 
Hotel de luxo no Guarujá

Entre os gastos compilados no primeiro dia após a divulgação dos dados de Bolsonaro, constam pagamentos no total de R$ 1,46 milhão ao Ferraretto Hotel, no Guarujá, litoral de São Paulo, onde o agora ex-presidente costumava passar momentos de descanso.

O valor foi pago ao longo de quatro anos, dividido em ocasiões diferentes. Consultas na internet mostram que as diárias variam de R$ 436 (em promoção) a R$ 940. De tal modo, considerando um valor médio de R$ 500, o montante pago ao Ferrareto seria suficiente para mais de 2,9 mil diárias.

Segundo o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (POLOS-UFMG), o estado de São Paulo tinha 75,8 mil famílias em situação de rua cadastradas para receber benefícios sociais do governo federal em 2019. Esse número subiu para 85,9 mil em setembro de 2022.

Apenas na cidade de São Paulo, a maior do País, mais de 42 mil pessoas vivem nas ruas. Em âmbito nacional há 180 mil pessoas em situação de rua, mas esse número pode ser maior porque muitas prefeituras não fazem de forma adequada o cadastro dessas pessoas.

Enquanto isso, Jair Bolsonaro torrou o suado dinheiro do contribuinte em hospedagens, sob a desculpa de dar uma pausa em trabalho que jamais exerceu, assim como fez ao longo de sua trajetória política.

Diante desses detalhes, as autoridades têm o dever de requerer a quebra do sigilo bancário dos estabelecimentos que receberam os pagamentos no mesmo montante ou em valore discrepantes, pois é preciso saber se o dinheiro não foi sacado posteriormente e entregue a terceiros. Em caso positivo, está evidente o crime de lavagem de dinheiro.


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