Há quase 35 anos, os amantes da democracia que acompanharam o surgimento do PSDB renovaram as esperanças em relação a dias melhores. Com nomes como Mário Covas, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, entre outros, o PSDB era uma luz resplandecente no horizonte da democracia, reconquistada anos antes com o fim da facinorosa ditadura militar.
Ao longo dos anos, o PSDB foi um dos principais protagonistas da política nacional, ao mesmo tempo em que, sem perceber, enfrentou um processo de deterioração ideológica. De partido de centro-esquerda, o PSDB migrou sem cerimônia para a centro-direita, movimento que ganhou força com a chegada de João Dória Júnior ao comado do governo de São Paulo.
Em matéria publicada no dia 21 de março de 2022, quando a cúpula do partido enfrentou uma batalha no campo da escolha do candidato à Presidência da República, o UCHO.INFO afirmou que o PSDB se tornara um medíocre partido de direita e estava à beira de um fim melancólico. As eleições de 2022 provaram que estávamos certos, pois o PSDB encolheu de forma substancial no Congresso Nacional.
Nesta terça-feira (31), faltando menos de 24 horas para a escolha do próximo presidente do Senado Federal, o PSDB anunciou apoio ao senador eleito Rogério Marinho (PL-RN), que desde o primeiro momento aderiu ao governo golpista de Jair Bolsonaro, a quem serviu como secretário especial da Previdência (2019 a 2020) e ministro do Desenvolvimento Regional (2020 a 2022).
Outrora filiado ao PSDB, Rogério Marinho, ao defender sua candidatura à presidência do Senado, não se avexa ao dizer que, se eleito, pretende “frear a volúpia” de Lula e defender o legado de Bolsonaro, o golpista em fuga.
Qualquer pessoa minimamente esclarecida sabe que o legado de Jair Bolsonaro é um monumental desastre, começando pela tragédia humanitária que se abate sobre o povo Yanomami, os atos golpistas de 8 de janeiro, o negacionismo criminoso durante a pandemia do novo coronavírus e caos econômico que se instalou no País. Sem contar os escândalos de corrupção nos ministérios da Saúde, Educação e Meio Ambiente.
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. O fim melancólico do PSDB, que saiu da social-democracia para se tornar um medíocre partido de direita
“Nanico moral”
Há dias, a senadora Mara Gabrilli (SP) filiou-se ao PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, após de 19 anos de militância no PSDB. Ao justificar a mudança de partido, Gabrilli disse que o PSDB é um “nanico moral”.
Para uma legenda que se notabilizou pela defesa da democracia e cujos integrantes históricos combateram a ditadura militar, o PSDB é um cadáver político que busca uma tumba com dimensões apropriadas para abrigar a soberba de muitos de seus filiados.
Os tucanos perderam a vergonha ao se bandearem para o lado de Jair Bolsonaro, sem deixar explícito o apoio que representou uma afronta à democracia e aos direitos humanos. O simples fato de o PSDB ter silenciado diante do desmonte da Comissão de Anistia, processo liderado por Bolsonaro e levado a cabo por Damares Alves e seus capachos.
Escândalos de corrupção
Muitos casos de corrupção envolvendo o PSDB caíram no esquecimento, mas apoiar um candidato como Rogério Marinho é debochar daqueles que de maneira inocente acreditaram em um partido político que desmorona com o passar dos dias.
Em abril de 2022, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu manter uma ação penal contra Rogério Marinho por peculato (apropriação de bem público). O caso envolve a contratação de funcionários fantasmas na Câmara Municipal de Natal, entre 2005 e 2007 – período em que o agora senador bolsonarista ocupou a presidência da Casa Legislativa.
A investigação começou a partir de uma lista apreendida durante operação policial. O documento listava cerca de 900 pessoas que teriam cargos na Câmara Municipal da capital potiguar.
A defesa de Marinho apresentou recurso ao STJ, rejeitado por unanimidade pela Sexta Turma. Os ministros seguiram o voto da relatora, Laurita Vaz. A ministra defendeu que a denúncia do Ministério Público tem os elementos necessários para que a acusação seja analisada.
De acordo com a magistrada, que leu diversos trechos da acusação indicando que Marinho teria participação no esquema criminoso, “os fatos expostos demonstram que o denunciado Rogério Marinho causou prejuízo ao erário mediante inserção e manutenção de servidores fantasmas na folha de pagamento”.
“Como se vê a denúncia apresenta os elementos para tipificação do crime e demonstra o envolvimento do recorrente com os fatos delituosos. A peça acusatória relata que na qualidade de presidente teria realizado ajuste para inclusão na folha de pagamento para inserção de pessoas que não tinham vínculo”, afirmou Laurita Vaz.
A ministra do STJ ressaltou que não estava reconhecendo a culpa de Rogério Marinho e que seria “prematuro” encerrar as investigações. “Não se estar a afirmar a responsabilidade penal do recorrente. Nem é o momento. É inegável que o conjunto probatório é suficiente”.
Apoio de Sérgio Moro
Eleito senador pelo Paraná, o ex-juiz Sérgio Moro, que se jogou nos colos do bolsonarismo para ocupar o Ministério da Justiça, também declarou apoio a Rogério Marino na disputa pela presidência do Senado Federal.
Em sua conta no Twitter, Moro afirmou ser “contra radicalismos” e a “favor de uma alternativa democrática para o país”. Sérgio Moro, que sem sucesso tentou driblar a Justiça Eleitoral em São Paulo, apoiou Jair Bolsonaro em sua fracassada tentativa de reeleição, mas agora fala em “alternativa democrática”. Como sempre afirmamos, Moro é a personificação da farsa.
“Apoiarei @rogeriosmarinho para a Pres do Senado. Nada contra o Sen Rodrigo Pacheco. Meu voto será a favor da oposição firme ao Gov do PT. Sou contra radicalismos e a favor de uma alternativa democrática para o país, com economia liberal, políticas sociais e o combate à corrupção”, escreveu na rede social.
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