Senador denuncia plano golpista, muda versão após pressão dos filhos de Bolsonaro e descarta renúncia

 
Governador de Minas Gerais e senador, José de Magalhães Pinto (1909-1996) dizia: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. Em que pese o teor assertivo da histórica declaração do político mineiro, algumas mudanças repentinas são suspeitas. Isso vale para o senador Marcos do Val, que mudou a versão sobre o plano golpista de Jair Bolsonaro, que continua refugiado em Orlando, no estado americano da Flórida.

O senador Marcos Do Val (Podemos-ES) revelou que, durante reunião no Palácio da Alvorada, ouviu do ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) uma proposta golpista, que contou com a aquiescência do então presidente da República, que ao longo do mandato ameaçou a democracia em diversas ocasiões.

Após telefonemas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), os filhos “01” e “03” do ex-presidente, Do Val mudou sua versão sobre a denúncia.

Agora, o senador capixaba alega que o plano golpista, na verdade, foi de Daniel Silveira, preso nesta quinta-feira (2) por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) por violar decisão judicial.

Marcos Do Val, que durante a madrugada desta quinta-feira anunciou nas redes sociais que renunciaria ao mandato parlamentar, também mudou de ideia. Afirmou que Eduardo e Flávio Bolsonaro e outros políticos com quem conversou o convenceram a não renunciar.

Na denúncia original, detalhada pela revista Veja, Bolsonaro teria recebido Do Val em reunião no Palácio da Alvorada, ocasião em que foi apresentado o plano para gravar, sem autorização, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes. A ideia seria obter uma declaração comprometedora que pudesse resultar na desmoralização de Moraes e até mesmo em sua prisão, o que impediria a diplomação de Lula como presidente.

 
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Na nova versão, Do Val diz que a proposta não partiu de Bolsonaro, mas de Daniel Silveira. “O que ficou claro para mim foi o Daniel achando uma forma de não ser preso de novo, porque toda hora ele descumpria as ordens do ministro (Moraes). Ficou muito claro que ele estava num movimento de manipular e ter o presidente (Bolsonaro) comprando a ideia dele”, afirmou o senador em entrevista.

A nova declaração coincide com as falas proferidas nesta quinta-feira pelo senador Flávio Bolsonaro, para quem não há crime no caso e que a proposta partiu de Daniel Silveira.

“O presidente (Bolsonaro) estava numa posição semelhante à minha, ouvindo uma ideia esdrúxula do Daniel”, disse Do Val. “Quando a imprensa diz que ele me coagiu, isso não confere”, prosseguiu o senador desmentindo as falas feitas em live durante a madruga, quando afirmou que Bolsonaro o “coagiu para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele”.

Apesar da reviravolta, não convincente, Do Val repetiu que um aparato de inteligência, com direito a escutas e veículo oficial de captação do áudio, seria disponibilizado para auxiliá-lo na missão de incriminar Moraes. O senador não explicou quem patrocinaria a empreitada, mas sugeriu que poderia ter o envolvimento de órgãos especializados na área, que acompanhariam a operação golpista na parte externa do STF.

Do Val também negou a presença de outras pessoas na reunião, como consta na reportagem publicada pela revista Veja. Ele negou o envolvimento de militares no plano, sobretudo o de generais que atuaram no governo, como os generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos. “A reunião foi apenas eu, Silveira e Bolsonaro”, enfatizou.

Mais cedo, o ministro Alexandre Moraes autorizou a Polícia Federal (PF) a tomar o depoimento de Do Val em até cinco dias, no escopo inquérito que investiga o governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, por tentativa de golpe de Estado na esteira dos ataques às sedes dos Três Poderes, em dia 8 de janeiro.


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